quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Rosseau - bom selvagem?


texto rascunho!!!!  só citações


Discurso sobre a origem da desigualdade

Parece, à primeira vista, que os homens nesse estado, não tendo entre si nenhuma espécie de relação moral nem de deveres conhecidosnão podiam ser bons nem maus, nem tinham vícios nem virtudes, a menos que, tomando essas palavras em um sentido físico, se chamem vícios, no indivíduo, as qualidades que podem prejudicar a sua própria conservação, e virtudes as que podem contribuir para essa conservação. Nesse caso, seria preciso chamar de mais virtuoso aquele que menos resistisse aos simples impulsos da natureza. Mas, sem nos desviarmos do sentido comum, vem a propósito suspender o juízo que poderíamos fazer de tal situação e desconfiar dos nossos preconceitos até que, balança na mão, se tenha examinado se há mais virtudes do que vícios entre os homens civilizados ou se suas virtudes são mais vantajosas do que os seus vícios funestos, ou se o progresso dos seus conhecimentos é uma compensação suficiente dos males que se fazem mutuamente à medida que se instruem sobre o bem que se deveriam fazer ou se não estariam, afinal de contas, em uma situação mais feliz não tendo nem mal que temer nem bem que esperar de ninguém do que estando submetidos a uma dependência universal e obrigados a tudo receber daqueles que não se obrigam a lhes dar coisa alguma.

Não vamos, principalmente concluir com Hobbes que, por não ter nenhuma idéia de bondade, o homem seja naturalmente mau; que seja vicioso, porque não conhece a virtude; que recuse sempre aos seus semelhantes serviços que não acredita serem do seu dever; ou que, em virtude do direito que se atribui com razão às coisas de que tem necessidade, imagine loucamente ser o único proprietário de todo o universo.

...

Não creio ter contradição alguma que temer concedendo ao homem a única virtude natural que o detrator mais extremado das virtudes humanas é forçado a reconhecer. Refiro-me à piedade, disposição conveniente a seres tão fracos e sujeitos a tantos males como nós; virtude tanto mais universal quanto mais útil ao homem que precede nele ao uso de toda reflexão, e tão natural que os próprios animais dão, às vezes, sinais sensíveis dela; sem falar da ternura das mães pelos filhos e dos perigos que afrontam para defendê-los, observamos todos os dias a repugnância que têm os cavalos em pisar um corpo vivo. Um animal não passa sem inquietação perto de um animal morto de sua espécie: alguns lhes dão mesmo uma espécie de sepultura; e os tristes mugidos do gado, ao entrar no matadouro, anunciam a impressão que ele recebe do horrível espetáculo que o comove. Vê-se, com prazer, o autor da Fábulas das Abelhas, forçado a reconhecer o homem como um ser compassivo e sensível, sair, no exemplo que dá do seu estilo frio e sutil, para nos oferecer a patética imagem de um homem fechado que percebe, fora, uma besta feroz arrebatando uma criança do seio da mãe, quebrando com os dentes assassinos os seus frágeis membros e despedaçando com as unhas as entranhas palpitantes dessa criança. Que horrível agitação experimenta a testemunha de um acontecimento no qual não tem nenhum interesse pessoal! que angústia não sofre ao ver tal coisa, sem poder socorrer a mãe desfalecida ou a criança em agonia! Tal é o puro movimento da natureza, anterior a toda reflexão; tal é a força da piedade natural, que os costumes mais depravados ainda têm dificuldade em  estruir, pois vemos todos os dias, nos nossos espetáculos, toda a gente se  enternecer e chorar pelas desgraças de um infeliz, como se estivesse cada qualno lugar do tirano e agravasse ainda mais os tormentos do seu inimigo: como o sanguinário Sila, tão sensível aos males que não causara, ou Alexandre de Feras, que não ousava assistir à representação de nenhuma tragédia, com medo de que o vissem gemer com Andrômaca e Priamo, enquanto escutava sem emoção os gritos de tantos cidadãos que se degolavam todos os dias por sua ordem. É, pois, bem certo que piedade é um sentimento natural, que, moderando em cada indivíduo a atividade do amor de si mesmo, concorre para a conservação mútua de toda a espécie. É ela que nos leva sem reflexão em socorro daqueles que vemos sofrer; é ela que, no estado de natureza, faz as vezes de lei, de costume e de virtude, com a vantagem de que ninguém é tentado a desobedecer à sua doce voz; é ela que impede todo selvagem robusto de arrebatar a uma criança fraca ou a um velho enfermo sua subsistência adquirida com sacrifício, se ele mesmo espera poder encontrar a sua alhures; é ela que, em vez desta máxima sublime de justiça raciocinada, Faze a outrem o que queres que te façam, inspira a todos os homens esta outra máxima de bondade natural, bem menos perfeita, porém mais útil, talvez, do que a precedente: Faze o teu bem com o menor mal possível a outrem. Em uma palavra, é nesse sentimento natural, mais do que em argumentos sutis, que é preciso buscar a causa da repugnância que todo homem experimentaria em fazer mal, mesmo independentemente das máximas da educação.

 Hobbes não viu que a mesma causa que impede os selvagens de usar a razão, como o pretendem os nossos jurisconsultos, impede-os também de abusar das suas faculdades, como ele próprio o pretende; de sorte que se poderia dizer que os selvagens não são maus, precisamente porque não sabem o que é ser bom. Com efeito, não é nem o desenvolvimento das luzes, nem o freio da lei, mas a calma das paixões e a ignorância do vício que os impedem de fazer mal: Tanto plus in illis proficit vitiorum ignoratio, quam in his cognitio virtutis. Aliás, há outro princípio que Hobbes não percebeu e que, tendo sido dado ao homem para suavizar em certas ocasiões a ferocidade de seu amor próprio ou o desejo de se conservar antes do nascimento desse amor (15), tempera o ardor que ele tem por seu bem-estar com uma repugnância inata de ver sofrer seu semelhante...  Discurso sobre a origem  e os fundamentos da desigualdade entre os homens


O primeiro que, tendo cercado um terreno, se lembrou de dizer: Isto é meu, e encontrou pessoas bastantes simples para o acreditar, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil.

Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não teria poupado ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou tapando os buracos, tivesse gritado aos seus semelhantes: "Livrai-vos de escutar esse impostor; estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos, e a terra de ninguém !". Parece, porém, que as coisas já tinham chegado ao ponto de não mais poder ficar como estavam: porque essa idéia de propriedade, dependendo muito de idéias anteriores que só puderam nascer sucessivamente, não se formou de repente no espírito humano: foi preciso fazer muitos progressos, adquirir muita indústria e luzes, transmiti-las e aumentá-las de idade em idade, antes de chegar a esse último termo do estado de natureza. Retomemos, pois, as coisas de mais alto, e tratemos de reunir, sob um só ponto-de-vista, essa lenta sucessão de acontecimentos e de conhecimentos na sua ordem mais natural.

O primeiro sentimento do homem foi o de sua existência; o seu primeiro cuidado,o de sua conservação. As produções da terra lhe forneciam todos os socorros necessários; o instinto o levou a fazer uso delas. A fome, outros apetites, fazendo-o experimentar, alternativamente, diversas maneiras de existir, houve uma que o convidou a perpetuar a sua espécie; e esse pendor cego, desprovido de todo sentimento de coração, não produzia senão um ato puramente animal: satisfeita a necessidade, os dois sexos nunca mais se reconheciam e o próprio filho nada mais representava para a mãe logo que podia passar sem ela.

Tal foi a condição do homem ao nascer; tal foi a vida de um animal, limitada primeiro às puras sensações e aproveitando apenas os dons que lhe oferecia a natureza, longe de pensar em lhe arrancar alguma coisa. 

Mas, logo, surgiram dificuldades; foi preciso aprender a vencê-las: a altura das árvores que o impedia de alcançar os frutos, a concorrência dos animais que também procuravam nutrir-se, a ferocidade dos que queriam a sua própria vida, tudo o obrigou a aplicar-se aos exercícios do corpo; foi preciso tornar-se ágil, rápido na carreira, vigoroso no combate. As armas naturais, que são os galhos das árvores e as pedras, em breve estavam nas suas mãos. Aprendeu a vencer os obstáculos da natureza, a combater quando necessário os outros animais, a disputar sua subsistência aos próprios homens, ou a se compensar do que era preciso ceder ao mais forte.

A medida que o gênero humano se estendia, as penas se multiplicavam com os homens. A diferença dos terrenos, dos climas, das estações, forçou-os a estabelecê-la na maneira de viver. Anos estéreis, invernos longos e rudes, verões escaldantes, que tudo consomem, exigiram deles uma nova indústria. Ao longo do mar e dos rios, inventaram a linha e o anzol, e se tornaram pescadores e ictiófagos. Nas florestas, fizeram arcos e flechas, e se tornaram caçadores e guerreiros. Nos países frios, cobriram-se de peles de animais por eles mortos. O trovão, um visão, ou qualquer feliz acaso, lhes fez conhecer o fogo, novo recurso contra o rigor do inverno: aprenderam a conservar esse elemento, depois a reproduzi-lo, e enfim a preparar nele as carnes, que antes devoravam cruas.

Essa aplicação reiterada de seres diversos a si mesmos e de uns aos outros teve, naturalmente, de engendrar, no espírito do homem, as percepções de certas relações. Essas relações, que exprimimos pelas palavras grande, pequeno, forte, fraco, depressa, devagar, medroso, ousado, e outras idéias semelhantes, comparadas quando necessário, e quase sem nisso pensar, produziram nele, finalmente, uma espécie de reflexão, ou antes, uma prudência maquinal que lhe indicava as precauções mais necessárias à sua segurança. 

As novas luzes que resultaram desse desenvolvimento aumentaram a sua superioridade sobre os outros animais, fazendo-lhe conhecê-la. Exercitou-se em lhes preparar armadilhas, logrou-os de mil maneiras; e, embora muitos o ultrapassassem em força no combate, ou em ligeireza na corrida, daqueles que o podiam servir ou prejudicar, tornou-se com o tempo o senhor de uns e o flagelo de outros. E, assim, o primeiro olhar que lançou sobre si mesmo lhe produziu o primeiro movimento de orgulho; assim, mal sabendo ainda distinguir as ordens e contemplando-se como o primeiro por sua espécie, preparava-se já para pretender o mesmo como indivíduo.

Embora os seus semelhantes não fossem para ele o que são para nós, e embora não tivesse mais comércio com eles do que com os outros animais, não foram esquecidos nas suas observações. As semelhanças que o tempo lhe pode fazer perceber entre eles, sua fêmea é ele mesmo, lhe fizeram julgar das que não percebia; e, vendo que todos se conduziam como teria feito ele próprio em circunstâncias semelhantes, concluiu que a sua maneira de pensar e de sentir era inteiramente conforme à sua. E, essa importante verdade, bem estabelecida em seu espírito, lhe fez seguir, por um pressentimento tão seguro e mais pronto do que a dialética, as melhores regras de conduta que, para sua vantagem e segurança, lhe convinha observar para com eles.

Instruído pela experiência de que o amor do bem-estar é o único móvel das ações humanas, achou-se em estado de distinguir as raras ocasiões em que o interesse comum lhe devia fazer contar com a assistência dos seus semelhantes, e as mais raras ainda em que a concorrência lhe devia fazer desconfiar deles. No primeiro caso, unia-se a eles em rebanho, ou quando muito por uma espécie de associação livre que não obrigava a ninguém e que só durava enquanto havia a necessidade passageira que a havia formado. No segundo, cada qual procurava tirar suas vantagens, ou pela força aberta, se acreditava poder, ou pela astúcia e sutileza, se se sentia mais fraco.

Eis como os homens puderam, insensivelmente, adquirir uma idéia grosseira dos compromissos mútuos e da vantagem de os cumprir, mas somente na medida em que podia exigi-lo o interesse presente e sensível; porque a previdência nada era para eles; e, longe de se ocuparem com um porvir afastado, nem mesmo pensavam no dia seguinte. Se se tratava de pegar um veado, cada qual sentia bem que, para isso, devia ficar no seu posto; mas, se uma lebre passava ao alcance de algum, é preciso não duvidar de que a perseguia sem escrúpulos e, uma vez alcançada a sua presa, não lhe importava que faltasse a dos companheiros.

É fácil compreender que tal comércio não exigia uma linguagem mais refinada do que a das gralhas ou a dos macacos que se reúnem em bandos mais ou menos semelhantes. Gritos inarticulados, muitos gestos e alguns ruídos imitativos deviam compor, durante muito tempo, a língua universal; acrescentem-se a isso, em cada região, alguns sons articulados e convencionais, cuja instituição, como já disse, não é muito fácil explicar, e temos línguas particulares, mas grosseiras, imperfeitas e mais ou menos como as que ainda hoje têm diversas nações selvagens.

Percorri, como um traço, multidões de séculos, forçado pelo tempo que se escoa, pela abundância das coisas que tenho que dizer e pelo progresso quase insensível dos começos; porque, quanto mais lentos em se suceder eram os acontecimentos, tanto mais estão prontos para serem descritos.

Esses primeiros progressos colocaram, finalmente, o homem ao alcance de os fazer mais rápidos. Quanto mais o espírito se esclarecia, tanto mais a indústria se aperfeiçoava. Logo, deixando de adormecer na primeira árvore, ou de se retirar nas cavernas, encontraram-se certas espécies de machados de pedras duras e afiadas que serviram para cortar a madeira, cavar a terra e fazer cabanas de galhos, que ocorreu, em seguida, endurecer com argila e barro. Foi a época de uma primeira revolução que formou o estabelecimento e a distinção das famílias e que introduziu uma espécie de propriedade, de onde já nasceram, talvez, muitas rixas e combates. Entretanto, como os mais fortes foram, provavelmente, os primeiros a fazer alojamentos que se sentiam capazes de defender, é de se acreditar que os fracos tenham achado mais simples e mais seguro imitá-los do que tentar desalojá-los: e, quanto aos que já tinham cabanas, cada qual pouco procurou apropriar-se da do vizinho, menos porque lhe não pertencia do que lhe era inútil, não podendo apossar-se dela sem se expor a um combate muito vivo com a família que a ocupava.

Os primeiros desenvolvimentos do coração foram o efeito de uma situação nova que reunia em uma habitação comum os maridos e as mulheres, os pais e os filhos. O hábito de viver coletivamente fez nascer os mais doces sentimentos conhecidos dos homens: o amor conjugal e o amor paternal. Cada família se torna uma pequena sociedade tanto mais unida quanto o apego recíproco e a liberdade eram os seus únicos laços; e foi então que se estabeleceu a primeira diferença na maneira de viver dos dois sexos, que, até então só tinham tido uma.

As mulheres tornaram-se mais sedentárias e se acostumaram a guardar a cabana e os filhos, enquanto o homem ia procurar a subsistência comum. Os dois sexos começaram também, por uma vida um pouco mais suave, a perder alguma coisa da sua ferocidade e do seu vigor. Mas, se cada um, separadamente, se tornou menos capaz de combater os animais selvagens, em compensação foi mais fácil reunirem-se para lhes resistir em comum.

Nesse novo estado, com uma vida simples e solitária, necessidades muito limitadas e os instrumentos que haviam inventado para as prover, os homens, gozando de bastante lazer, empregaram-no em procurar várias comodidades desconhecidas dos seus pais; e foi o primeiro jugo que se impuseram sem pensar e a primeira fonte de males que prepararam para os seus descendentes; porque, além de continuarem assim a languescer o corpo e o espírito, tendo essas comodidades, com o hábito, perdido quase todo o seu encanto e, ao mesmo tempo, degenerando em verdadeiras necessidades, a privação delas se tornou muito mais cruel do que doce era a sua posse; e, infeliz por tê-las perdido, não se era feliz possuindo-as. Aqui se pode ver, um pouco melhor, como o uso da palavra se estabeleceu ou se aperfeiçoou insensivelmente no seio de cada família, e pode conjecturar-se ainda como diversas causas particulares puderam desenvolver a linguagem e lhe acelerar o progresso, tornando-a mais necessária. 

Grandes inundações ou terremotos cercaram de águas ou de precipícios cantões habitados; revoluções do globo desarticularam e cortaram em ilhas porções do continente. Concebe-se que, entre homens assim aproximados e forçados a viver juntos, havia de se formar um idioma comum, antes do que entre os que erravam livremente nas florestas da terra firme. Assim, é muito possível que, após seus primeiros ensaios de navegação, os insulares nos tenham trazido o uso da palavra; e é, pelo menos, muito verossímil que a sociedade e as línguas tenham nascido das ilhas e nelas se aperfeiçoado antes de serem conhecidas no continente. Tudo começa a mudar de face. Os homens, até então errantes nos bosques, tendo agora situação mais fixa, aproximando-se lentamente, reúnem-se em diversos grupos e formam, enfim, em cada região, uma nação particular, unida pelos costumes e pelos caracteres, não pelos regulamentos e pelas leis, mas pelo mesmo gênero de vida e pelos alimentos, e pela influência comum do clima. Uma vizinhança permanente não pode deixar de engendrar, enfim, alguma ligação entre diversas famílias.

Jovens de diferentes sexos habitam cabanas vizinhas; o comércio passageiro que a natureza exige logo conduz a outro não menos doce e mais permanente pela mútua frequentação. Adquire-se o hábito de considerar diferentes objetos e compará-los; adquirem-se, insensivelmente, idéias de mérito e de beleza, que produzem sentimentos de preferência. À força de se ver, não se pode mais passar sem se ver ainda. Um sentimento terno e doce se insinua na alma e, pela menor oposição, se transforma em furor impetuoso: o ciúme desperta com o amor, a discórdia triunfa, e a mais doce das paixões recebe sacrifícios de sangue humano.


A medida que as idéias e os sentimentos se sucedem, que o espírito e o coração se exercitam, o gênero humano continua a se domesticar, as ligações se estendem e os laços se apertam. Adquire-se o hábito de se reunir diante das cabanas ou em torno de uma grande árvore: o canto e a dança, verdadeiros filhos do amor e da ociosidade, tornam-se divertimento, ou antes, ocupação dos homens e das mulheres ociosos e agrupados. Cada um começa a olhar os outros e a querer ser olhado por sua vez, e a estima pública tem um preço. Aquele que canta ou dança melhor, o mais belo, o mais forte, o mais destro ou o mais eloqüente, torna-se o mais considerado. E foi esse o primeiro passo para a desigualdade e para o vício, ao mesmo tempo: dessas primeiras preferências nasceram, de um lado, a vaidade e o desprezo e, de outro, a vergonha e a inveja; e a fermentação causada por esses novos fermentos produziu, enfim, compostos funestos à felicidade e à inocência.

Logo que os homens começaram a se apreciar mutuamente, e que a idéia da consideração se formou em seu espírito, cada um pretendeu ter direito a ela, e não foi mais possível faltar com ela impunemente a ninguém. Daí surgiram os primeiros deveres de civilidade, mesmo entre os selvagens; e daí, toda falta voluntária tornou-se um ultraje, porque, com o mal que resultava da injúria, o ofendido via nela também o desprezo à sua pessoa, muitas vezes mais insuportável do que o próprio mal. Foi assim que, punindo cada qual o desprezo que se lhe testemunhara de maneira proporcionada ao juízo que de si mesmo fazia, as vinganças se tornaram terríveis, e os homens sanguinários e cruéis. 

Eis, precisamente, o grau a que tinham chegado a maior parte dos selvagens que nos são conhecidos; e, foi por não terem distinguido suficientemente as idéias e notado como esses povos já estavam longe do primeiro estado de natureza, que muitos se apressaram em concluir que o homem é naturalmente cruel e tem necessidade de polícia para abrandá-lo; ao passo que não há nada tão doce como ele em seu estado primitivo, quando, colocado pela natureza a distâncias iguais da estupidez dos brutos e das luzes funestas do homem civilizado, e limitado, igualmente, pelo instinto e pela razão, a se preservar do mal que o ameaça, é impedido pela piedade natural de fazer mal a quem quer que seja, não sendo por nada levado a isso, mesmo depois de o ter recebido. Porque, segundo o axioma do sábio Locke, não pode haver injúria onde não há propriedade.

Mas, é preciso notar que a sociedade começada e as relações já estabelecidas entre os homens exigiam neles qualidades diferentes das que tinham em sua constituição primitiva; que a moralidade, começando a se introduzir nas ações humanas, e cada um, antes das leis, sendo único juiz e vingador das ofensas recebidas, a bondade conveniente ao puro estado de natureza não era mais a que convinha à sociedade nascente; que era preciso que as punições se tornassem mais severas à medida que as ocasiões de ofender se tornassem mais freqüentes; e que ao terror das vinganças cabia fazer as vezes do freio das leis. Assim, embora os homens se tivessem tornado menos tolerantes, e a piedade natural já tivesse sofrido certa alteração, esse período do desenvolvimento das faculdades humanas, guardando um justo meio entre a intolerância do estado de natureza e a petulante atividade de nosso amor-próprio, devia ser a época mais feliz e mais durável. Quanto mais se reflete sobre isso, mais se acha que esse estado, era o menos sujeito às revoluções, o melhor para o homem (16), e do qual ele só teve de sair por um funesto acaso, que, para a utilidade comum, nunca teria devido verificar-se, O exemplo dos selvagens, que estiveram quase todos nesse estado parece confirmar que o gênero humano fora feito para nele ficar sempre; que foi essa a verdadeira juventude do mundo, e que todos os progressos ulteriores foram, aparentemente, outros tantos passos para a perfeição do indivíduo, mas, de fato, para a decrepitude da espécie.

Enquanto os homens se contentaram com as suas cabanas rústicas, enquanto se limitaram a coser suas roupas de peles com espinhos ou arestas de pau, a se enfeitarem com plumas e conchas, a pintar o corpo de diversas cores, a aperfeiçoar ou embelezar os seus arcos e flechas, a talhar com pedras cortantes algumas canoas de pesca ou grosseiros instrumentos de música; em uma palavra, enquanto se aplicaram exclusivamente a obras que um só podia fazer, e a artes que não necessitavam o concurso de muitas mãos, viveram livres, sãos, bons e felizes ,tanto quanto podiam ser pela sua natureza, e continuaram a gozar entre si das doçuras de uma convivência independente. 

Mas, desde o instante que um homem teve necessidade do socorro de outro; desde que perceberam que era útil a um só ter provisões para dois, a igualdade desapareceu, a propriedade se introduziu, o trabalho tornou-se necessário e as vastas florestas se transformaram em campos risonhos que foi preciso regar com o suor dos homens, e nos quais, em breve, se viram germinar a escravidão e a miséria, a crescer com as colheitas.

A metalurgia e a agricultura foram as duas artes cuja invenção produziu essa grande revolução. Para o poeta, foram o ouro e a prata; mas, para o filósofo, foram o ferro e o trigo que civilizaram os homens e perderam o gênero humano.

Tanto um como o outro eram desconhecidos dos selvagens da América, os quais, por isso, sempre ficaram como tais; os outros povos parece mesmo que continuaram bárbaros enquanto praticaram uma dessas artes sem a outra. E uma das melhores razões, talvez, por que a Europa foi, se não mais cedo, pelo menos mais constantemente e melhor policiada de que as outras partes do mundo, é que ela é, ao mesmo tempo, a mais abundante em ferro e a mais fértil em trigo. É muito difícil conjecturar como os homens chegaram a conhecer e empregar o ferro; porque não é crível que tenham imaginado por si mesmos tirar a matéria da mina e lhe dar as preparações necessárias para a pôr em fusão antes de saber o que disso resultaria. Por outro lado, pode-se tanto menos atribuir essa descoberta a algum incêndio acidental quanto as minas só se formam em lugares áridos e desnudados de árvores e de plantas. Dir-se-ia que a natureza tomara precauções para nos ocultar esse fatal segredo. Não resta, pois, senão a circunstância extraordinária de algum vulcão que, vomitando matérias metálicas em fusão, teria dado aos observadores a idéia de imitar essa operação da natureza; ainda é preciso supor muita coragem e previdência para empreender um trabalho tão penoso, e considerar de tão longe as vantagens que daí podiam tirar; mas, isso só pode acontecer a espíritos que já estiveram mais exercitados do que os que eles deviam ter.

Quanto à agricultura, o seu princípio foi conhecido muito tempo antes da sua prática estabelecida, e não é possível que os homens, sem cessar ocupados em tirar sua subsistência das árvores e das plantas, não tivessem bastante prontamente a idéia dos caminhos que a natureza emprega para a geração dos vegetais. Mas, sua indústria só se voltou, provavelmente, muito tarde para esse lado, ou porque as árvores que, com a caça e a pesca, proviam à sua nutrição, não tinham necessidade dos seus cuidados, ou por não conhecerem o uso do trigo, ou por não terem instrumentos para o cultivar, ou por falta de previdência em relação à necessidade futura, ou, finalmente, por faltarem os meios para impedir os outros de se apropriarem do fruto do seu trabalho. 

Tornados mais industriosos, pode-se acreditar que, com pedras agudas e paus pontudos, começaram cultivando alguns legumes ou raízes em torno das suas cabanas muito tempo antes de saberem preparar o trigo e de terem instrumentos necessários para a cultura em grande escala: sem contar que, para se entregar a essa ocupação e semear a terra, é preciso se resolver, primeiro, a perder alguma coisa para ganhar muito em seguida: precaução que estava muito distante do expediente do homem selvagem, que, como já disse, tinha muita dificuldade em pensar de manhã nas necessidades da noite,

A invenção das outras artes foi, pois, necessária para forçar o gênero humano a se aplicar à da agricultura. Desde que eram precisos homens para fundir e forjar o ferro, eram necessários outros para nutrir os primeiros. Quanto mais se multiplicava o número de operários, tanto menos eram as mãos encarregadas de prover à subsistência comum, sem que houvesse menos bocas para consumir; e, como uns precisavam de comestíveis em troca do seu ferro, os outros acharam enfim o segredo de empregar o ferro na multiplicação dos comestíveis. Daí nasceram, de um lado, a lavoura e a agricultura, e, de outro, a arte de trabalhar os metais e de muitiplicar-lhe os usos.

Da cultura das terras resulta necessariamente a sua partilha, e, da propriedade, uma vez reconhecida, as primeiras regras de justiça: porque, para dar a cada um o seu, é preciso que cada um possa ter alguma coisa; de resto, como os homens começassem a levar suas vistas para o futuro, vendo todos que tinham alguns bens que perder, não houve nenhum que não receasse para si a represália dos males que pudesse causar a outrem. Essa origem é tanto mais natural quanto é impossível conceber a idéia da propriedade surgindo fora da mão de obra; porque não se vê o que, para se apropriar das coisas que não fez, possa o homem acrescentar-lhe além do seu trabalho. Só o trabalho, dando direito ao cultivador sobre o produto da terra que lavrou, lho dá por conseguinte sobre o fundo, pelo menos até à colheita, e assim todos os anos; e isso, constituindo uma posse contínua, transforma-se facilmente em propriedade. Quando os antigos, diz Grotius, deram a Ceras o epíteto de legisladora, e a uma festa celebrada em sua honra o nome de tesmofória, fizeram entender, por isso, que a partilha das terras produziu uma nova espécie de direito, isto é, o direito de propriedade, diferente do que resulta da lei natural. Nesse estado, as coisas poderiam ter ficado iguais, se os talentos fossem iguais, e se, por exemplo, o emprego do ferro e o consumo dos alimentos tivessem feito sempre uma balança exata: mas, a proporção que ninguém mantinha foi logo rompida: o mais forte fazia mais tarefa; o mais destro tirava melhor partido da sua; o mais engenhoso encontrava meios de abreviar o trabalho; o lavrador tinha mais necessidade de ferro, ou o ferreiro mais necessidade de trigo; e, trabalhando igualmente, um ganhava muito, enquanto outro mal podia viver. 

É assim que a desigualdade natural se desenvolve insensivelmente com a de combinação, e que as diferenças dos homens, desenvolvidas pelas das circunstâncias, se tornam mais sensíveis, mais permanentes nos seus efeitos, e começam a influir na mesma proporção sobre a sorte dos particulares. Tendo as coisas chegado a esse ponto, é fácil imaginar o resto. Não me deterei em descrever a invenção sucessiva das outras artes, o progresso das línguas, a prova e o emprego dos talentos, a desigualdade das fortunas, o uso e o abuso das riquezas, nem todos os detalhes que seguem estes, e que cada um pode facilmente suprir. Limitar-me-ei tão somente a relancear a vista pelo gênero humano colocado nessa nova ordem e coisas. Eis, pois, todas as nossas faculdades desenvolvidas, a memória e a imaginação em jogo, o amor-próprio interessado, a razão tornada ativa, e o espírito chegado quase ao termo da perfeição de que é suscetível. Eis todas as qualidades naturais postas em ação, o lugar e a sorte de cada homem estabelecidos, não somente sobre a quantidade dos bens e o poder de servir ou de prejudicar, mas sobre o espírito, a beleza, a força ou a habilidade, sobre o mérito ou os talentos; e, sendo essas qualidades as únicas que podiam atrair a consideração, logo foi preciso têlas ou afetá-las. Foi preciso, para vantagem própria, mostrar-se diferente daquilo que se era de fato. Ser e parecer tornaram-se duas coisas inteiramente diferentes; e, dessa distinção, surgiram o fausto imponente, a astúcia enganadora e todos os vícios que constituem o seu cortejo. Por outro lado, de livre e independente que era o homem outrora, ei-lo, por uma multidão de novas necessidades, submetido, por assim dizer, a toda a natureza e, principalmente, a todos os seus semelhantes, dos quais se torna escravo em certo sentido, mesmo tornando-se seu senhor: rico, tem necessidade dos seus serviços, pobre, tem necessidade de seu auxílio; e a mediocridade não o põe em estado de passar sem eles. É preciso, pois, que procure sem cessar interessá-los por sua sorte, e fazer-lhes encontrar, de fato ou em aparência, o próprio proveito em trabalhar para o dele: isso o torna velhaco e artificioso com uns, imperioso e duro com outros, e o põe na necessidade de abusar de todos aqueles de que precisa, quando não pode se fazer temer, e quando não é do seu interesse servi-los utilmente. Enfim, a ambição devoradora, o ardor de fazer fortuna relativa, menos por verdadeira necessidade do que para se colocar acima dos outros, inspira a todos os homens uma negra tendência a se prejudicarem mutuamente, uma inveja secreta tanto mais perigosa quanto, para dar o golpe com mais segurança, toma muitas vezes a máscara de benevolência; em uma palavra, concorrência e rivalidade de uma parte, e, de outra, oposição de interesses, e sempre o desejo oculto de tirar proveito à custa de outrem: todos esses males constituem o primeiro efeito da propriedade e o cortejo inseparável da desigualdade nascente.  Discurso sobre a origem  e os fundamentos da desigualdade entre os homens. Segunda Parte





Os homens são maus, uma triste e contínua experiência dispensa a prova; entretanto, o homem é naturalmente bom, creio havê-lo demonstrado. Que será, pois, que o pode ter depravado a esse ponto, senão as mudanças sobrevindas na sua constituição, os progressos que fez e os conhecimentos que adquiriu? Que se admire quanto se queira a sociedade humana, não será menos verdade que ela conduz necessariamente os homens a se odiar entre si à proporção do crescimento dos seus interesses, a se retribuir mutuamente serviços aparentes, e a se fazer efetivamente todos os males imagináveis. Que se pode pensar de um comércio em que a razão de cada particular lhe dita máximas diretamente contrárias àquelas que a razão pública prega ao corpo da sociedade, e em que cada um tira os seus lucros da desgraça do outro? N ...


Depois de haver provado que a desigualdade é apenas sensível no estado de natureza, sendo a sua influência quase nula, resta-me mostrar sua origem e seus progressos nos desenvolvimentos sucessivos do espírito humano. Depois de haver mostrado que a perfectibilidade, as virtudes sociais e as outras faculdades que o homem natural recebera em potencial, jamais podiam desenvolver-se por si mesmas, que para isso tinham necessidade do concurso fortuito de muitas causas estranhas, que poderiam não nascer nunca, e sem as quais é preciso ficar eternamente na sua condição primitiva, resta-me considerar e aproximar os diversos acasos que puderam aperfeiçoar a razão humana deteriorando a espécie, tornar um ser mau fazendo-o social e, de um termo tão distante, conduzir enfim o homem e o mundo ao ponto em que os vemos....


De todos os atributos da Divindade toda poderosa, a bondade é aquele sem o qual menos se poderia concebê-la. Todos os povos que admitiram dois princípios sempre encaram o mau como inferior ao bom; sem o que teriam feito uma suposição absurda. Emilio livro 1


Antes da idade da razão, fazemos o bem e o mal sem o saber; e não há moralidade em nossas ações embora haja por vezes no sentimento das ações de outrem em relação a nós. Uma criança quer desmantelar tudo o que vê: parte, quebra tudo o que pode alcançar; pega um passarinho como pegaria uma pedra e o estrangula sem saber o que está fazendo Emilio livro 1

E como me provareis que essas más tendências de que a pretendeis curar não lhe vêm de vossos cuidados mal entendidos, muito mais que da natureza? livro 2


Que saiba que o homem é naturalmente bom e julgue o próximo por si mesmo; mas que veja como a sociedade deprava e perverte os homens; que encontre nos preconceitos deles a fonte de todos os seus vícios; que seja levado a estimar cada indivíduo mas que despreze a multidão; que veja que todos os homens usam mais ou menos a mesma máscara, mas que saiba também que há rostos mais belos do que a máscara que os cobre.  Emílio

O princípio fundamental de toda moral sobre o qual raciocinei em todos os meus escritos e que desenvolvi neste último com toda a clareza de que era capaz, é de que o homem é um ser naturalmente bom, amando a justiça e a ordem; que não há perversidade original no coração humano e que os primeiros movimentos da natureza são sempre retos. Fiz ver que a única paixão que nasce com o homem, a saber, o amor de si, é uma paixão em si mesma indiferente ao bem e ao mal. (...) Nesse estado, o homem só́ conhece a si mesmo; ele não vê seu bem-estar oposto nem conforme ao de ninguém; não odeia nem ama nada; limitado exclusivamente ao instinto físico, é nulo, é animal; foi o que fiz ver em meu Discurso sobre a desigualdade. (ROUSSEAU, 2005, pp. 48-49) 

Carta a Christophe de Beaumont e outros escritos sobre a religião e a moral. Trad. José Oscar de Almeida Marques et al. São Paulo: Estação Liberdade, 2005.

“Tudo está bem quando sai das mãos do Autor de todas as coisas, tudo degenera nas mãos dos homens” (ROUSSEAU, 1999, p. 7)35 .

________. Emílio ou da educação. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes. 1999.

Deus é inteligente; mas como o é? O homem é inteligente quando raciocina, e a suprema Inteligência não precisa raciocinar; não há para ela nem premissas nem consequências, não há sequer proposição: ela é puramente intuitiva, vê igualmente tudo o que é e tudo o que pode ser; todas as verdades não são para ela senão uma só ideia, como todos os lugares um só ponto e todos os tempos um só momento. O poder humano age por meios, o poder divino age por si mesmo. Deus pode porque quer; sua vontade faz seu poder. Deus é bom; nada é mais evidente: mas a bondade no homem é o amor a seus semelhantes e a bondade de Deus é o amor à ordem; por que é pela ordem que ele mantém o que existe e liga cada parte ao todo. Deus é justo; estou convencido disso, é uma consequência de sua bondade; a injustiça dos homens é sua própria obra e não dele; a desordem moral que depõe contra a Providência aos olhos dos filósofos, não faz senão a demonstrar aos meus. Mas a justiça dos homens é de devolver a cada um o que lhe pertence e a justiça de Deus é de pedir a cada um que preste contas do que ele lhe deu. Emilio


Confesso também que a majestade das Escrituras me espanta, que a santidade do Evangelho me comove. Vede os livros dos filósofos com toda a sua pompa: como são pequenos ao lado daquele! Será possível que um livro a um tempo tão sublime e tão simples seja obra dos homens? Será possível que aquele cuja história conta seja ele próprio um homem?

Tem-se nele o tom de um entusiasta ou de um sectário ambicioso? Que doçura, que pureza em seus costumes! Que graça comovedora em suas instruções! Que elevação em suas máximas! Que profunda sabedoria em suas palavras! Que presença de espírito, que finura, que justeza em suas respostas! Que domínio sobre suas paixões! Onde o homem, o sábio que sabe agir, sofrer e morrer sem fraqueza e sem ostentação? Quando Platão pinta seu justo imaginário, coberto com todo o opróbrio do crime e digno de todos os prêmios da virtude, pinta traço por traço Jesus Cristo: a semelhança é tão impressionante que todos os Pais da Igreja a sentiram, e que não é possível enganar-se. Que preconceitos, que cegueira é preciso ter para comparar o filho de Sophronisque ao filho de Maria! Que distância de um a outro! Sócrates morrendo sem dor, sem agonia, sustentou facilmente até o fim seu personagem; e se essa morte fácil não tivesse honrado sua vida, duvidar-se-ia que Sócrates, com todo seu espírito fosse outra coisa que um sofista. Inventou, dizem, a moral; outros antes dele a tinham posto em prática; não fez senão dizer o que esses tinham feito, não fez senão pôr em lições os exemplos deles. Aristides fora justo antes que Sócrates dissesse o que era a justiça; Leônidas morrera por seu país antes que Sócrates fizesse um dever do amor à pátria; Esparta era sóbria antes que Sócrates tivesse louvado a sobriedade; antes que houvesse definido a virtude, os homens virtuosos abundavam na Grécia. Mas onde Jesus tirara, dentre os seus, essa moral elevada e pura de que só ele deu lições e exemplos?31 Do seio do mais furioso fanatismo, a mais alta sabedoria fez-se ouvir; e a simplicidade das mais heroicas virtudes honrou o mais vil de todos os povos. A morte de Sócrates, filosofando tranquilamente com seus amigos, é a mais suave que se possa desejar; a de Jesus, expirando em meio a tormentos, injuriado, zombado, amaldiçoado por todo um povo, é a mais horrível que se possa temer. Sócrates pegando a taça de veneno, abençoa quem lha apresenta e que chora; Jesus no meio de um suplício horroroso reza por seus carrascos encarniçados. Sim, se a vida e a morte de Sócrates são de um sábio, a vida e a morte de Jesus são de um Deus. Diremos que a história do Evangelho foi inventada por prazer? Meu amigo, não é assim que se inventa; e os fatos de Sócrates, de que ninguém duvida, são menos atestados que os de Jesus Cristo. No fundo, é afastar a dificuldade sem a destruir. Seria mais inconcebível que vários homens de comum acordo tivessem fabricado esse livro, que o fato de um só ter fornecido o assunto. Nunca os autores judeus teriam encontrado nem esse tom nem essa moral; e o Evangelho tem traços de verdade tão grandes, tão impressionantes, tão perfeitamente inimitáveis, que seu inventor seria mais espantoso do que o herói. Com tudo isso, esse mesmo Evangelho está cheio de coisas incríveis que ferem a razão e que um homem sensato não pode conceber nem admitir. Que fazer em meio a todas essas contradições? Ser sempre modesto e circunspecto, meu filho; respeitar em silêncio o que não se pode rejeitar, nem compreender, e humilhar-se diante do grande Ser, o único que sabe a verdade.

sexta-feira, 16 de junho de 2023

Erros de Nietzsche baseados em pressupostos científicos, filológicos e bíblicos equivocados. Teoria das Forças, vontade de potência e decadência.



Nietzsche não se interessa pela verdade metafísica do Cristianismo ou de qualquer outra religião; convencido de que nenhuma religião é realmente verdadeira, julga todas as religiões exclusivamente pelos seus efeitos sociais. Concorda com os filósofos quanto ao que se refere à submissão à suposta vontade de Deus, mas ele não a substituiria pela vontade dos “artistas tiranos” terrenos. A submissão é licita, salvo para os super-homens, mas não a submissão ao Deus cristão. Quanto ao fato de as Igrejas cristãs «serem aliadas dos tiranos e inimigas da democracia», isso, diz ele, constitui o verdadeiro reverso da verdade. A Revolução Francesa e o socialismo são, segundo ele, essencialmente idênticos, quanto ao espírito, ao Cristianismo; a tudo isso se opõe, e pela mesma razão: que ele não tratará todos os homens como iguais sob nenhum aspecto....O Budismo e o Cristianismo, diz ele, são ambas duas religiões “niilistas”, no sentido de que negam qualquer diferença última de valor entre um homem e outro, mas o Budismo é a menos refutável das duas. O Cristianismo é degenerador, cheio de elementos excrementícios e decadentes; sua força propulsora é a rebelião dos esfarrapados.

 

Esta revolta começou com os judeus e foi trazida ao Cristianismo pelos “santos epiléticos” como São Paulo, que não tinham honestidade. “O Novo Testamento é o evangelho de uma classe de homem completamente ignóbil”. O Cristianismo é a mentira mais fatal e sedutora que já existiu. Nenhum homem notável se pareceu jamais ao ideal cristão; considere-se, por exemplo, os heróis da Vidas de Plutarco. O Cristianismo deve ser condenado por negar o valor do “orgulho, o sentimento das distâncias, a grande responsabilidade, o entusiasmo exuberante, os instintos da guerra e da conquista, a deificação da paixão, a vingança, a cólera, a voluptuosidade, a aventura, o conhecimento”. Todas estas coisas são boas, e todas elas são consideradas más pelo  Cristianismo — diz Nietzsche....

Em lugar do santo cristão, Nietzsche deseja ver o que chama de homem “nobre” — não um tipo universal, mas um aristocrata dominador. O “nobre” será capaz de cometer crueldade e, por vezes, o que é em geral considerado crime; só reconhecerá ter deveres para com seus iguais. Protegerá artistas e poetas e todos os que porventura tiverem algum talento, mas apenas na condição de alguém que pertence a uma ordem superior à dos que só sabem fazer algo. A exemplo dos guerreiros, aprenderá a associar a morte aos interesses por que está lutando; a sacrificar multidões; a levar suficientemente a sério a própria causa, a ponto de não poupar ninguém; a praticar uma disciplina inexorável; e a permitir-se a violência e a esperteza na guerra. Reconhecerá também o papel que desempenha a crueldade na excelência aristocrática: “Quase tudo o que denominamos ‘cultura superior’ baseia-se na espiritualização e na intensificação da crueldade.” Em essência, o “nobre” é a encarnação da vontade de poder.  Bertrand Russel. História da Civilização Ocidental

1- Teoria das Forças  - Lamarakismo- Desejo de potência- A luta cósmica- antidemocracia- eugenia- aristocracia-
Nietzsche leu obras sobre física, fisiologia, biologia, medicina de sua época, a partir delas desenvolveu sua filosofia do desejo de potência que por sua vez o levou a defender doutrinas como:
  • todo o universo é uma luta , onde forças lutam entre si, tecidos e órgãos lutam entre si, pensamentos, pulsões lutam entre si e disso vem a hierarquia,: senhores e escravos, fracos e fortes,  vencedores e derrotados, etc. (ver também resposta 26)
  •  transmissão  hereditária de modificações adiquiridas...um hábito mantido por muito tempo se torna um instinto hereditário (Lamarkismo)
  • toda forma de alívio do sofrimento diminui a luta e gera seres fracos, logo a compaixão gera a decadência  do desejo de potência
  • a moral dos derrotados (escravos) de ver ser destruída e outra moral deve advir de indivíduos aristocráticos, os novos filósofos severos e inflexíveis
  • não há espaço para democracia, igualdade, socialismo, liberalismo
  • Nietzsche julga as pessoas, e em especial os filósofos e Jesus como portadores de doenças relacionadas à fisiologia
"Temos que ter em mente que o filósofo solitário valoriza a fisiologia e as demais ciências para propor novas 'leis da vida e do agir' Dicionário Nietzsche. São Paulo: Loyola, 2016,p. 53
Na tentativa de resolver um dos problemas candentes da ciência da época, Nietzsche se dedica a examinar como se dá a passagem da matéria inerte à vida. Em escritos posteriores Assim falava Zaratustra, ele elabora a teoria das forças.. Com ela, é levado a ampliar o conceito de vontade de potênciaquando foi introduzido operava apenas no âmbito orgânico; a partir de agora, passa a atuar em tudo que existe. A vontade de potência aparece então como força eficiente. Querendo vir- a ser-mais-forte, a força esbarra em outras que a ela resistem; é inevitável a luta- por mais potência. A cada momento as forças relacionam de modo diferente, dispõem-se de outra maneira; a todo instante,  a vontade de potencia, vencendo resistências, se autosupera, nessa superação de si, faz surgir novas formas.  Enquanto força eficiente é pois força plástica, criadora. è o que revela a própria expressão vontade de potência (wille zur Macht): o termo wille entendido enquanto disposição, tendência, impulso e Macht associado ao verbo machenfazer, produzir, formar efetuar, criar. A vontade de potência é o impulso de toda força a efetivar-se e, com isso criar novas configurações com as demais.....isso não quer dizer que a vontade de potencia seja uma substancia ou uma espécie de sujeito; tão pouco significa que constitui um ente metafísico ou um princípio transcendente. Qualidade de todo acontecer, ela diz respeito ao efetivar-se das forças. Mais próximo da arché dos pré-socráticos que da entelechéia de Aristóteles. o conceito nietzschiano de vontade de potência constitui um dos principais pontos de ruptura em relação á tradição filosófica p. 425

"postula a existência de uma pluralidade de forças presentes em toda parte, agindo e resistindo uma às outras. O caráter essencialmente dinâmico da força impede que ela não se exerça; seu querer-vir-a-ser-mais impede que cesse o combate. O mundo apresenta como pleno vir a ser mais como pleno vir-a-ser...Se nada é senão vir-a-ser, então o mudo não teve início e não terá fim,...Nietzsche concebe o mundo como eterno... O mundo é um processo...totalidade interconectada de quanta dinâmicos, ou se quiser, de campos de força instáveis e, permanente tensão. o mundo não é governado por leis, não cumpre finalidades, não se acha submetido  a um poder transcendente- e mais, sua coesão não é garantida por substância alguma. Se permanece uno, é porque as forças múltiplas, estão todas interrelacionadas. p. 239-240

 "... teoria das forças...No âmbito cosmológico, ele postula a existência de forças dotadas de querer interno, que se exercem em toda potencia." p. 413

"As noções de psicologia e de decadência que perpassam Crepúsculo dos ídolos, como também o Caso Wagner, estão sob a influencia de leituras nietzschianas da psicologia francesa (Théodule Ribot, Charles Feré e dos autores que aparecem nas páginas da Revue philosophique de la France et de  l´ Étranger), e de outros franceses, como Paul Bourget e Charles Baudelaire. Nesse contexto, a psicologia nietzschiana é propriamente uma psicofisiologia, ou seja, a análise de sintomas, ou seja,  da relação que as produções humanas estabelecem com a vida: uma investigação a a partir da interpretação do homem como um conjunto de impulsos em luta por mais potencia. A investigação psicológica nietzschiana coloca-se  como antagonista da moral vigente, das virtudes estabelecidas e da metafísica tradicional, pois não se baseia na dualidade de opostos qualitativos absolutos, como corpo e alma ou bem e mal , mas no pressuposto do estado fisiológico, ou melhor, na dinâmica da vontade de potência. p. 80

"Em o problema de Sócrates, a configuração fisiológica decadente de Sócrates (anarquia dos instintos) é a mesma de todos os filósofos que avaliaram que a vida não vale nada, o que quer dizer praticamente toda a tradição ." p. 81

 "20. Às vezes, o recurso precipitado à fisiologia faz de Nietzsche um crítico por demais irreverente: ele identifica Pascal como hipocondríaco, refere-se a Espinosa como tísico, suspeita que Rousseau e Schopenhauer eram doentes do coração e considera Wagner uma anomalia fisiológica (cf. respectivamente Cl, Os quatro grandes erros, § 6, GC § 349, A § 538 e CW § 7). Mas talvez seja justamente essa irreverência que o tome atraente para tantos  Das forças cósmicas aos valores humanos. Scarlett Marton São Paulo:Brasiliense, 1990, p. 94 

 "Nietzsche possuía em sua biblioteca ou provavelmente leu fisiologistas como Jean Martin Charcot, Gustav Theodor Fechner, Hermann von Helmholtz, Wilhelm Wundt, entre muitos outros... Dicionário Nietzsche. São Paulo: Loyola, 2016,p. 237
...fisiológico é o relativo ao corpo ou a unidade orgânica. É nesse sentido que ,por vezes, coincide as palavras 'biológico' e 'fisiológico'...Há um uso da palavra 'fisiologia' que é propriamente nietzschiano e ocorre no contexto da doutrina da vontade de potencia; ele está fortemente ligado à noção da doutrina da vontade de potência; ele está ligado á noção de fisiopsicologia; processos fisiológicos enquanto luta de quanta de potencia (impuslos ou forças) por crescimento,... p. 237
pensamentos, sentimentos, impulsos estão em franco combate, mas também células, tecidos, órgãos. Nesse momento, Nietzsche sustenta que também na vida social quanto na individual, tanto na vida mental, quanto na fisiológica, há uma única e mesma maneira de ser da vida: a luta....Coma luta , estabelecem hierarquias, a cada momento  determinam-se vencedores e vencidos, senhores e escravos, os que mandam e os que obedecem p. 412 

Enquanto vontade de potencia, a vida é mandar e obedecer; é portanto lutar. p. 413

Em termos fisiológicos a luta aparece em cada existente que se compõe desde uma multiplicidade de impulsos que se digladiam permanentemente, pois cada organismo, cada órgão mesmo, tem sua efetividade a partir da alternância entre dominação e subjugação que propriamente o mantém. Estende-se á totalidde dos organismos o fluxo do vir-a-ser expresso no jogo da alternância entre dominação e subjugação que, de fato, o constitui... Assim a luta, com conceito fundamental em Nietzsche, está presente nas relações entre os impulsos em cada homem e nas relações de disputa entre os homens, que lutam para estabelecer a hegemonia de valores e impor uma interpretação, mas nunca visando á destruição ou aniquilamento do adversário que, no limite, enquanto forte, é temido e venerado. p. 293

vontade de potência. è um sentido amplo de criação, na medida em que abarca o mundo em seu todo. O caráter básico do mundo é o caos, no sentido de acúmulo, resistência e confronto de forças. Entretanto o que sobressai nas forças em relação é a vontade incensante de criação e transmutação, no sentido de intensificação de potência. p. 161  

 Enquanto em Darwin a luta se dá pela sobrevivência, pela própria manutenção, em Nietzsche a luta se dá por dominação, por aumento de potencia...A conservação é apenas uma consequência indireta do processo de autossuperação. A luta darwiniana ocorre fundamentalmente entre organismos individuais; no entanto, para Nietzsche, ela ocorre em todas as instancias da existência: entre os seres inorgânicos, entre as menores partes dos organismos vivos e até mesmo entre povos e culturas. O movimento de vir-a-ser se dá enquanto luta por dominação  p. 176

Não haveria seleção das características vantajosas para a conservação do indivíduo: o acaso, a luta pela vida, auxilia tanto os fortes como os fracos, pois usa astúcia substitui frequentemente com vantagem a força e, além isso, os fracos são mais numerosos. Assim não haveria uma maior transmissão para a geração posterior das características mais vantajosas, mas sim das mais frequentes, o que ocorre para a manutenção de um tipo já estabelecido...

Por entender que há uma desigualdade intrínseca aos seres humanos em termos biológicos e fisiológicos, Nietzsche bem mostra que o fraco escamoteia essa desigualdade fazendo acordos de proteção sem base efetiva, ao consubstanciar a igualdade de direitos num plano suprassensível que lhe forneceria um caráter inequívoco... Assim entendendo o direito com um privilégio que os fracos se atribuem, Nietzsche observa que a igualdade de direitos suprime os direitos dos fortes.... é numa situação de desigualdade de direitos, no entender de Nietzsche, que direitos podem ser reivindicados. p. 264

Nietzsche adota um conceito lamarkiano de hereditariedade que permite a transmissão  hereditária de modificações adiquiridas...um hábito mantido por muito tempo se torna um instinto hereditário. Concebida como uma memória orgânica, a a hereditariedade significa que cada se vivo é herdeiro de todo o passado orgânico.... A finalidade do casamento é, segundo Zarastustra gerar um corpo superior àquele dos genitores, suscetível de da sentido á união parental... não se trata de reproduzir...mas de procriar, o que denotaria um avanço ou uma elevação ...Os indivíduos superiores seriam , paradoxalmente, muito menos parentados com os seus pais, pois teriam sua origem numa linhagem particularmente antiga, que acumulou forças através das gerações p. 252 

O filósofo do futuro deve ser um criador de valores, mas é preciso, primeiro, destruir as antigas tábuas de valor. p. 74

Enfatizando o caráter não natural do homem, fruto da exigência moral trazida pela domesticação, Nietzsche afasta as concepções racionalistas da moral e dedica-se á análise da moral cristã, começando pela versão kantiana. Passa na sequencia, a abordar o aspecto reativo dessa moral, enfatizando a sua raiz judaico-socrática, e  concluindo que uma vontade doente, que condena as paixões, pode vicejar em qualquer povo, cuja domesticação resulte no enfraquecimento do homem. De posse dessa caracterização da moral, Nietzsche encaminha-se para delinear o estado atual do homem europeu, que promove o enfraquecimento da vontade. Faz ver que a moral de rebanho contribui para a instauração do igualitarismo democrático e da piedade, como virtude suprema, negando por extensão, a hierarquia e o sofrimento. Considera que cabe aos novos filósofos a tarefa de trasnvalorar esses valores, proporcionando a formação outrora perdida.... Aponta para o caráter desses filósofos: severos e inflexíveis, para aguentar a grandeza, que deverá  caraceterizar suas tomadas de posição.  Indica em seguida as suas proveniências: plantas raras, indivíduos excepcionais e aristocráticos. E traz por fim sua missão: comandar e legislar...

Nietzsche investiga as condições de uma nova civilização perscrutando em pormenores a 'pequena política' - democracia, socialismo, nacionalismo etc.- para assinalar a necessidade de uma 'grande política' (a unificação europeia, a seleção de novas castas, novas tiranias etc.) para o qual a o povo alemão, em particular, malgrado sua situação decadencial, tem uma função proeminente... p. 68

 "Pensador de seu tempo, Nietzsche sempre foi um ferrenho crítico da democracia...a democracia passa a ser entendida como uma versão moderna do cristianismo, contribuindo, ao modo cristão, para o predomínio do homem fraco, temeroso diante dos desafios da vida, que procura dominar o forte não a partir de suas forças ativas, mas com o recurso a estrategemas reativos. Eliminando as diferenças constitutivas dos indivíduos,  a democracia suprime por decorrência os estado hierárquicos, que são os únicos que , da perspectiva de Nietzsche, podem fornecer um direcionamento adequado aos indivíduos p. 180,182

A aristocracia do futuro, com suas novas virtudes e características próprias, é quem poderia estabelecer o que é bom ou ruím,, enfim novos valores que brotam da vida ascendente. p. 122

Nas obras do compositor (Wagner) tornou doentes a arte e a música, Nietzsche recorre, como ilustra de modo marcante, entre outros, o quinto parágrafo a um léxico fisiológico e médico-...Nas obras do compositor , o que se vê são problemas de histéricos, afetos convulsivos e sensibilidade superexcitada; considerados como tipos fisiológicos, seus heróis e heroínas compõem uma galeria de doentes, e Wagner, ele mesmo, é uma neurose. O artista e sua arte não constituem , em suma, mais do que expressão de degenerescência fisiológica p. 77
Para o filósofo alemão, não há verdades absolutas ou fixas para serem reveladas ou desveladas, as leis  não estão na natureza esperando ser descobertas, mas são criadas pelo próprio homem. A ciência, por trás da máscara da descoberta de verdades, constrói suas verdades, ficções úteis para a sobrevivência e manutenção da espécie ou da sociedade humana... ou para que haja condições de crescimento de potência, ou seja, para autosuperação, como no contexto dos seus últimos textos. p. 142

Para Nietzsche, décadence é a desagregação dos instintos (instinkte), tanto do indivíduo quanto da cultura, os quais não podem mais encontrar condições que propiciem o crescimento de potência, pois perderam toda a capacidade de seleção, supondo que tudo se equivale, tudo é nivelado, não há um estilo próprio, e podem até mesmo aceitar o que é prejudicial ou ruim (schlecht), ou seja, o que impede o crescimento de potência. A configuração de impulsos se desfaz pro falta de um ou mais impulsos dominantes que mantenham a hierarquização...A decadência ... é um processo mórbido. Ela ´[e o processo de esgotamento ou de degeneração de toda organização potente e hierarquizada, já que esta não pode durar indefinidamente. 179
Nietzsche denuncia o caráter nocivo da compaixão, caracterizando-a como uma espécie de doença contagiosa que difunde  debilidade e desgosto. Enfim, a compaixão produziria  um efeito deprimente que faz com que a vida seja negada enquanto vida, ela produziria décadence [destruição do crescimento de potência]. ...compaixão também será compreendida como uma espécie de estrategema psicológico que é usado na defesa do fraco. Não sendo capaz de de se defender diretamente do forte, o fraco usa a compaixão como ultimo recurso para tentar comovê-lo. Nesse sentido, a compaixão assume o caráter de subterfúgio que protege  o fraco contra a opressão do forte....uma espécie de artifício que os fracos utilizam para descarregar seu ressentimento contra os fortes...os fracos obtêm sua revanche por meio de um ardil... a lógica da compaixão seria propagar o sofrimento em quem não sofre, e por esse meio, realizar a ardilosa vingança do fraco ressentido contra o forte... seria na verdade, um meio de satisfazer o desejo de crueldade que não pode ser realizado de maneira franca....a compaixão estaria enraizada na crueldade e vontade de vingança p. 148-149
Resposta:
1- O lamarckismo, herança genética dos caracteres adquiridos é uma teoria falsa, refutada pelas descobertas da genética.
2-A vontade de potencia se baseia na teoria das forças, e na verdade não existe essa luta ou confronto entre tecidos, órgãos, etc. Isso é uma ficção.
3- A compaixão existe até no mundo animal, em especial no instinto materno de afeição natural. Ela não está centrada na crueldade ou vingança, nem sempre a pessoa que se compadece exerce uma atitude de supremacia ou de exaltação do ego


2--Falsa teoria de Nietzsche sobre a Genealogia da Moral
Moral dos Escravos x Moral dos Nobres



"Que indicações fornece a ciência da linguagem, em especial a pesquisa etimológica, para a história da evolução dos conceitos morais ? Para a genealogia da moral: uma polemica (1877) Friedrich Nietzsche "Primeira dissertação-"Bom e mau" "bom e ruim"p. 18.
A indicação do caminho certo me foi dada pela seguinte questão: que significam exatamente, do ponto de vista etimológico, as designações para "bom" cunhadas pelas diversas línguas? 

Descobri então que todas elas remetem à mesma transformação conceitual - que, em toda parte, "nobre", "aristocrático", no sentido social, é o conceito básico a partir do qual necessariamente se desenvolveu "bom", no sentido de "espiritualmente nobre", "aristocrático", de "espiritualmente bem-nascido", "espiritualmente privilegiado": um desenvolvimento que sempre corre paralelo àquele outro que faz "plebeu", "comum", "baixo" transmutar-se finalmente em "ruim". O exemplo mais eloqüente deste último é o próprio termo alemão schlecht [ruim], o qual é idêntico a schlicht [simples] - confira-se schlechtweg, schlechterdings [ambos "simplesmente"] - e originalmente designava o homem simples,   Para a genealogia da moral: uma polemica (1877) Friedrich Nietzsche "Primeira dissertação -"Bom e mau" "bom e ruim" 


Com relação ao nosso problema, que por bons motivos pode ser chamado um problema
silencioso, e que de maneira exigente se dirige a bem poucos ouvidos, é de interesse nada
pequeno constatar que, nas palavras e raízes que designam o "bom", transparece ainda com freqüência a nuance cardeal pela qual os nobres se sentiam homens de categoria superior. É verdade que, talvez na maioria dos casos, eles designam a si mesmos conforme simplesmente a sua superioridade no poder (como "os poderosos", "os senhores", "os comandantes"), ou segundo o signo mais visível desta superioridade, por exemplo, "os ricos", "os possuidores" (este o sentido de arya, e de termos correspondentes em iraniano e eslavo). 

Mas também segundo um traço típico do caráter: e é este caso que aqui nos interessa. Eles se denominam, por exemplo, "os verazes"; primeiramente a nobreza grega, cujo porta-voz é o poeta Teógnis de Megara. A palavra cunhada para este fim, [bom, nobre], significa, segundo sua raiz, alguém que é3, que tem realidade, que é real, verdadeiro; depois, numa mudança subjetiva, significa o verdadeiro enquanto veraz: nesta fase da transformação conceitual ela se torna lema e distintivo da nobreza, e assume inteiramente o sentido de "nobre", para diferenciação perante o homem comum mentiroso, tal como Teógnis o vê e descreve - até que finalmente, com o declínio da nobreza, a palavra resta para designar a aristocracia espiritual, tornando-se como que doce e madura. 

Na palavra [mau, feio], assim como em [tímido, covarde] (o plebeu, em contraposição ao [bom]), enfatiza-se a covardia: isto sugere talvez em que direção se deve buscar a origem etimológica de , passível de interpretações diversas.

O latim malus (ao qual relaciono μ [negro]) poderia caracterizar o homem comum como homem de pele escura, sobretudo como de cabelos negros ("hic niger est-"),4 como habitante pré-aria no do território da Itália, que através da cor se distinguia claramente da raça loura, ariana, dos conquistadores tornados senhores; ao menos o gaélico me oferece um caso correspondente - fin (por exemplo, no nome Fin-Gal5), o termo distintivo da nobreza, por fim do homem bom, nobre, puro, originalmente o homem louro, em contraposição aos nativos de pele escura e cabelos negros.

 Os celtas, diga-se de passagem, eram sem dúvida uma raça loura; comete-se um erro, associando aquelas faixas de uma população de cabelos escuros essencialmente, que se fazem visíveis nos mais cuidadosos mapas etnográficos da Alemanha, a alguma origem ou mistura sanguínea céltica, como ainda faz Virchow6: nesses lugares aparece a população pré-ariana da Alemanha. (O mesmo é válido praticamente para toda a Europa: no essencial, a raça submetida terminou por reaver a r a preponderância, na cor, na forma curta do crânio, talvez até mesmo nos instintos sociais e intelectuais: quem nos garante que a moderna democracia, o ainda mais moderno anarquismo, e sobretudo essa inclinação pela “commune”, pela mais primitiva forma social, que é hoje comum a todos os socialistas da Europa, não signifique principalmente um gigantesco atavismo7 - e que a raça de conquistadores e senhores, a dos arianos, não esteja sucumbindo também fisiologicamente?...) Acredito poder interpretar o latim bonus como "o guerreiro", desde que esteja certo ao derivar bonus de um mais antigo duonus(compare-se belum= duelum= duen-lum, no qual me parece conservado o duonus). Bonus, portanto, como homem da disputa, da dissensão (duo), como o guerreiro: percebe-se o que na Roma antiga constituía a "bondade" de um homem. Mesmo o nosso alemão Gut [bom]: não significaria "o divino" [den Göttlichen], o homem "de linhagem divina" [göttlichen Geschlechts]? E não seria idêntico ao nome do povo (originalmente da nobreza), os godos [Goten]? Os motivos para esta suposição não cabem aqui.   Para a genealogia da moral:uma polemica (1877) Friedrich Nietzsche"Primeira dissertação-"Bom e mau" "bom e ruim" 5

Resposta:

Nietzsche comete alguns erros na sua pesquisa etimológica e além disso o erro da falácia da generalização

1- A afirmação sobre o termo verazes não é confirmada:

(3) Esta afirmação de Nietzsche não é confirmada pela moderna pesquisa etimológica. Segundo Pierre Chantraine (Dictionnaire étymologique de la langue grecque, Paris, 1968), trata-se de uma palavra arcaica de origem incerta. Para a genealogia da moral :uma polemica (1877) Friedrich Nietzsche"Primeira dissertação-"Bom e mau" "bom e ruim" Notas de Rodapé
2- A relação com  o termo malus não é comprovada
Também a relação que ele faz pouco adiante, entre a palavra latina malus e o grego meias, não é coisa estabelecida. Estas informações são cortesia da professora Anna Lia A. de Almeida Prado, do Departamento de Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (usp).  Para a genealogia da moral:uma polemica (1877) Friedrich Nietzsche"Primeira dissertação-"Bom e mau" "bom e ruim" notas de Rodapé

3- Olhando a etimologia dos termos usados por Nietzsche no hebraico (lingua dos judeus), povo a quem atribui a inversão de valores positivos por negativos vemos que a tese dele não se sustenta:


"- Já se percebe com que facilidade o modo de valoração sacerdotal pode derivar daquele cavalheiresco-aristocrático e depois desenvolver-se em seu oposto; em especial, isso ocorre quando a casta dos sacerdotes e a dos guerreiros se confrontam ciumentamente, e não entram em acordo quanto às suas estimativas. 

Os juízos de valor cavalheiresco-aristocráticos têm como pressuposto uma constituição física poderosa, uma saúde florescente, rica, até mesmo transbordante, juntamente com aquilo que serve à sua conservação: guerra, aventura, caça, dança, torneios e tudo o que envolve uma atividade robusta, livre, contente. 

O modo de valoração nobre-sacerdotal - já o vimos - tem outros pressupostos: para ele a guerra é mau negócio! Os sacerdotes são, como sabemos, os mais terríveis inimigos - por quê? Porque são os mais impotentes. Na sua impotência, o ódio toma proporções monstruosas e sinistras, torna-se a coisa mais espiritual e venenosa. Na história universal, os grandes odiadores sempre foram sacerdotes, também os mais ricos de espírito - comparado ao espírito da vingança sacerdotal, todo espírito restante empalidece. A história humana seria uma tolice, sem o espírito que os impotentes lhe trouxeram - tomemos logo o exemplo maior. 

Nada do que na terra se fez contra "os nobres", "os poderosos", "os senhores", "os donos do poder", é remotamente comparável ao que os judeus contra eles fizeram; os judeus, aquele povo de sacerdotes que soube desforrar-se de seus inimigos e conquistadores apenas através de uma radical tresvaloração9 dos valores deles, ou seja, por um ato da mais espiritual vingança. Assim convinha a um povo sacerdotal, o povo da mais entranhada sede de vingança sacerdotal.

 Foram os judeus que, com apavorante coerência, ousaram inverter a equação de valores aristocrática (bom = nobre = poderoso = belo = feliz = caro aos deuses), e com unhas e dentes (os dentes do ódio mais fundo, o ódio impotente) se apegaram a esta inversão, a saber, "os miseráveis somente são os bons, apenas os pobres, impotentes, baixos são bons, os sofredores, necessitados, feios, doentes são os únicos beatos, os únicos abençoados, unicamente para eles há bem-aventurança - mas vocês, nobres e poderosos, vocês serão por toda a eternidade os maus, os cruéis, os lascivos, os insaciáveis, os ímpios, serão também eternamente os desventurados, malditos e danados!...". Sabe-se quem colheu a herança dessa transvaloração judaica... A propósito da tremenda, desmesuradamente fatídica iniciativa que ofereceram os judeus, com essa mais radical das declarações de guerra, recordo a conclusão a que cheguei num outro momento (Além do bem e do mal, § 195) - de que com os judeus principia a revolta dos escravos na moral: aquela rebelião que tem atrás de si dois mil anos de história, e que hoje perdemos de vista, porque foi vitoriosa..." Para a genealogia da moral: uma polemica (1877) Friedrich Nietzsche "Primeira dissertação -"Bom e mau" "bom e ruim" 7


4- A etimologia dos termos bom e mau (na bíblia hebraica) diz respeito aquilo que causa dano, ou faz o bem , etc.

BOM em hebraico

 bwj towb

 adj

1) bom, agradável, amável

1a) amável, agradável (aos sentidos)

1b) agradável (à mais alta índole)

1c) bom, excelente (referindo-se à sua espécie)

1d) bom, rico, considerado valioso

1e) bom, apropriado, conveniente

1f) melhor (comparativo)

1g) satisfeito, feliz, próspero (referindo-se à natureza sensitiva humana)

1h) boa compreensão (referindo-se à natureza intelectual humana)

1i) bom, generoso, benigno

1j) bom, correto (eticamente)

 n m

2) uma coisa boa, benefício, bem estar

2a) bem estar, prosperidade, felicidade

2b) coisas boas (coletivo)

2c) bom, benefício

2d) bem moral

n f

3) bem estar, benefício, coisas boas

3a) bem estar, prosperidade, felicidade

3b) coisas boas (coletivo)

3c) generosidade


MAU em Hebraico 

 er ra‘

  adj.

1) ruim, mau

1a) ruim, desagradável, maligno

1b) ruim, desagradável, maligno (que causa dor, infelicidade, miséria)

1c) mau, desagradável

1d) ruim (referindo-se à qualidade-terra, água, etc)

1e) ruim (referindo-se ao valor)

1f) pior que, o pior (comparação)

1g) triste, infeliz

1h) mau (muito dolorido)

1i) mau, grosseiro (de mau caráter)

1j) ruim, mau, ímpio (eticamente)

1j1) referindo-se de forma geral, de pessoas, de pensamentos

1j2) atos, ações

 

n. m.

2) mal, aflição, miséria, ferida, calamidade

2a) mal, aflição, adversidade

2b) mal, ferida, dano

2c) mal (sentido ético)

 

n. f.

3) mal, miséria, aflição, ferida

3a) mal, miséria, aflição

3b) mal, ferida, dano

3c) mal (ético)

procedente de eer ra‘a‘

  1) ser ruim, ser mau

1a) (Qal)

1a1) ser desagradável

1a2) ser triste

1a3) ser ofensivo, ser mau

1a4) ser perverso, ser mau (eticamente)

1b) (Hifil)

1b1) causar dano, ferir

1b2) agir maldosa ou perversamente

1b3) erro (particípio)

2) quebrar, despedaçar

2a) (Qal)

2a1) quebrar

2a2) quebrado (particípio)

2a3) ser quebrado

2b) (Hitpolel) ser quebrado, ser despedaçado, ser totalmente quebrado

 

1) Primeiramente, as ações foram chamadas de boas e más, por suas consequências (úteis ou nocivas);

2) Em seguida, esquecemos a origem dessas designações, sem levar em conta as consequências. "Bom" e "mau', nessa etapa, são propriedades inerentes às ações;

3) Num terceiro momento, atribuímos as propriedades bom e mau aos motivos;

4) Por fim, atribuímos o predicado bom ou mau [gut oder böse] a todo o ser do homem, não somente a motivos isolados. (cf. MA I/HH I, 39, KSA 2.62)
https://doi.org/10.1590/2316-82422016v3701cla

5-Não há associação entre termos positivos com os sacerdotes ou reis e profetas:

A classe de sacerdotes e reis ou juizes são chamadas de pastores, uma referencia ao pastor de ovelhas. 

Os termos como: príncipe, governador, etc. não tem conexão com qualidade moral.

Príncipe:

aysn nasiy’ ou  asn nasi’


 1) pessoa elevada, chefe, príncipe, capitão, líder

2) névoa, vapor

        procedente de asn nasa’ ou  hon nacah (#Sl 4.6)

 

1) levantar, erguer, carregar, tomar

1a) (Qal)

1a1) levantar, erguer

1a2) levar, carregar, suportar, sustentar, agüentar

1a3) tomar, levar embora, carregar embora, perdoar

1b) (Nifal)

1b1) ser levantado, ser exaltado

1b2) levantar-se, erguer-se

1b3) ser levado, ser carregado

1b4) ser levado embora, ser carregado, ser arrastado

 

1c) (Piel)

1c1) levantar, exaltar, suportar, ajudar, auxiliar

1c2) desejar, anelar (fig.)

1c3) carregar, suportar continuamente

1c4) tomar, levar embora

1d) (Hitpael) levantar-se, exaltar-se

1e) (Hifil)

1e1) fazer carregar (iniqüidade)

1e2) fazer trazer, ter trazido

 


governador

jylv shalliyt

 1) soberano, dominador, senhor

1a) que tem domínio

1a1) governante (subst)

1b) dominador, tirano

           procedente de jlv shalat

  1) dominar, exercer poder sobre, ter controle, ser senhor, mandar

1a) (Qal) dominar, mandar, tornar-se senhor

1b) (Hifil)

1b1) conceder poder de

1b2) ter domínio de


 lvm mashal

uma raiz primitiva;

 1) governar, ter domínio, reinar

1a) (Qal) governar, ter domínio

1b) (Hifil)

1b1) levar a governar

1b2) exercer domínio


etc.

6-Ao contrário da tese propagada pelo filósofo, as Escrituras do Antigo Testamento condenam a classe sacerdotal. Será que eles editariam os livros contra si mesmos?

Isaías 56:11  Tais cães são gulosos, nunca se fartam; são pastores que nada compreendem, e todos se tornam para o seu caminho, cada um para a sua ganância, todos sem exceção.
Jeremias 2:8  Os sacerdotes não disseram: Onde está o SENHOR? E os que tratavam da lei não me conheceram, os pastores prevaricaram contra mim, os profetas profetizaram por Baal e andaram atrás de coisas de nenhum proveito.

Jeremias 10:21  Porque os pastores se tornaram estúpidos e não buscaram ao SENHOR; por isso, não prosperaram, e todos os seus rebanhos se acham dispersos.

Jeremias 23:1  Ai dos pastores que destroem e dispersam as ovelhas do meu pasto! —diz o SENHOR.
Jeremias 23:2  Portanto, assim diz o SENHOR, o Deus de Israel, contra os pastores que apascentam o meu povo: Vós dispersastes as minhas ovelhas, e as afugentastes, e delas não cuidastes; mas eu cuidarei em vos castigar a maldade das vossas ações, diz o SENHOR.

Jeremias 23:4  Levantarei sobre elas pastores que as apascentem, e elas jamais temerão, nem se espantarão; nem uma delas faltará, diz o SENHOR.

Jeremias 50:6  O meu povo tem sido ovelhas perdidas; seus pastores as fizeram errar e as deixaram desviar para os montes; do monte passaram ao outeiro, esqueceram-se do seu redil.

Ezequiel 34:2  Filho do homem, profetiza contra os pastores de Israel; profetiza e dize-lhes: Assim diz o SENHOR Deus: Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos! Não apascentarão os pastores as ovelhas?

Ezequiel 34:10  Assim diz o SENHOR Deus: Eis que eu estou contra os pastores e deles demandarei as minhas ovelhas; porei termo no seu pastoreio, e não se apascentarão mais a si mesmos; livrarei as minhas ovelhas da sua boca, para que já não lhes sirvam de pasto.

Zacarias 10:3  Contra os pastores se acendeu a minha ira, e castigarei os bodes-guias; mas o SENHOR dos Exércitos tomará a seu cuidado o rebanho, a casa de Judá, e fará desta o seu cavalo de glória na batalha.

Conclusão:
A tese de Nietzsche sobre a investigação etimológica na associação da classe dominante com termos positivos não se sustenta. A moral dos nobres x  moral dos escravos é uma teses sem sustentação histórica.

3- Falsa origem do conceito de culpa
"Esses genealogistas da moral teriam sequer sonhado, por exemplo, que o grande conceito moral de "culpa" teve origem no conceito muito material de "dívida?

Ou que o castigo, sendo reparação, desenvolveu-se completamente à margem de qualquer suposição acerca da liberdade ou não-liberdade da vontade? - e isto ao ponto de se requerer primeiramente um alto grau de humanização, para que o animal "homem" comece a fazer aquelas distinções bem mais elementares, como "intencional", "negligente", "casual", "responsável" e seus opostos, e a levá-las em conta na atribuição do castigo.

 O pensamento agora tão óbvio, aparentemente tão natural e inevitável, que teve de servir de explicação para como surgiu na terra o sentimento de justiça, segundo o qual "o criminoso merece castigo porque podia ter agido de outro modo", é na verdade uma forma bastante tardia e mesmo refinada do julgamento e do raciocínio humanos; quem a desloca para o início, engana-se grosseiramente quanto à psicologia da humanidade antiga.

 Durante o mais largo período da história humana, não se castigou porque se responsabilizava o delinqüente por seu ato, ou seja, não pelo pressuposto de que apenas o culpado devia ser castigado - e sim como ainda hoje os pais castigam seus filhos, por raiva devida a um dano sofrido, raiva que se desafoga em quem o causou; mas mantida em certos limites, e modificada pela idéia de que qualquer dano encontra seu equivalente e pode ser realmente compensado, mesmo que seja com a dor do seu causador. De onde retira sua força esta idéia antiqüíssima, profundamente arraigada, agora talvez inerradicável, a idéia da equivalência entre dano e dor? Já revelei: na relação contratual entre credor e devedor, que é tão velha quanto a existência de "pessoas..." Para a genealogia da moral : uma polemica (1877) Friedrich Nietzsche "Segunda  Dissertação- "Culpa", "má consciência" e coisas afins. 4
Resposta:
Desde a antiguidad
e muitos povos traziam a punição como responsabilidade do transgressor pelo ato, não por raiva, inclusive as vezes com pagamento monetário ou mesmo a morte:

a- O código de Hamurabi pressupõe a  culpa do transgressor, pois o mesmo poderia ter agido de outra forma. Inclusive algumas vezes sob juramento de inocência:

26º - Se um oficial ou um gregário que foi chamado às armas para ir no serviço do rei, não vai e assolda um mercenário e o seu substituto parte, o oficial ou o gregário deverá ser morto, aquele que o tiver substituído deverá tomar posse da sua casa.
55º - Se alguém abre o seu reservatório d'água para irrigar, mas é negligente e a água inunda o campo de seu vizinho, ele deverá restituir o trigo conforme o produzido pelo vizinho.
105º - Se o comissionário é negligente e não retira a quitação da soma que ele deu ao negociante, não poderá receber a soma que não é quitada

131º - Se a mulher de um homem livre é acusada pelo próprio marido, mas não surpreendida em contato com outro, ela deverá jurar em nome de Deus e voltar à sua casa
236º - Se alguém freta o seu barco a um bateleiro e este e negligente, mete a pique ou faz que se perca o barco, o bateleiro deverá ao proprietário barco por barco

249º - Se alguém aluga um boi e Deus o fere e ele morre, o locatário deverá jurar em nome de Deus e ir livre.
 142º - Se uma mulher discute com o marido e declara: "tu não tens comércio comigo", deverão ser produzidas as provas do seu prejuízo, se ela é inocente e não há defeito de sua parte e o marido se ausenta e a descura muito, essa mulher não está em culpa, ela deverá tomar o seu donativo e voltar à casa de seu pai.
266º - Se no rebanho se verifica um golpe de Deus ou um leão os mata, o pastor deverá purgar-se diante de Deus e o acidente do rebanho deverá ser suportado pelo proprietário. 
267º - Se o pastor foi negligente e se verifica um dano no rebanho, o pastor deverá indenizar o dano, que ele ocasionou no rebanho em bois ou ovelhas e dar ao proprietário.

4- Invenção do conceito Deus

Para que o sofrimento oculto, não descoberto, não testemunhado, pudesse ser abolido do mundo e honestamente negado, o homem se viu então praticamente obrigado a inventar deuses e seres intermediários para todos os céus e abismos, algo, em suma, que também vagueia no oculto, que também vê no escuro, e que não dispensa facilmente um espetáculo interessante de dor. Foi com ajuda de tais invenções que a vida conseguiu então realizar a arte em que sempre foi mestra: justificar a si mesma, justificar o seu "mal"; agora ela talvez necessite de outros inventos (por exemplo, vida como enigma, vida como problema do conhecimento). Genealogia da moral 7

5. Má compreensão do sonho. — Nas épocas de cultura tosca e primordial o homem acreditava conhecer no sonho um segundo mundo real; eis a origem de toda metafísica. Sem o sonho, não teríamos achado motivo para uma divisão do mundo. Também a decomposição em corpo e alma se relaciona à antiqüíssima concepção do sonho, e igualmente a suposição de um simulacro corporal da alma 6 , portanto a origem de toda crença nos espíritos e também, provavelmente, da crença nos deuses: "Os mortos continuam vivendo, porque aparecem em sonho aos vivos": assim se raciocinava outrora, durante muitos milênios  Humano, Demasiadamente Humano1.5

Resposta:
As duas hipóteses da origem da ideia de Deus não passam de meras suposições, existem muitas outras teorias como estas, todas essas são puramente especulações. 


5- Conceitos errados sobre o Cristianismo


113. O cristianismo como antigüidade. — Quando, numa manhã de domingo, ouvimos repicarem os velhos sinos, perguntamos a nós mesmos: mas será possível? isto se faz por um judeu crucificado há dois mil anos, que se dizia filho de Deus. Não existe prova para tal afirmação. — Em nossos tempos, a religião cristã é certamente uma antigüidade que irrompe de um passado remoto, e o fato de crermos nessa afirmação — quando normalmente somos tão rigorosos no exame de qualquer pretensão — é talvez a parte mais antiga dessa herança. Um deus que gera filhos com uma mortal; um sábio que exorta a que não se trabalhe, que não mais se julgue, mas que se atente aos sinais do iminente fim do mundo; uma justiça que aceita o inocente como vítima substituta; alguém que manda seus discípulos beberem seu sangue; preces por intervenções miraculosas; pecados cometidos contra um deus expiados por um deus; medo de um Além cuja porta de entrada é a morte; a forma da cruz como símbolo, num tempo que já não conhece a destinação e a ignomínia da cruz — que estremecimento nos causa tudo isso, como o odor vindo de um sepulcro antiqüíssimo! Deveríamos crer que ainda se crê nessas coisas? Humano, Demasiadamente Humano

5.1 Deus gerou filhos com uma mulher?
Resposta:
Não existe a ideia de Deus gerar filhos com uma mortal , isto se trata da ideia grega como no caso do deus Zeus, este se envolveu com mulheres e teve filhos com as mesmas. Basta ler a Teogonia de Hesíodo.
Na Bíblia, Jesus eterno e nasceu como homem por meio de uma concepção sobrenatural de uma mulher. Deus não gerou filhos com uma mulher.

5.2 Deus ordenou a não trabalhar?
Não existe a ideia de não trabalhar. Deus criou o homem e o ordenou a trabalhar mesmo antes da queda 
Gn 2:15  Tomou, pois, o SENHOR Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar.
Efésios 4:28  Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que tenha com que acudir ao necessitado.
2 Ts 3:8  nem jamais comemos pão à custa de outrem; pelo contrário, em labor e fadiga, de noite e de dia, trabalhamos, a fim de não sermos pesados a nenhum de vós;
9  não porque não tivéssemos esse direito, mas por termos em vista oferecer-vos exemplo em nós mesmos, para nos imitardes.
10  Porque, quando ainda convosco, vos ordenamos isto: se alguém não quer trabalhar, também não coma.
11  Pois, de fato, estamos informados de que, entre vós, há pessoas que andam desordenadamente, não trabalhando; antes, se intrometem na vida alheia.
12  A elas, porém, determinamos e exortamos, no Senhor Jesus Cristo, que, trabalhando tranqüilamente, comam o seu próprio pão.

5.3 Deus ordenou  a não julgar?
Jesus condenou o julgamento temerário ou injusto
João 7:24  Não julgueis segundo a aparência, e sim pela reta justiça.
1 Co 10:15 ¶ Falo como a criteriosos; julgai vós mesmos o que digo.
12  Pois com que direito haveria eu de julgar os de fora? Não julgais vós os de dentro?
13  Os de fora, porém, Deus os julgará. Expulsai, pois, de entre vós o malfeitor.
1 Coríntios 14:29  Tratando-se de profetas, falem apenas dois ou três, e os outros julguem

5.4 Deus colocou Jesus como vítima substituta da morte do pecador?
Jesus não morreu como substituto mas pagou o preço da justiça através de uma vida de obediência.
Rm 5:19  Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos.

Rm 8:3  Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne [incapaz de obedecer os mandamentos], isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado

Rm 2:13  Porque os simples ouvidores da lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados.

5.5 Jesus ordenou comer o sangue literal dele?
Jesus não ordenou que os discípulos bebessem literalmente seu sangue
Jesus se dizia o pão da vida, a luz do mundo, a porta, o caminho, a verdade, a vida, o bom pastor, etc. Jesus disse que quem cresse nele tinha a vida eterna e comparou isso a comer um pão visto que tinha multiplicado paes.
 
Jo 6:26  Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: vós me procurais, não porque vistes sinais, mas porque comestes dos pães e vos fartastes.
27  Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna, a qual o Filho do Homem vos dará; porque Deus, o Pai, o confirmou com o seu selo.
28 ¶ Dirigiram-se, pois, a ele, perguntando: Que faremos para realizar as obras de Deus?
29  Respondeu-lhes Jesus: A obra de Deus é esta: que creiais naquele que por ele foi enviado.
30  Então, lhe disseram eles: Que sinal fazes para que o vejamos e creiamos em ti? Quais são os teus feitos?
31  Nossos pais comeram o maná no deserto, como está escrito: Deu-lhes a comer pão do céu.
32  Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: não foi Moisés quem vos deu o pão do céu; o verdadeiro pão do céu é meu Pai quem vos dá.
33  Porque o pão de Deus é o que desce do céu e dá vida ao mundo.

35  Declarou-lhes, pois, Jesus: Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede.
36  Porém eu já vos disse que, embora me tenhais visto, não credes.
37  Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora.
38  Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim a vontade daquele que me enviou.
39  E a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o ressuscitarei no último dia.
40  De fato, a vontade de meu Pai é que todo homem que vir o Filho e nele crer tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.
41  Murmuravam, pois, dele os judeus, porque dissera: Eu sou o pão que desceu do céu.
42  E diziam: Não é este Jesus, o filho de José? Acaso, não lhe conhecemos o pai e a mãe? Como, pois, agora diz: Desci do céu?
43  Respondeu-lhes Jesus: Não murmureis entre vós.
44  Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia.
45  Está escrito nos profetas: E serão todos ensinados por Deus. Portanto, todo aquele que da parte do Pai tem ouvido e aprendido, esse vem a mim.
46  Não que alguém tenha visto o Pai, salvo aquele que vem de Deus; este o tem visto.
47  Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim tem a vida eterna.
48  Eu sou o pão da vida.
49  Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram.
50  Este é o pão que desce do céu, para que todo o que dele comer não pereça.
51  Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém dele comer, viverá eternamente; e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne.
52  Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: Como pode este dar-nos a comer a sua própria carne?
53  Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos.
54  Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia.
55  Pois a minha carne é verdadeira comida, e o meu sangue é verdadeira bebida.
56  Quem comer a minha carne e beber o meu sangue permanece em mim, e eu, nele.
57  Assim como o Pai, que vive, me enviou, e igualmente eu vivo pelo Pai, também quem de mim se alimenta por mim viverá.

5.6 O homem é considerado abjeto?
116. O cristão comum. — Se o cristianismo tivesse razão em suas teses acerca de um Deus vingador, da pecaminosidade universal, da predestinação e do perigo de uma danação eterna, seria um indício de imbecilidade e falta de caráter não se tornar padre, apóstolo ou eremita e trabalhar, com temor e tremor, unicamente pela própria salvação; pois seria absurdo perder assim o benefício eterno, em troca da comodidade temporal. Supondo que se creia realmente nessas coisas, o cristão comum é uma figura deplorável, um ser que não sabe contar até três, e que, justamente por sua incapacidade mental, não mereceria ser punido tão duramente quanto promete o cristianismo. Humano, Demasiadamente Humano

 117. Da inteligência do cristianismo. — É artimanha do cristianismo ensinar a total indignidade, pecaminosidade e abjeção do homem, em voz tão alta que o desprezo ao semelhante já não é possível. "Ele pode pecar quanto queira, contudo não se diferencia essencialmente de mim: eu é que sou, em todos os graus, indigno e abjeto", assim diz o cristão. Mas mesmo esse sentimento perdeu seu aguilhão mais agudo, pois o cristão não crê em sua abjeção individual: ele é mau por ser homem simplesmente, e se tranqüiliza um pouco dizendo: "Somos todos da mesma espécie" Humano, Demasiadamente Humano

Nenhum texto da bíblia diz que o homem é um ser abjeto, totalmente mau, sem a capacidade de fazer coisas boas.
João 1:47  Jesus viu Natanael aproximar-se e disse a seu respeito: Eis um verdadeiro israelita, em quem não há dolo!
Mateus 7:11  Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhe pedirem?
Judas 1:4  Pois certos indivíduos se introduziram com dissimulação, os quais, desde muito, foram antecipadamente pronunciados para esta condenação, homens ímpios, que transformam em libertinagem a graça de nosso Deus e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo.

O que os textos dizem é que o homem é incapaz de se salvar de seus pecados e que existem pessoas boas e pessoas ímpias
Romanos 3:10  como está escrito: Não há justo, nem um sequer,

Rm 3:25  a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos;
26  tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus

Rm 5:19  Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos.


5.7 - O cristianismo oprime o homem?
119. Destino do cristianismo. — O cristianismo nasceu para aliviar o coração; mas agora deve primeiro oprimi-lo, para mais adiante poder aliviá-lo. Em conseqüência, perecerá. Humano, Demasiadamente Humano
Resposta:
O cristão vive em paz no coração, sem culpa alguma
1 Jo 2:1 ¶ Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo;
2  e ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro.

Ef 3:11segundo o eterno propósito que estabeleceu em Cristo Jesus, nosso Senhor,
12  pelo qual temos ousadia e acesso com confiança, mediante a fé nele.

Hebreus 4:16  Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna.

6-Jesus  imaturo de palavras delirantes, deseja o inferno a nós

Em verdade, morreu cedo demais aquele hebreu que é honrado pelos pregadores da morte lenta: e para muitos foi uma fatalidade, desde então, que ele morresse cedo demais. Ainda conhecia apenas lágrimas e a melancolia do hebreu, juntamente com o ódio dos bons e justos — o hebreu Jesus: então foi acometido pelo anseio da morte. Tivesse ele permanecido no deserto, longe dos bons e justos! Talvez tivesse aprendido a viver e aprendido a amar a terra — e também o riso! Crede em mim, irmãos! Ele morreu cedo demais; ele próprio teria renegado sua doutrina, se tivesse alcançado a minha idade! Era nobre o bastante para renegá-la! Mas ainda era imaturo. De modo imaturo ama o jovem, e também de modo imaturo odeia os homens e a terra. Pesados e presos ainda são seu ânimo e as asas de seu espírito. Assim falou Zaratustra. São Paulo: Martin Claret: 2012 p. 77

Mas eu sofri e sofro com eles: para mim, são prisioneiros e homens marcados. Aquele a quem chamam Salvador lhes pôs cadeias:Cadeias de falsos valores e palavras delirantes! Ah, se alguém os salve  de seu Salvador!55 Numa ilha acreditaram certa vez aportar, ao serem arrastados pelo mar; mas olha, era um monstro adormecido! Falsos valores e palavras delirantes: eis os piores monstros para os mortais — durante uma longa espera neles  dorme  a fatalidade, e espera. Assim falou Zaratustra. São Paulo: Martin Claret: 2012p.92

Qual tem sido o maior pecado aqui na terra? Não foi a palavra daquele que disse: “Ai daqueles que agora riem!”? Ele próprio não achou na terra motivos para o riso? Se for assim, ele procurou mal. Até mesmo uma criança encontra motivos para isso. 

 Ele próprio não amou o bastante. Ele é fruto da plebe: de outro modo teria se indignado tanto por não ter amado também a nós, os risonhos! Entretanto nos odiou e escarneceu,, desejou-nos muito choro e ranger de dentes. 

Devemos então  amaldiçoar imediatamente aquele que não ama? Isso — parece-me de mau gosto. Mas assim ele fez isso, entretanto, esse homem absoluto. Ele é fruto da plebe. 

Ele próprio não amou bastante: de outro modo, não teria se indignado tanto por não ter sido amado. Todo grande amor não deseja amor: — deseja mais do que isso. 

Evitai esses homens absolutos! Eles vem de um tipo  pobre e doentio, um tipo da plebe: olham para sua vida,  com uma vontade doentia, tem um mau olhado sobre esta terra. 

Evitai esses homens absolutos! Eles têm pés pesados e corações sufocantes — eles não sabem dançar. Como pode a terra ser leve para esses homens? Assim falou Zaratustra. São Paulo: Martin Claret: 2012, p. 289

Resposta:

Nenhum texto da bíblia diz que Deus deseja a nós choro e ranger de dentes, pelo contrário:

João 3:16  Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.

João 6:50  Este é o pão que desce do céu, para que todo o que dele comer não pereça.

2 Pedro 3:9  Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento.

Hebreus 2:9  vemos, todavia, aquele que, por um pouco, tendo sido feito menor que os anjos, Jesus, por causa do sofrimento da morte, foi coroado de glória e de honra, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todo homem.

1 Timóteo 2:1  Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens,
1 Timóteo 2:4  o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade.
1 Timóteo 4:10  Ora, é para esse fim que labutamos e nos esforçamos sobremodo, porquanto temos posto a nossa esperança no Deus vivo, Salvador de todos os homens, especialmente dos fiéis.
Tito 2:11  Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens,

Até os condenados foram alvos de sua redenção

2 Pe 2:1 ¶ Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição.

Jesus não condenou o riso.
Jesus condenou a autosuficiencia , opressão e perseguição às pessoas justas
Lc 6:20 ¶ Então, olhando ele para os seus discípulos, disse-lhes: Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus.
21  Bem-aventurados vós, os que agora tendes fome, porque sereis fartos. Bem-aventurados vós, os que agora chorais, porque haveis de rir.
22  Bem-aventurados sois quando os homens vos odiarem e quando vos expulsarem da sua companhia, vos injuriarem e rejeitarem o vosso nome como indigno, por causa do Filho do Homem.
23  Regozijai-vos naquele dia e exultai, porque grande é o vosso galardão no céu; pois dessa forma procederam seus pais com os profetas.
24  Mas ai de vós, os ricos! Porque tendes a vossa consolação.
25  Ai de vós, os que estais agora fartos! Porque vireis a ter fome. Ai de vós, os que agora rides! Porque haveis de lamentar e chorar.

Mt 5:6  Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos.
7  Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
8  Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus.
9  Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.
10  Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.

Jesus nunca condenou a alegria, a festa etc. seu primeiro milagre foi numa festa de casamento
os detratores de Jesus o acusavam de festeiro ao contrário de Nietzsche

Lc 7:34  Veio o Filho do Homem, comendo e bebendo, e dizeis: Eis aí um glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores!

Jo 2:1 ¶ Três dias depois, houve um casamento em Caná da Galiléia, achando-se ali a mãe de Jesus. 
2 Jesus também foi convidado, com os seus discípulos, para o casamento. 
3 Tendo acabado o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Eles não têm mais vinho. 
4 Mas Jesus lhe disse: Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora. 
5 Então, ela falou aos serventes: Fazei tudo o que ele vos disser. 
6 Estavam ali seis talhas de pedra, que os judeus usavam para as purificações, e cada uma levava duas ou três metretas. 
7 Jesus lhes disse: Enchei de água as talhas. E eles as encheram totalmente. 
8 Então, lhes determinou: Tirai agora e levai ao mestre-sala. Eles o fizeram.
 
9 Tendo o mestre-sala provado a água transformada em vinho (não sabendo donde viera, se bem que o sabiam os serventes que haviam tirado a água), chamou o noivo 
10 e lhe disse: Todos costumam pôr primeiro o bom vinho e, quando já beberam fartamente, servem o inferior; tu, porém, guardaste o bom vinho até agora. 
11 Com este, deu Jesus princípio a seus sinais em Caná da Galiléia; manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele.


7-A compaixão impede o crescimento da vida?

Os fracos e os malogrados devem perecer: primeiro princípio de nossa caridade. E realmente deve-se ajudá-los nisso. O que é mais nocivo que qualquer vício? – A compaixão posta em prática em nome dos malogrados e dos fracos – o cristianismo... O Anticristo III

Não devemos enfeitar nem embelezar o cristianismo: ele travou uma guerra de morte contra este tipo de homem superior, anatematizou todos os instintos mais profundos desse tipo, destilou seus conceitos de mal e de maldade personificada a partir desses instintos – o homem forte como um réprobo, como “degredado entre os homens”. O cristianismo tomou o partido de tudo o que é fraco, baixo e fracassado; forjou seu ideal a partir da oposição a todos os instintos de preservação da vida saudável; corrompeu até mesmo as faculdades daquelas naturezas intelectualmente mais vigorosas, ensinando que os valores intelectuais elevados são apenas pecados, descaminhos, tentações. O exemplo mais lamentável: o corrompimento de Pascal, o qual acreditava que seu intelecto havia sido destruído pelo pecado original, quando na verdade tinha sido destruído pelo cristianismo! –O Anticristo VI

A própria vida apresenta-se a mim como um instinto para o crescimento, para a sobrevivência, para a acumulação de forças, para o poder: sempre que falta a vontade de poder ocorre o desastre. Afirmo que todos os valores mais elevados da humanidade carecem dessa vontade – que os valores de decadência, de niilismo, agora prevalecem sob os mais sagrados nomes.O Anticristo VII

Chama-se cristianismo a religião da compaixão. – A compaixão está em oposição a todas as paixões tônicas que aumentam a intensidade do sentimento vital: tem ação depressora. O homem perde poder quando se compadece. Através da perda de força causada pela compaixão o sofrimento acaba por multiplicar-se. O sofrimento torna-se contagioso através da compaixão; sob certas circunstancias pode levar a um total sacrifício da vida e da energia vital – uma perda totalmente desproporcional à magnitude da causa (– o caso da morte de Nazareno). Essa é uma primeira perspectiva; há, entretanto, outra mais importante. 

Medindo os efeitos da compaixão através da intensidade das reações que produz, sua periculosidade à vida mostra-se sob uma luz muito mais clara. A compaixão contraria inteiramente lei da evolução, que é a lei da seleção natural. Preserva tudo que está maduro para perecer; luta em prol dos desterrados e condenados da vida; e mantendo vivos malogrados de todos os tipos, dá à própria vida um aspecto sombrio e dúbio. A humanidade ousou denominar a compaixão uma virtude (– em todo sistema de moral superior ela aparece como uma fraqueza –); indo mais adiante, chamaram-na a virtude, a origem e fundamento de todas as outras virtudes – mas sempre mantenhamos em mente que esse era o ponto de vista de uma filosofia niilista, em cujo escudo há a inscrição negação da vida. Schopenhauer estava certo nisto: através a compaixão a vida é negada, e tornada digna de negação – a compaixão é uma técnica de niilismo. 

Permita-me repeti-lo: esse instinto depressor e contagioso opõe-se a todos os instintos que se empenham na preservação e aperfeiçoamento da vida: no papel de defensor dos miseráveis, é um agente primário na promoção da decadência – compaixão persuade à extinção... É claro, ninguém diz “extinção”: dizem “o outro mundo”, “Deus”, “a verdadeira vida”, Nirvana, salvação, bem-aventurança... Essa inocente retórica do reino da idiossincrasia moral-religiosa mostra-se muito menos inocente quando se percebe a tendência que oculta sob palavras sublimes: a tendência à destruição da vida. ... O Anticristo– VIII

Resposta:
A compaixão não é apenas um sentimento de sentir a dor do outro mas de agir em favor do outro de modo que aquela situação ou  condição seja mudada.
O cristianismo ensina as pessoas a exercer compaixão por exemplo para o necessitado, mas de modo algum é conivente com a preguiça ou o ócio
O cristianismo ensina sim o crescimento por meio de lições tiradas do sofrimento
Efésios 4:28  Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que tenha com que acudir ao necessitado.
10  Porque, quando ainda convosco, vos ordenamos isto: se alguém não quer trabalhar, também não coma.
11  Pois, de fato, estamos informados de que, entre vós, há pessoas que andam desordenadamente, não trabalhando; antes, se intrometem na vida alheia.
12  A elas, porém, determinamos e exortamos, no Senhor Jesus Cristo, que, trabalhando tranqüilamente, comam o seu próprio pão.
13  E vós, irmãos, não vos canseis de fazer o bem.

 Romanos 5:3 E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança;
4  e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança.

Não há oposição cristã a nenhum extinto de preservação da vida saudável. Os extintos devem ser controlados pela racionalidade, caso contrário seriamos como os animais.
A vingança ou justiça pertence ao Estado
Rm 12:18  se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens;
19  não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; {ira; de Deus, subentendido} porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor.

Rm 13:4  visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal.
Salmos 4:4  Irai-vos e não pequeis; consultai no travesseiro o coração e sossegai.
Efésios 4:26  Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira,

O sexo é resguardado dentro do casamento e não só para a reprodução
1 Co 7:3  O marido conceda à esposa o que lhe é devido, e também, semelhantemente, a esposa, ao seu marido.
4  A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim o marido; e também, semelhantemente, o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim a mulher.
5  Não vos priveis um ao outro, salvo talvez por mútuo consentimento, por algum tempo, para vos dedicardes à oração e, novamente, vos ajuntardes, para que Satanás não vos tente por causa da incontinência.

Bertrand Russel comenta sobre a oposição de Nietzsche sobre a compaixão e o amor ao próximo:

"Considera a compaixão como uma fraqueza que é preciso combater. “O objetivo é alcançar essa enorme energia de grandeza que pode modelar o homem do futuro por meio da disciplina e também do aniquilamento de milhões de esfarrapados e que pode, não obstante, evitar de cair na ruína ante o sofrimento criado por isso, de que não se viu nunca, antes, coisa semelhante”.
Profetizava, com certo júbilo, uma era de grandes guerras; a gente fica a pensar se teria sido feliz se houvesse vivido o bastante para ver a realização de sua profecia. 
No entanto, não é um adorador do Estado; longe disso. É um individualista apaixonado, um crente no herói. A miséria de toda uma nação, diz ele, é menos importante do que o sofrimento de um grande indivíduo: “Os infortúnios de toda essa gente pequena não constituem, reunidos, uma soma total, salvo nos sentimentos dos homens poderosos”.
 Bertrand Russel -História da Civilização Ocidental


Bertrand Russel pensa que a oposição de Nietzsche aos cristãos vem do do medo:

 Nietzsche condena o amor cristão por achar que se trata de resultado do medo: temo que o próximo me prejudique, e por isso asseguro-lhe que o amo. Se fosse eu mais forte e audacioso, revelaria abertamente o desprezo que obviamente lhe dedico. Não ocorre ao filósofo que alguém possa sentir amor universal, porque ele mesmo evidentemente nutre ódio e medo de quase todos, disfarçando-os sob a máscara de uma altiva indiferença. O “nobre” — que, em seus devaneios, era ele mesmo — é um ser destituído de

qualquer compaixão, alguém implacável, engenhoso, cruel, preocupado somente com o próprio poder. O rei Lear, à beira da loucura, declara:
Tantas coisas farei —
Quais, ainda ignoro, mas hão de ser
O terror da Terra inteira.
Eis, em pouquíssimas palavras, a filosofia de Nietzsche.
Jamais lhe ocorreu que a ânsia pelo poder de que dota seu superhomem é, por si mesma, fruto do medo. Aqueles que não temem o próximo não sentem a necessidade de ser opressivos para com ele. Homens que dominaram o medo não possuem a desvairada qualidade que têm os Neros, os “artistas-tiranos” de Nietzsche, os quais procuram desfrutar da música e do massacre enquanto seus corações são tomados pelo medo do inevitável golpe de Estado. Não nego que, em parte graças a sua doutrina, o mundo real se tornou muito semelhante a esse pesadelo, mas isso não a torna menos terrível.
Existem dois tipos de santo: aquele que o é por natureza e aquele que o é por medo. O santo por natureza nutre amor espontâneo pela humanidade; pratica o bem porque fazê-lo causa-lhe felicidade. O santo que nasce do medo, por sua vez, a exemplo de quem só deixa de roubar por conta da polícia, seria iníquo caso não se visse coagido pela imagem do fogo infernal ou da vingança de seus próximos. Nietzsche só consegue conceber este segundo tipo; seu medo e ódio são tão grandes que o amor espontâneo pela humanidade lhe parece impossível. Jamais concebeu alguém que, com o destemor e o orgulho obstinado do super-homem, não inflige dor porque não deseja fazê-lo. Porventura alguém acha que Lincoln fez o que fez por temer o inferno? Não obstante, ele é, para Nietzsche, alguém abjeto, enquanto Napoleão se afigura como personagem magnífico. Bertrand Russel -História da Civilização Ocidental


8-Cada homem deve criar seu próprio imperativo categórico
Exatamente o contrário é exigido pelas mais profundas leis da autopreservação e do crescimento: que cada homem crie sua própria virtude, seu próprio imperativo categórico(2). O anticristo XII
Resposta:
Valores não podem ser subjetivos, a gosto de cada um. Os homens deixam ser guiados por seus instintos e muitas vezes pelo desejo egoísta surge as intrigas como já dizia Rosseuau. Desta forma são necessárias leis objetivas.


9-Deus é imaginário
No cristianismo, nem a moral nem a religião têm qualquer ponto de contado com a realidade. São oferecidas causas puramente imaginárias (“Deus”, “alma”, “eu”, “espírito”, “livre arbítrio” – ou mesmo o “não-livre”) e efeitos puramente imaginários (“pecado”, “salvação”, “graça”, “punição”, “remissão dos pecados”). Um intercurso entre seres imaginários (“Deus”, “espíritos”, “almas”); uma história natural imaginária (antropocêntrica; uma negação total do conceito de causas naturais); uma psicologia imaginária (mal-entendidos sobre si, interpretações equivocadas de sentimentos gerais agradáveis ou desagradáveis, por exemplo, os estados do nervus sympathicus com a ajuda da linguagem simbólica da idiossincrasia moral-religiosa – “arrependimento”, “peso na consciência”, “tentação do demônio”, “a presença de Deus”); uma teleologia imaginária (o “reino de Deus”, “o juízo final”, a “vida eterna”). ... O Anticristo XVI

Resposta:
Nietzsche não demonstrou a inexistencia de Deus, usou o argumento do sonho, como já discutido,  nem tão pouco respondeu aos argumentos da existência de Deus, portanto as afirmações dele carecem de fundamento. Ele simplesmente supõe ou afirma a inexistência de Deus e a partir dali monta seu edifício intelectual sobre a areia. 

Ele comete a falácia informal  petitio principii ("petição de princípio")  que consiste em afirmar uma tese, que se pretende demonstrar verdadeira na conclusão do argumento, já partindo do princípio de que essa mesma conclusão é verdadeira e empregando essa pressuposição em uma das premissas.



10-A negação do prazer
– Esse mundo puramente fictício, com muita desvantagem, se distingue do mundo dos sonhos; o último ao menos reflete a realidade, enquanto aquele falsifica, desvaloriza e nega a realidade. Após o conceito de “natureza” ter sido usado como oposto ao conceito de “Deus”, a palavra “natural” forçosamente tomou o significado de “abominável” – todo esse mundo fictício tem sua origem no ódio contra o natural (– a realidade! –), é evidência de um profundo mal-estar com a efetividade... Isso explica tudo. Quem tem motivos para fugir da realidade? Quem sofre com ela. Mas sofrer com a realidade significa uma existência malograda... A preponderância do sofrimento sobre o prazer é a causa dessa moral e religião fictícias: mas tal preponderância, no entanto, também fornece a fórmula para a décadence... O Anticristo XVI
Resposta:
Não há negação do prazer sexual . Desde que seja Heterossexual monogâmico
1 Co 7:3  O marido conceda à esposa o que lhe é devido, e também, semelhantemente, a esposa, ao seu marido.
4  A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim o marido; e também, semelhantemente, o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim a mulher.
5  Não vos priveis um ao outro, salvo talvez por mútuo consentimento, por algum tempo, para vos dedicardes à oração e, novamente, vos ajuntardes, para que Satanás não vos tente por causa da incontinência.

1 Co 7: 8 Seja bendito o teu manancial, e alegra-te com a mulher da tua mocidade,
19 corça de amores e gazela graciosa. Saciem-te os seus seios em todo o tempo; e embriaga-te sempre com as suas carícias.

Ct 7:8  Dizia eu: subirei à palmeira, pegarei em seus ramos. Sejam os teus seios como os cachos da vide, e o aroma da tua respiração, como o das maçãs.
9  Os teus beijos são como o bom vinho, vinho que se escoa suavemente para o meu amado, deslizando entre seus lábios e dentes.
10 ¶ Eu sou do meu amado, e ele tem saudades de mim.
11  Vem, ó meu amado, saiamos ao campo, passemos as noites nas aldeias.
12  Levantemo-nos cedo de manhã para ir às vinhas; vejamos se florescem as vides, se se abre a flor, se já brotam as romeiras; dar-te-ei ali o meu amor.

Ec 9:9 Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias de tua vida fugaz, os quais Deus te deu debaixo do sol; porque esta é a tua porção nesta vida pelo trabalho com que te afadigaste debaixo do so

Devemos usufruir dos prazeres da vida advindos do nosso trabalho 

Eclesiastes 2:24 Nada há melhor para o homem do que comer, beber e fazer que a sua alma goze o bem do seu trabalho. No entanto, vi também que isto vem da mão de Deus,

Eclesiastes 3:13 e também que é dom de Deus que possa o homem comer, beber e desfrutar o bem de todo o seu trabalho.

Eclesiastes 5:18 Eis o que eu vi: boa e bela coisa é comer e beber e gozar cada um do bem de todo o seu trabalho, com que se afadigou debaixo do sol, durante os poucos dias da vida que Deus lhe deu; porque esta é a sua porção.

Eclesiastes 8:15 Então, exaltei eu a alegria, porquanto para o homem nenhuma coisa há melhor debaixo do sol do que comer, beber e alegrar-se; pois isso o acompanhará no seu trabalho nos dias da vida que Deus lhe dá debaixo do sol.


11-Mudança do conceito de Deus?

"conceito de Deus; quando se degenerou progressivamente até tornar-se uma bengala para os cansados, uma tábua de salvação aos que se afogam; quando vira o Deus dos pobres, o Deus dos pecadores, o Deus dos incapazes par excellence, e o atributo de “salvador” ou “redentor” continua como o atributo mais essencial da divindade – qual é a significância de tal metamorfose? O que implica tal redução do divino? – Sem dúvida, com isso o “reino de Deus” cresceu. 

Antigamente, tinha somente seu povo, seus “escolhidos”. Mas desde então saiu perambulando, assim como seu próprio povo, a territórios estrangeiros; desistiu de acomodar-se; e finalmente passou a sentir-se em casa em qualquer lugar, esse grande cosmopolita – até agora possui a “grande maioria” ao seu lado, e metade da Terra. Mas esse Deus da “grande maioria”, esse democrata entre os Deuses, não se tornou um Deus pagão orgulhoso: pelo contrário, continua um judeu, continua um Deus das esquinas, um Deus de todos os recantos e gretas, de todos lugares insalubres do mundo!... Seu reino na Terra, agora, assim como sempre, é um reino do submundo, um reino subterrâneo, um reino-gueto... Ele mesmo é tão pálido, tão fraco, tão décadent... Até o mais pálido entre os pálidos é capaz de dominá-lo – os senhores metafísicos, os albinos do intelecto. Esses teceram teias ao seu redor por tanto tempo que finalmente o hipnotizaram, o transformaram em aranha, em mais um metafísico. E então retornou mais uma vez ao seu velho serviço de tecer o mundo a partir de sua natureza interior sub specie Spinozae(2); após isso se transformou em algo cada vez mais tênue e pálido – tornou-se o “ideal”, o “puro espírito”, o “absoluto”, a “coisa em si”... O colapso de um Deus: ele converte-se na “coisa em si”. O Anticristo XVII 

2 – Frase de sentido duplo: segundo a óptica de Espinoza e sob a forma de aranha. Trata-se de um jogo de palavras baseado no próprio de Espinoza – spinne significa aranha em alemão.


Resposta:

Nietzsche diz que o conceito de Deus do antigo testamento é tribal e depois esse conceito se modificou. O que ele despreza é que mesmo no Antigo Testamento Deus é apresentado como Deus do Universo e não de um unico povo, isto pode ser notado desde os primeiros capítulos da Bíblia.

Mesmo no chamado de Abraão o texto diz que por meio dele todas as famílias da terra seria benditas, e ele mesmo foi abençoado por um gentio, Melquisedeque.

Isaías e outros profetas falaram da salvação universal

Gênesis 12:3  Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra.

Gênesis 28:14  A tua descendência será como o pó da terra; estender-te-ás para o Ocidente e para o Oriente, para o Norte e para o Sul. Em ti e na tua descendência serão abençoadas todas as famílias da terra.

Gn 14:18  Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; era sacerdote do Deus Altíssimo;
19  abençoou ele a Abrão e disse: Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, que possui os céus e a terra;
20  e bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus adversários nas tuas mãos. E de tudo lhe deu Abrão o dízimo.

Is 49:6  Sim, diz ele: Pouco é o seres meu servo, para restaurares as tribos de Jacó e tornares a trazer os remanescentes de Israel; também te dei como luz para os gentios, para seres a minha salvação até à extremidade da terra

Salmos 117:1  Louvai ao SENHOR, vós todos os gentios, louvai-o, todos os povos

Nietzsche não conseguir entender que Paulo apenas estava citando o Antigo Testamento:

Rm 15:8  Digo, pois, que Cristo foi constituído ministro da circuncisão, em prol da verdade de Deus, para confirmar as promessas feitas aos nossos pais;

9  e para que os gentios glorifiquem a Deus por causa da sua misericórdia, como está escrito: Por isso, eu te glorificarei entre os gentios e cantarei louvores ao teu nome.

10  E também diz: Alegrai-vos, ó gentios, com o seu povo.

11  E ainda: Louvai ao Senhor, vós todos os gentios, e todos os povos o louvem.

12  Também Isaías diz: Haverá a raiz de Jessé, aquele que se levanta para governar os gentios; nele os gentios esperarão.


 12-Ódio aos incrédulos

Também é cristã uma certa crueldade para consigo e para com os outros; o ódio aos incrédulos; o desejo de perseguir. Idéias sombrias e inquietantes ocupam o primeiro plano; os estados mentais mais estimados, portando os nomes mais respeitáveis, são epileptiformes; a dieta é determinada com o fim de engendrar sintomas mórbidos e supra-estimulação nervosa. Também é cristã toda a inimizade mortal aos senhores da terra, aos “aristocratas” – juntamente com uma rivalidade secreta contra eles (– resignam-se do “corpo” – querem apenas a “alma”...).  O Anticristo XXII

Ódio aos incrédulos nunca foi um ensino da bíblia.

Mt 5:44  Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem;

45  para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos.

46  Porque, se amardes os que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem os publicanos também o mesmo?

47  E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os gentios também o mesmo?

Não existe ódio aos aristocratas, inclusive nas parábolas Deus é comparado aos donos de terras:
Mt 20:1 ¶ Porque o reino dos céus é semelhante a um dono de casa que saiu de madrugada para assalariar trabalhadores para a sua vinha.
2  E, tendo ajustado com os trabalhadores a um denário por dia, mandou-os para a vinha.
3  Saindo pela terceira hora, viu, na praça, outros que estavam desocupados
4  e disse-lhes: Ide vós também para a vinha, e vos darei o que for justo. Eles foram.
5  Tendo saído outra vez, perto da hora sexta e da nona, procedeu da mesma forma,
6  e, saindo por volta da hora undécima, encontrou outros que estavam desocupados e perguntou-lhes: Por que estivestes aqui desocupados o dia todo?
7  Responderam-lhe: Porque ninguém nos contratou. Então, lhes disse ele: Ide também vós para a vinha.
8  Ao cair da tarde, disse o senhor da vinha ao seu administrador: Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário, começando pelos últimos, indo até aos primeiros.
9  Vindo os da hora undécima, recebeu cada um deles um denário.
10  Ao chegarem os primeiros, pensaram que receberiam mais; porém também estes receberam um denário cada um.
11  Mas, tendo-o recebido, murmuravam contra o dono da casa,
12  dizendo: Estes últimos trabalharam apenas uma hora; contudo, os igualaste a nós, que suportamos a fadiga e o calor do dia.
13  Mas o proprietário, respondendo, disse a um deles: Amigo, não te faço injustiça; não combinaste comigo um denário?
14  Toma o que é teu e vai-te; pois quero dar a este último tanto quanto a ti.

Existem dezenas de passagens em que a riqueza não é o condenada, inclusive no Novo Testamento, o amor ao dinheiro sim, este é condenado. Abraão, Jó, eram pessoas riquíssimas e há promessas de prosperidade Sl 112. As pessoas ricas tem o dever de serem generosas :

1Tm 6:17  Exorta aos ricos do presente século que não sejam orgulhosos, nem depositem a sua esperança na instabilidade da riqueza, mas em Deus, que tudo nos proporciona ricamente para nosso aprazimento;
18  que pratiquem o bem, sejam ricos de boas obras, generosos em dar e prontos a repartir;
19  que acumulem para si mesmos tesouros, sólido fundamento para o futuro, a fim de se apoderarem da verdadeira vida


13-Ódio ao Intelecto-orgulho- coragem- liberdade-sentidos...

É cristão todo o ódio contra o intelecto, o orgulho, a coragem, a liberdade, a libertinagem intelectual; o ódio aos sentidos, à alegria dos sentidos, à alegria em geral, é cristão... O Anticristo XXII

Resposta:

Nenhum texto das Escrituras condena o conhecimento intelectual, tanto é que  Moises foi criado no império mais poderoso da época (Egito) e também  profeta Daniel e seus 3 amigos (Babilônia).

As Escrituras e opõe às escolas filosóficas como Estoicismo e Epicurismo, neoplatonismo , gnosticismo,etc. mas não ao verdadeiro conhecimento:

 1 Coríntios 2:6  Entretanto, expomos sabedoria entre os experimentados; não, porém, a sabedoria  deste século, nem a dos poderosos desta época, que se reduzem a nada;

Atos 7:22  E Moisés foi educado em toda a ciência dos egípcios e era poderoso em palavras e obras.

Dn 1:7 ¶ Ora, a estes quatro jovens Deus deu o conhecimento e a inteligência em toda cultura e sabedoria; mas a Daniel deu inteligência de todas as visões e sonhos.

A coragem e o orgulho (de ser cristão) sempre foi incentivada e mostrada nas arenas do Coliseu romano
Atos 23:11  Na noite seguinte, o Senhor, pondo-se ao lado dele, disse: Coragem! Pois do modo por que deste testemunho a meu respeito em Jerusalém, assim importa que também o faças em Roma.
Carta de Plínio a Trajano

Caio Plínio Segundo (Plínio o moço), governador da Bitínia entre 111 e 113, enviada a Trajano, imperador de Roma entre 98 e 117 d.C, solicitando instruções de como proceder perante as denúncias contra os cristãos. A epístola, escrita por volta de 112 d.C

Tenho por praxe, Senhor, consultar Vossa Majestade nas questões duvidosas. Quem melhor dirigirá minha incerteza e instruirá minha ignorância? Nunca presenciei nenhum julgamento de cristãos. Por isso ignoro as penalidades e investigações costumeiras, bem como as pautas em uso. Tenho muitas dúvidas a respeito de certas questões, tais como: estabelecem-se diferenças e distinções de acordo com a idade? Cabe o mesmo tratamento a enfermos e robustos? Aqueles que se retratam devem ser perdoados? A quem sempre foi cristão, compete gratificar quando deixa de sê-lo? Há de punir-se o simples fato de alguém ser cristão, mesmo que inocente de qualquer crime, o exclusivamente os delitos praticados sob esse nome?
Entretanto, eis o procedimento que adotei nos casos que me foram submetidos sob acusação de cristianismo. Aos incriminados pergunto se são cristãosNa afirmativa, repito a pergunta segunda e terceira vez, ameaçando condená-los à pena capital. Se persistirem, condeno-os à morte. Não duvido que, seja qual for o crime que confessem, sua pertinácia e obstinação inflexíveis devem ser punidas. Alguns apresentam indícios de loucura; tratando-se de cidadãos romanos, separo-os para enviá-los a Roma.
 Mas o que geralmente se dá é o seguinte: o simples fato de julgar essas causas confere enorme divulgação às acusações, de modo que meu tribunal está inundado com uma grande variedade de casos. Recebi uma lista anônima com muitos nomes. Os que negaram ser cristãos, considerei-os merecedores de absolvição. De fato, sob minha pressão, devotaram-se aos deuses e reverenciaram com incenso e libações vossa imagem colocada, para este propósito, ao lado das estátuas dos deuses, e, pormenor particular, amaldiçoaram a Cristo, coisa que um genuíno cristão jamais aceita fazer.
Outros inculpados da lista anônima começaram declarando-se cristãos e, logo, negaram sê-lo, declarando ter professado esta religião durante algum tempo e renunciando a ela há três ou mais anos; alguns a tinham abandonado há mais de vinte anos. Todos veneraram vossa imagem e as estátuas dos deuses, amaldiçoando a Cristo.
Foram unânimes em reconhecer que sua culpa se reduzia apenas a isso: em determinados dias, costumavam comer antes da alvorada e rezar responsivamente hinos a Cristo, como a um deus; obrigavam-se por juramento não a algum crime, mas à abstenção de roubos, rapinas, adultérios, perjúrios e sonegação de depósitos reclamados pelos donos. Concluído este rito, costumavam distribuir e comer seu alimento. Este, aliás, era um alimento comum e inofensivo.
Eles deixaram essas práticas depois do edito que promulguei, de conformidade com vossas instruções, proibindo as sociedades secretas. Julguei ser mais importante descobrir o que havia de verdade nessas declarações através da tortura a duas moças, chamadas diaconisas, mas nada achei senão superstição baixa e extravagante. Suspendi, portanto, minhas observações na espera do vosso parecer. Creio que o assunto justifica minha consulta, mormente tendo em vista o grande número de vítimas em perigo. Muita gente, de todas as idades e de ambos os sexos, corre o risco de ser denunciada e o mal não terá como parar.
Esta superstição contagiou não apenas as cidades, mas as aldeias e até as estâncias rurais. Contudo, o mal ainda pode ser contido e vencido. Sem dúvida os templos que estavam quase desertos são novamente freqüentados; os ritos sagrados há muito negligenciados, celebram-se de novo; vítimas para sacrifícios estão sendo vendidas por toda a parte, ao passo que, até recentemente, raramente um comprador era encontrado. Esses indícios permitem esperar que legiões de homens sejam susceptíveis de emenda, desde que tenham a oportunidade de se retratar. BETTENSON, H., Documentos da Igreja Cristã, editora ASTE, páginas 28 a 30


Hb 12:3 Considerai, pois, atentamente, aquele que suportou tamanha oposição dos pecadores contra si mesmo, para que não vos fatigueis, desmaiando em vossa alma.
4 ¶ Ora, na vossa luta contra o pecado, ainda não tendes resistido até ao sangue

A Bíblia não se opõe ao gozo ou alegria

Ec 9:9 Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias de tua vida fugaz, os quais Deus te deu debaixo do sol; porque esta é a tua porção nesta vida pelo trabalho com que te afadigaste debaixo do so

Eclesiastes 2:24 Nada há melhor para o homem do que comer, beber e fazer que a sua alma goze o bem do seu trabalho. No entanto, vi também que isto vem da mão de Deus,

Eclesiastes 3:13 e também que é dom de Deus que possa o homem comer, beber e desfrutar o bem de todo o seu trabalho.

Eclesiastes 5:18 Eis o que eu vi: boa e bela coisa é comer e beber e gozar cada um do bem de todo o seu trabalho, com que se afadigou debaixo do sol, durante os poucos dias da vida que Deus lhe deu; porque esta é a sua porção.

Eclesiastes 8:15 Então, exaltei eu a alegria, porquanto para o homem nenhuma coisa há melhor debaixo do sol do que comer, beber e alegrar-se; pois isso o acompanhará no seu trabalho nos dias da vida que Deus lhe dá debaixo do sol

Eclesiastes 11:9  Alegra-te , jovem, na tua juventude, e recreie-se o teu coração nos dias da tua mocidade; anda pelos caminhos que satisfazem ao teu coração e agradam aos teus olhos; sabe, porém, que de todas estas coisas Deus te pedirá contas


14-Ingestão de sangue e sacrifício de primogênitos

...O cristianismo tinha de adotar conceitos e valorações bárbaras para obter domínio sobre os bárbaros: assim como, por exemplo, o sacrifício do primogênito, a ingestão de sangue como um sacramento, o desprezo pelo intelecto e pela cultura; a tortura sob todas as suas formas, corporal e espiritual; toda a pompa do culto.... O Anticristo XXIII

Resposta:

O sacrifício de primogênito era uma pratica pagã, o judaísmo em contraste prescreveu a consagração do primogênito

Êxodo 13:2  Consagra-me todo primogênito; todo que abre a madre de sua mãe entre os filhos de Israel, tanto de homens como de animais, é meu


Nunca se ingeriu sangue literal, prática inclusive condenada

Levítico 3:17  Estatuto perpétuo será durante as vossas gerações, em todas as vossas moradas; gordura nenhuma nem sangue jamais comereis.

Nenhum texto das Escrituras ensina o desprezo a cultura, pelo contrário os cristãos usavam coisas da cultura, neste caso uma poesia estoica:
At 17:22 ¶ Então, Paulo, levantando-se no meio do Areópago, disse: Senhores atenienses! Em tudo vos vejo acentuadamente religiosos;
23  porque, passando e observando os objetos de vosso culto, encontrei também um altar no qual está inscrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Pois esse que adorais sem conhecer é precisamente aquele que eu vos anuncio.
24  O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas.
25  Nem é servido por mãos humanas, como se de alguma coisa precisasse; pois ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais;
26  de um só fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação;
27  para buscarem a Deus se, porventura, tateando, o possam achar, bem que não está longe de cada um de nós;
28  pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos, como alguns dos vossos poetas têm dito: Porque dele também somos geração.
29  Sendo, pois, geração de Deus, não devemos pensar que a divindade é semelhante ao ouro, à prata ou à pedra, trabalhados pela arte e imaginação do homem.

15-Causa natural não existe no Cristianismo?

 A noção pública desse Deus agora se torna meramente uma arma nas mãos de agitadores clericais, que interpretam toda felicidade como recompensa e toda desgraça como punição em termos de obediência ou desobediência a Deus, em termos de “pecado”: a mais fraudulenta das interpretações imagináveis, através da qual a “ordem moral do mundo” é estabelecida e os conceitos fundamentais, “causa” e “efeito”, são colocados de ponta cabeça. Uma vez que o conceito de causa natural é varrido do mundo por doutrinas de recompensa e punição, algum tipo de causalidade inatural torna-se necessária: seguem-se disso todas as outras variedades de negação da natureza.

 Um Deus que ordena – no lugar de um Deus que ajuda, que dá conselhos, que no fundo é meramente um nome para cada feliz inspiração de coragem e autoconfiança... A moral já não é mais um reflexo das condições que promovem vida sã e o crescimento de um povo; não é mais um instinto vital primário; em vez disso se tornou algo abstrato e oposto à vida – uma perversão dos fundamentos da fantasia, um “olhar maligno” contra todas as coisas. Que é a moral judaica? Que é a moral cristã? A sorte despida de sua inocência; a infelicidade contaminada com a idéia de “pecado”; o bem-estar considerado como um perigo, como uma “tentação”; um desarranjo fisiológico causado pelo veneno do remorso... O Anticristo  XXVI


O conceito de Deus falsificado; o conceito de moral falsificado; – mas mesmo aqui os feitos dos padres judaicos não cessaram. – Toda a história de Israel não lhes tinha qualquer valor: então a dispensaram! – Tais padres realizaram essa prodigiosa falsificação da qual grande parte da Bíblia é uma evidência documentária; com um grau de desprezo sem paralelos, e em face de toda a tradição e toda a realidade histórica, traduziram o passado de seu povo em termos religiosos, ou seja, converteram-no em um mecanismo imbecil de salvação, através do qual todas ofensas contra Iavé eram punidas e toda devoção recompensada. Nós consideraríamos esse ato de falsificação histórica algo muito mais vergonhoso se a familiaridade com a interpretação eclesiástica da história por milhares anos não tivesse embotado nossas inclinações à retidão inhitoricis(1). O Anticristo XXVII


Resposta:

A causa natural nunca foi negada na Bíblia , inclusive a noção de acaso:

Eclesiastes 9:11  Vi ainda debaixo do sol que não é dos ligeiros o prêmio, nem dos valentes, a vitória, nem tampouco dos sábios, o pão, nem ainda dos prudentes, a riqueza, nem dos inteligentes, o favor; porém tudo depende do tempo e do acaso.


Alguns homens se queixam da ausência da punição divina:

Sl 72:2 Quanto a mim, porém, quase me resvalaram os pés; pouco faltou para que se desviassem os meus passos.
3 Pois eu invejava os arrogantes, ao ver a prosperidade dos perversos.
4 Para eles não há preocupações, o seu corpo é sadio e nédio.
5 Não partilham das canseiras dos mortais, nem são afligidos como os outros homens.
6 Daí, a soberba que os cinge como um colar, e a violência que os envolve como manto.
7 Os olhos saltam-lhes da gordura; do coração brotam-lhes fantasias.
8 Motejam e falam maliciosamente; da opressão falam com altivez.
9 Contra os céus desandam a boca, e a sua língua percorre a terra.
10 Por isso, o seu povo se volta para eles e os tem por fonte de que bebe a largos sorvos.
11 E diz: Como sabe Deus? Acaso, há conhecimento no Altíssimo?
12 Eis que são estes os ímpios; e, sempre tranqüilos, aumentam suas riquezas.
13 Com efeito, inutilmente conservei puro o coração e lavei as mãos na inocência.


Jesus mesmo atestou que catástrofes nem sempre são punição divina
Lc 13:1 Naquela mesma ocasião, chegando alguns, falavam a Jesus a respeito dos galileus cujo sangue Pilatos misturara com os sacrifícios que os mesmos realizavam.
2 Ele, porém, lhes disse: Pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus, por terem padecido estas coisas?
3 Não eram, eu vo-lo afirmo; se, porém, não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis.
4 Ou cuidais que aqueles dezoito sobre os quais desabou a torre de Siloé e os matou eram mais culpados que todos os outros habitantes de Jerusalém?
5 Não eram, eu vo-lo afirmo; mas, se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis.


16- Jesus morreu pelos pecados dele

Não sou capaz de determinar qual foi o alvo da insurreição da qual Jesus foi considerado – seja isso verdade ou não – o promotor, caso não seja a Igreja judaica – a palavra “igreja” sendo usada aqui exatamente no mesmo sentido que possui hoje. Era uma insurreição contra “os bons e os justos”, contra os “Santos de Israel”, contra toda a hierarquia da sociedade – não contra a corrupção, mas contra as castas, o privilégio, a ordem, o formalismo. Era uma descrença no “homem superior”, um Não arremessado contra tudo que padres e teólogos defendiam. Mas a hierarquia que foi posta em causa por esse movimento, ainda que por apenas um instante, era uma jangada que, acima de tudo, era necessária à segurança do povo judaico em meio às “águas” – representava sua última possibilidade de sobrevivência; era o último residuum(2) de sua existência política independente; um ataque contra isso era um ataque contra o mais profundo instinto nacional, contra a mais tenaz vontade de viver de um povo que jamais existiu sobre a Terra. Esse santo anarquista incitou o povo de baixeza abissal, os réprobos e “pecadores”, os chandala do judaísmo a emergirem em revolta contra a ordem estabelecida das coisas – e com uma linguagem que, se os Evangelhos merecem crédito, hoje o conduziria à Sibéria –, esse homem certamente era um criminoso político, ao menos tanto quanto era possível o ser em uma comunidade tão absurdamente apolítica. Foi isso que o levou à cruz: a prova consiste na inscrição colocada sobre ela. Morreu pelos seus pecados – não há qualquer razão para se acreditar, não importa quanto isso seja afirmado, que tenha morrido pelo pecado dos outros.  O Anticristo XXVII

Resposta:

Jesus não cometeu nenhum pecado, ele morreu por causa de ter se contraposto a corrupção dos sacerdotes, fariseus, saduceus e doutores da lei judaica

Mateus 27:18  Porque sabia que, por inveja, o tinham entregado.

Marcos 15:10  Pois ele bem percebia que por inveja os principais sacerdotes lho haviam entregado
11  Mas estes incitaram a multidão no sentido de que lhes soltasse, de preferência, Barrabás.
12  Mas Pilatos lhes perguntou: Que farei, então, deste a quem chamais o rei dos judeus?
13  Eles, porém, clamavam: Crucifica-o!

Lc 11:39  O Senhor, porém, lhe disse: Vós, fariseus, limpais o exterior do copo e do prato; mas o vosso interior está cheio de rapina e perversidade.
40  Insensatos! Quem fez o exterior não é o mesmo que fez o interior?
41  Antes, dai esmola do que tiverdes, e tudo vos será limpo.
42  Mas ai de vós, fariseus! Porque dais o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as hortaliças e desprezais a justiça e o amor de Deus; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas.
43  Ai de vós, fariseus! Porque gostais da primeira cadeira nas sinagogas e das saudações nas praças.
44  Ai de vós que sois como as sepulturas invisíveis, sobre as quais os homens passam sem o saber!
45  Então, respondendo um dos intérpretes da Lei, disse a Jesus: Mestre, dizendo estas coisas, também nos ofendes a nós outros!
46  Mas ele respondeu: Ai de vós também, intérpretes da Lei! Porque sobrecarregais os homens com fardos superiores às suas forças, mas vós mesmos nem com um dedo os tocais.
47  Ai de vós! Porque edificais os túmulos dos profetas que vossos pais assassinaram.
48  Assim, sois testemunhas e aprovais com cumplicidade as obras dos vossos pais; porque eles mataram os profetas, e vós lhes edificais os túmulos.
49  Por isso, também disse a sabedoria de Deus: Enviar-lhes-ei profetas e apóstolos, e a alguns deles matarão e a outros perseguirão,
50  para que desta geração se peçam contas do sangue dos profetas, derramado desde a fundação do mundo;
51  desde o sangue de Abel até ao de Zacarias, que foi assassinado entre o altar e a casa de Deus. Sim, eu vos afirmo, contas serão pedidas a esta geração.
52  Ai de vós, intérpretes da Lei! Porque tomastes a chave da ciência; contudo, vós mesmos não entrastes e impedistes os que estavam entrando.
53  Saindo Jesus dali, passaram os escribas e fariseus a argüi-lo com veemência, procurando confundi-lo a respeito de muitos assuntos,
54  com o intuito de tirar das suas próprias palavras motivos para o acusar.

Mateus 26:4  e deliberaram prender Jesus, à traição, e matá-lo.

João 5:18  Por isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não somente violava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus.

João 7:1  Passadas estas coisas, Jesus andava pela Galiléia, porque não desejava percorrer a Judéia, visto que os judeus procuravam matá-lo.

João 11:53  Desde aquele dia, resolveram matá-lo.

Marcos 10:45  Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.

Jesus obedeceu a lei e comprou  a nossa redenção
Gl 4:4  vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei,
para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos

Romanos 5:19  Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos.



17-Os discípulos alteraram a doutrina de Jesus?

O pressuposto para ela é que o tipo do Redentor se conservou com uma forte desfiguração. Tal desfiguração tem em si muita verosimilhança: este tipo não podia, por várias razões, manter-se puro, completo, livre de adições. O meio em que se movia esta estranha figura, e mais ainda, a história, o destino das primeiras comunidades cristãs, devem nele ter deixado vestígios: a partir dele, por retroacção, o tipo foi enriquecido com traços que só se tornam compreensíveis em virtude da guerra e para fins de propaganda. 

Aquele mundo estranho e doente, em que os Evangelhos nos introduzem – um mundo como que saído de uma novela russa, onde o lixo da sociedade, a enfermidade nervosa e a idiotia «infantil» parecem ter marcado encontro – deve em todas as circunstâncias ter tornado mais tosco o tipo.

 Os primeiros discípulos, em particular, traduziram primeiro para a sua crueza própria um ser flutuando em símbolos e incompreensibilidades para dele compreenderem em geral alguma coisa – para eles só existiu após uma moldagem em formas conhecidas... O Profeta, o Messias, o juiz futuro, o professor de moral, o taumaturgo, João Baptista – outras tantas ocasiões para avaliar indevidamente o tipo... Por fim, não minimizemos o proprium de toda a grande veneração, em particular a sectária: apaga no ser venerado os traços originários, muitas vezes penosamente estranhos, e as idiossincrasias – deixa até de os ver. 


Deveria lamentar-se que um Dostoievsky não tenha vivido na proximidade deste interessantíssimo décadent, quero dizer, alguém que soubesse sentir justamente o fascínio comovente de uma tal mescla de sublime, de doentio e infantil. 

Um último ponto de vista: o tipo, enquanto tipo de décadence, poderia efectivamente ter sido de uma peculiar multiplicidade e contrariedade: tal possibilidade não deve de todo excluir-se. Não obstante, dela tudo parece dissuadir-nos: a tradição deveria neste caso ser notavelmente fiel e objectiva; temos a seu respeito razões para admitir o contrário. Entretanto, há uma contradição entre o pregador das montanhas, dos lagos e dos prados, cuja manifestação é como a de um Buda num terreno muito pouco indiano, e aquele fanático da agressão e inimigo mortal dos teólogos e dos sacerdotes, que a malícia de Renan exaltou como «le grand maître en ironie». Eu próprio não duvido de que a copiosa dose de fel (e até de esprit) foi derramada sobre o tipo do Mestre só em virtude do estado de agitação da propaganda cristã: conhece-se sobejamente a falta de escrúpulos de todos os sectários em aprontar a sua própria apologia a partir do seu mestre. Quando a primeira comunidade precisou de um teólogo justiceiro, querelante, tempestuoso, perversamente capcioso contra os teólogos, criou para si o seu «Deus», segundo as suas necessidades: assim como também lhe pôs, sem hesitação, na boca os conceitos de todo contrários ao Evangelho, que agora não poderia dispensar, a «segunda vinda» [de Cristo], o «Juízo Final», toda a espécie de esperança e promessa temporais. O Anticristo XXXI

Resposta:

O filósofo extrai segundo sua concepção pessoal traços de Jesus e o reduz , como veremos a seguir, numa pessoa com enfermidade no sistema nervoso, um idiota. Ele faz alusão ao escrito de Dostoievsky. Jesus se resume a um homem infantil, assexual e idiota - (ver abaixo)  https://br.rbth.com/cultura/87463-o-idiota-de-dostoi%C3%A9vski-resumido


18-Jesus um idiota- idiotia infantil?

O que me importa é o tipo psicológico do Salvador. Esse tipo talvez seja descrito nos evangelhos, apesar de que em uma forma mutilada e saturada de caracteres estrangeiros – isto é, a despeito dos Evangelhos; assim como a figura de Francisco de Assis se apresenta em suas lendas a despeito de suas lendas. A questão não é a veracidade das evidências sobre seus feitos, seus ditos ou sobre como foi sua morte; a questão é se seu tipo ainda pode ser compreendido, se foi conservado. – Todas as tentativas de que tenho conhecimento de se ler a história da “alma” nos Evangelhos revelam para mim apenas uma lamentável leviandade psicológica. O senhor Renan, esse arlequim in psychologicis, forneceu para a sua explicação do tipo de Jesus os dois conceitos mais inadequados que aqui se podem dar: o conceito de génio e o conceito de herói. Justamente o contrário de toda a luta, de todo o sentimento belicoso, tornou-se ali instinto: a incapacidade de resistência muda-se aqui em moral («não resistas ao mal», a palavra mais profunda dos Evangelhos, a sua chave em certo sentido), a beatitude na paz, na doçura, no não-poder-ser-inimigo! Que significa a «Boa Nova»? Encontrou-se a verdadeira vida, a vida eterna – não é prometida, está aqui, está em vós: como vida no amor, no amor sem retraimento e exclusão, sem distância. Cada um é filho de Deus – Jesus nada absolutamente pretende só para si, como filho de Deus –, cada um é igual a todos... Fazer de Jesus um herói! E que mal-entendido não é a palavra «génio»! Todo o nosso conceito, o nosso conceito cultural de «espírito» não tem nenhum sentido no mundo em que Jesus vive. Com a linguagem rigorosa do fisiólogo, estaria aqui melhor no seu lugar uma palavra de todo diferente: a palavra idiota. Conhecemos um estado de irritação mórbida do sentido do tacto, que se retrai perante cada acto de contacto, perante toda a captação de um objecto sólido. Traduz-se semelhante habitus fisiológico para a sua lógica derradeira – como ódio instintivo contra toda a realidade, como fuga para o «impalpável», para o «incompreensível», como aversão contra toda a fórmula, todo o conceito de tempo e de espaço, contra tudo o que é sólido, costume, instituição, Igreja; como o estar-em-casa num mundo em que nenhuma espécie de realidade ainda se agita, num mundo simplesmente «interior», num mundo «verdadeiro», num mundo «eterno»... «O reino de Deus está em vós»...  O Anticristo  XXIX

Resposta:

Nietzsche chamou Jesus de retardado em outro escrito:
“O fato de que os verdadeiros instintos viris – não somente os sexuais, mas igualmente os de luta, orgulho, heroísmo – não foram jamais despertados nele, o fato de que seja retardado [zurückgeblieben] e tenha permanecido infantilmente na fase da puberdade: eis o que é próprio de certo tipo de neurose epileptóide.”   FP 14 [38] da primavera de 1888. Sobre a relação entre idiotia e epilepsia, cf.: Féré, Charles. Épilepsies et les épileptiques. Paris: Félix Alcan, 1890, especialmente pp. 231-232.

Essa consideração nietzschiana é, em verdade, uma apropriação da personagem Míchkin, presente em O idiota, de Dostoiévsky, embora alguns autores neguem. Como vimos no cap. 31 Nietzsche cita uma novela russa e o nome de Dostoievsky e fala da enfermidade nervosa e idiotia infantil.

Ora, o príncipe Liev Nikoláievitch Míchkin era um jovem russo, que retornara com 26 anos
de idade à Rússia, após um período de tratamento médico na Suíça. Com frequentes ataques epilépticos, Míchkin encontrou na Suíça um local adequado para restabelecer sua saúde. Contudo, seu tratamento trouxe consigo uma transformação
psicofisiológica. Por um lado, toda obra O idiota é uma ode à compaixão. Por outro, há uma sublime fragilidade em Míchkin que o leva a ser alguém diferenciado, inadequado a certos padrões comportamentais hegemônicos Entretanto, Dostoiévski acrescentou a esses traços e caracteres psicofisiológicos a ideia russa de iuród. Trata-se do caráter esquisito, que faz de Míchkin alguém idiota, sem ser, contudo, doente mental. Nas palavras de Bezerra: “O esquisito é aquele que se desvia acentuadamente do papel social que lhe destinam, o iuród tanto pode ser um indivíduo atoleimado, juridicamente irresponsável, como um mendigo e louco com dons proféticos”.61 Essa esquisitice capaz de integrar compaixão, beleza e desajuste atravessa as vicissitudes trágicas de toda obra. Importa salientar somente alguns aspectos do romance que permitem inteligir o tipo psicofisiológico de Míchkin....Esse ‘idiota’ (...) às vezes era capaz de compreender tudo imediatamente e nas sutilezas e transmitir de maneira extremamente satisfatória”,62 ou seja, Míchkin não era estúpido, era possuidor de um tipo profundo de compreensão do outro e de seus modos de ser. Essa compreensão, todavia, não era acompanhada por qualquer capacidade de tirar proveito do outro. Míchkin não manipula nem explora ninguém. Por isso, sua sabedoria não cria subterfúgios, resistências ou máscaras. Sendo capaz de dar a outra face, o perdão irrompe com facilidade em seus comportamentos.
Após ser ofendido por Gánia e lhe ter dito o quanto se sentira mal com a ofensa, Míchkin foi capaz de perdoá-lo tão logo o primeiro se desculpou por sua agressividade:...Em outras palavras, nem diante do assassino da mulher pela qual nutria amor e compaixão Míchkin conseguiu travar um embate ou mesmo vingar-se. O amor sem iracúndia era sua única opção.
No caso do tipo do Redentor, Nietzsche se orienta pela tipologia do idiota dostoievskiano, patente no personagem Míchkin, de O idiota. Ao se deparar com Jesus, o Redentor aparece como destituído de qualquer forma de ressentimento. Não é, portanto, escravo. Contudo, não é nobre ou senhor. Antes, Jesus é um idiota, pois afirma o amor como sua única possibilidade e é avesso a todo tipo de oposição e conflitividade. Ao amar até o inimigo, Jesus retoma psicofisiologicamente Míchkin, alguém que afaga até o assassino de Nastácia, aquela que ele buscava proteger com o seu amor. Ora, Míchkin mostra para Nietzsche a possibilidade de uma vida não ressentida não ser necessariamente uma vida afirmativa. É isso que permite a Nietzsche desvincular Jesus de alguma modalização do tipo do além-do-homem, forma de existência caracterizada pela plena afirmatividade da vontade de poder. Ademais, o tipo do Redentor também permite a Nietzsche compreender que as culturas ocidentais produziram hegemonias escravas não por causa de Jesus, mas por causa do caráter sacerdotal do cristianismo paulino, que é a forma histórica vitoriosa e preponderante de cristianismo. 
Cabral, A. (2021). Dostoiévski em Nietzsche: considerações crítico-genealógicas. RUS (São Paulo), 12(18). https://doi.org/10.11606/issn.2317-4765.rus.2021.184281

 

 Eu devo observar ao senhor, Gavrila Ardaliónovitch – disse subitamente o príncipe –, que antes eu realmente era uma pessoa tão sem saúde que de fato era quase um idiota; mas hoje estou restabelecido há muito tempo e por isso acho um tanto desagradável quando me chamam de idiota na cara (DOSTOIÉVSKI, F. O Idiota, p. 114)


ele [Schneider] me disse que se havia convencido inteiramente de que eu mesmo sou uma criança perfeita, isto é, plenamente criança, que apenas pelo tamanho e pelo rosto eu me pareço com um adulto, mas que pelo desenvolvimento, a alma o caráter e talvez até a inteligência eu não sou um adulto e assim o serei mesmo que viva até o sessenta anos. Eu ri muito: é claro que ele não tem razão, porque, que criança sou eu? No entanto existe aí apenas uma verdade; eu realmente não gosto de estar com adultos, com pessoas, com grandes – isso eu notei faz tempo –, não gosto porque não sei (DOSTOIÉVSKI, F. O idiota, pp. 98-99).

“Em primeiro lugar, esse principezinho é um idiota doente, em segundo um imbecil, não conhece nem a sociedade, não tem nem um lugar na sociedade” (DOSTOIÉVSKI, F. O Idiota, p. 567)

Talvez o senhor não saiba, mas por causa da minha doença congênita nunca conheci mulher (DOSTOIÉVSKI, F. O idiota, p. 33).

 

Talvez aqui [em Petersburgo] também me achem uma criança – que achem! Também me acham idiota sabe-se lá por quê, eu realmente estive tão doente naquela época que parecia mesmo um idiota; mas que idiota sou agora, quando eu mesmo compreendo que me consideram um idiota? Entro em algum lugar e penso: “Pois bem, me consideram idiota, mas apesar de tudo eu sou inteligente e eles nem adivinham” (DOSTOIÉVSKI, F. O idiota, p. 100).38

 Esta passagem pode muito bem indicar que ao classificar Jesus como idiota, Nietzsche não está querendo lhe imputar o aspecto de “parvo”, “imbecil”, “tolo”, ”estúpido”, “sem inteligência”, etc. Mas alguém cujo condicionamento fisiológico o impede de interagir com a efetividade do mundo que o rodeia, de entender as necessidades, também fisiológicas, do homem público e do mundo que este constrói e habitaRevista Trágica: estudos sobre Nietzsche – 1º semestre 2010 – Vol.3 – nº1 – pp. 21-40 21 -O Jesus de Nietzsche e o príncipe Míchkin de Dostoiévski Allan Davy Santos Sena

Refletindo mais tarde sobre esse instante, já em estado sadio, ele dizia freqüentemente de: que todos esses raios e relâmpagos da suprema auto-sensação e autoconsciência e, portanto, da “suprema existência” não passam de uma doença, de perturbação do estado normal e, sendo assim, nada têm de suprema existência, devendo, ao contrário, ser incluídos na mais baixa existência. E, não obstante, ainda assim ele acabou chegando a uma conclusão extremamente paradoxal: “Qual é o problema de ser isso uma doença? – decidiu finalmente. – Qual é o problema se essa tensão é anormal, se o próprio resultado, se o minuto da sensação lembrada e examinada já em estado sadio vem a ser o cúmulo da harmonia, da beleza, dá uma sensação inaudita e até então inesperada de plenitude, de medida, de conciliação e de fusão extasiada e suplicante com a mais sublime síntese da vida?” (DOSTOIÉVSKI, F. O Idiota, p. 261)

  O uso que Nietzsche faz do termo “idiota” para classificar o tipo psicológico do Redentor em O Anticristo, não possui acepção agressiva, pejorativa ou detratora, mas sim remete ao sentido original da palavra vinda do grego idiótes,39 a saber, homem-privado, aquele que não pertence ao ambiente público e ao meio político, um indivíduo totalmente alheio aos negócios do Estado. Revista Trágica: estudos sobre Nietzsche – 1º semestre 2010 – Vol.3 – nº1 – pp. 21-40 21 -O Jesus de Nietzsche e o príncipe Míchkin de Dostoiévski Allan Davy Santos Sena

Conclusão:

Nietzschi chamou Jesus de idiota no sentido de ter uma condição congenita que o impede de ser maduro (idiotia infantil- nas palavras de Nietzsche), avesso a todo tipo de oposição e conflitividade, sem conhecimento real do mundo político (enfermidade nervosa), sem despertamento para sexualidade. Jesus é um ingênuo, fala doutrinas de dentro de si, de auto-afirmações:


Oponho-me, diga-se mais uma vez, a que o fanático se introduza no tipo do Redentor: a palavra impérieux, que Renan usa, anula já por si só o tipo. A «Boa Nova» consiste justamente em já não existirem antagonismos; o Reino dos Céus pertence às crianças; a fé que aqui se faz ouvir não é uma fé adquirida pela luta – ela está aí, está aí desde o princípio, é por assim dizer a ingenuidade que se refugiou no espiritual. O caso da puberdade retardada e não plenamente desenvolvida no organismo como sintoma resultante da degenerescência é familiar, pelo menos, aos fisiólogos. Semelhante fé não se irrita, não censura, não se defende: não usa «a espada» - nem sequer pressente até que ponto ela pode alguma vez criar cisões. Não se demonstra nem por milagres, nem por recompensas e promessas, nem sequer «pela Escritura»: ela é, em cada instante, o seu milagre, a sua recompensa, a sua prova, o seu «Reino de Deus». Esta fé também não se formula – vive, defende-se contra fórmulas. O acaso do meio envolvente, da língua, da formação de fundo determina, sem dúvida, um certo círculo de conceitos: o Cristianismo primitivo serve-se unicamente de conceitos judaico-semíticos (o comer e o beber na ceia integra-se neles, conceito esse de que a Igreja, como de tudo o que é judaico, tão maldosamente abusou). 

Mas tem-se o cuidado de não ver aí algo mais do que uma linguagem de sinais, uma semiótica, uma oportunidade para parábolas. Que, justamente, nenhuma palavra se tome à letra é para este anti-realista a condição prévia de em geral poder falar. Entre os Hindus, ter-se-ia servido dos conceitos de sankhyam, entre os Chineses, dos de Lao-Tsé – e sem aí descobrir qualquer diferença. 


Com alguma tolerância na expressão, Jesus poderia chamar-se um «espírito livre» - o que é concreto não importa: a palavra mata, tudo o que é sólido mata. O conceito, a experiência «vida», como a única que ele conhece, opõe-se nele a toda a espécie de palavra, fórmula, lei, fé, dogma. Fala simplesmente a partir do mais íntimo – tudo o mais, a realidade integral, a natureza inteira, a própria linguagem tem para ele somente o valor de um sinal, de uma parábola. Importa, neste lugar, não se equivocar de modo algum, por maior que seja a sedução que reside no preconceito cristão, quer dizer eclesiástico: semelhante simbolismo par excellence encontra-se fora de toda a religião, de todo o conceito de culto, de toda a ciência histórica, de toda a ciência natural, de toda a experiência do mundo, de todos os conhecimentos, de toda a política, de toda a psicologia, de todos os livros, de toda a arte – o seu «saber» é pura ignorância de que existem coisas assim. A civilização nem sequer lhe é conhecida por ouvir dizer, não precisa de lutar contra ela – não a nega... O mesmo se diga a propósito do Estado, de toda a ordem civil e da sociedade, do trabalho, da guerra – jamais teve uma razão para negar o «mundo», nunca pressentiu o conceito eclesiástico de «mundo»... A negação é pois, para ele, de todo impossível. Falta-lhe de igual modo a dialéctica, falta-lhe a ideia de que uma fé, uma «verdade» se possa demonstrar mediante razões (as suas provas são «luzes» interiores, sentimentos interiores de prazer e auto-afirmações, genuínas «provas de força»). Uma tal doutrina também não pode contradizer, não compreende sequer que há, e possa haver, outras doutrinas, mas sabe imaginar o juízo contrário... Sempre que com ele depara, entristece-se por compaixão interior com a «cegueira» – porque ela vê a luz –, mas não levantará qualquer objecção...O Anticristo 32


19-Distorções sobre o ensinamento de Jesus e suas práticas

Em toda a psicologia do «Evangelho» falta o conceito de culpa e de castigo; igualmente o conceito de recompensa. O «pecado», toda a relação de distância entre Deus e o homem, é suprimido– é essa justamente a «Boa Nova». 

A beatitude não está prometida, não se encontra vinculada a condições: é a única realidade– o resto é sinal para dela se falar...As consequências de um tal estado projectam-se numa prática nova, a prática genuinamente evangélica. Não é a «fé» que distingue o cristão: o cristão age, distingue-se por um agir diferente. 

Ao que é mau para com ele não oferece resistência nem por palavras nem no coração. Não faz distinção alguma entre o estrangeiro e o indígena, entre o judeu e o não judeu (o «próximo», em rigor o correligionário na fé, o judeu). 

Não se aborrece com ninguém, a ninguém menospreza. 

Não se deixa ver nos tribunais, nem faz reivindicações («não jurar» ).

 Em nenhum caso se separa da esposa, nem sequer também em caso de adultério comprovado desta última. 

Tudo isto é, no fundo, um princípio, tudo é consequência de um instinto.

 A vida do Salvador foi tão-só esta prática– a sua morte também nada foi de diferente... Ele já não tinha necessidade nem de fórmulas, nem de ritos, para a sua comunhão com Deus nem sequer da oração. Acabou com toda a doutrina judaica da penitência e da reconciliação; sabe que só com a prática da vida é que alguém se sente «divino», «bem-aventurado», «evangélico», e a cada momento um«Filho de Deus». A «penitência» e a «oração pelo perdão» não são caminhos para Deus: só a prática evangélica leva a Deus, ela é justamente «Deus».

 O que se aboliu com o Evangelho foi o judaísmo das noções de «pecado», de «remissão dos pecados», de «fé», de «salvação pela fé»– toda a doutrina eclesiástica judaica foi negada na «Boa Nova». O Anticristo 33

Resposta:

Nietzsche fez uma leitura precipitada dos Evangelhos: 

Culpa, castigo, recompensa

Lc 12:47 Aquele servo, porém, que conheceu a vontade de seu senhor e não se aprontou, nem fez segundo a sua vontade será punido com muitos açoites.
48 Aquele, porém, que não soube a vontade do seu senhor e fez coisas dignas de reprovação levará poucos açoites. Mas àquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e àquele a quem muito se confia, muito mais lhe pedirão

Mateus 18:8  Portanto, se a tua mão ou o teu pé te faz tropeçar, corta-o e lança-o fora de ti; melhor é entrares na vida manco ou aleijado do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres lançado no fogo eterno.

Mateus 25:41  Então, o Rei dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos.

Mateus 8:12  Ao passo que os filhos do reino serão lançados para fora, nas trevas; ali haverá choro e ranger de dentes.
Mateus 13:42  e os lançarão na fornalha acesa; ali haverá choro e ranger de dentes.

Mateus 22:13  Então, ordenou o rei aos serventes: Amarrai-o de pés e mãos e lançai-o para fora, nas trevas; ali haverá choro e ranger de dentes.

Mateus 24:51  e castigá-lo-á, lançando-lhe a sorte com os hipócritas; ali haverá choro e ranger de dentes.

Mateus 25:30  E o servo inútil, lançai-o para fora, nas trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes.

Lucas 13:28  Ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes, no reino de Deus, Abraão, Isaque, Jacó e todos os profetas, mas vós, lançados fora.

Mateus 25:46  E irão estes para o castigo eterno, porém os justos, para a vida eterna.

Se aborrece
Jo 2:14  E encontrou no templo os que vendiam bois, ovelhas e pombas e também os cambistas assentados;
15  tendo feito um azorrague de cordas, expulsou todos do templo, bem como as ovelhas e os bois, derramou pelo chão o dinheiro dos cambistas, virou as mesas
16  e disse aos que vendiam as pombas: Tirai daqui estas coisas; não façais da casa de meu Pai casa de negócio.
17  Lembraram-se os seus discípulos de que está escrito: O zelo da tua casa me consumirá.

oração
Marcos 1:35  Tendo-se levantado alta madrugada, saiu, foi para um lugar deserto e ali orava.
Marcos 14:35  E, adiantando-se um pouco, prostrou-se em terra; e orava para que, se possível, lhe fosse poupada aquela hora.
Lucas 5:16  Ele, porém, se retirava para lugares solitários e orava.
Lucas 9:29  E aconteceu que, enquanto ele orava, a aparência do seu rosto se transfigurou e suas vestes resplandeceram de brancura.
Lucas 18:11  O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano;
Lucas 22:41  Ele, por sua vez, se afastou, cerca de um tiro de pedra, e, de joelhos, orava,
Lucas 22:44  E, estando em agonia, orava mais intensamente. E aconteceu que o seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra.

divórcio em caso de adultério
Mateus 19:9  Eu, porém, vos digo: quem repudiar sua mulher, não sendo por causa de relações sexuais ilícitas, e casar com outra comete adultério e o que casar com a repudiada comete adultério.

Salvação pela fé
João 3:15  para que todo o que nele crê tenha a vida eterna.
João 3:16  Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
João 3:18  Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.
João 3:36  Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.
João 5:24  Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida.
João 6:47  Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim tem a vida eterna.
João 11:25  Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá;
João 11:26  e todo o que vive e crê em mim não morrerá, eternamente. Crês isto?

arrependimento e reconciliação
Lucas 15:7  Digo-vos que, assim, haverá maior júbilo no céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento.
Lucas 15:10  Eu vos afirmo que, de igual modo, há júbilo diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende.
Mateus 3:2  Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus.
Marcos 1:15  dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos  e crede no evangelho
Lucas 17:3  Acautelai-vos. Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; se ele se arrepender, perdoa-lhe.
Lucas 24:47  e que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão  de pecados a todas as nações, começando de Jerusalém.
Lucas 15:24  porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado. E começaram a regozijar-se.


remissão dos pecados

Mateus 26:28 porque isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados.
Lucas 24:47  e que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão  de pecados a todas as nações, começando de Jerusalém.

juramento

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resistência aos malfeitores
João 8:59  Então, pegaram em pedras para atirarem nele; mas Jesus se ocultou e saiu do templo.

Lc 10:39 ¶ Nesse ponto, procuravam, outra vez, prendê-lo; mas ele se livrou das suas mãos.

Lc 4:29  E, levantando-se, expulsaram-no da cidade e o levaram até ao cimo do monte sobre o qual estava edificada, para, de lá, o precipitarem abaixo.
30  Jesus, porém, passando por entre eles, retirou-se.

distinção entre etnias
Mt 10:5 A estes doze enviou Jesus, dando-lhes as seguintes instruções: Não tomeis rumo aos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos;
6  mas, de preferência, procurai as ovelhas perdidas da casa de Israel;

Mt 15:22  E eis que uma mulher cananéia, que viera daquelas regiões, clamava: Senhor, Filho de Davi, tem compaixão de mim! Minha filha está horrivelmente endemoninhada.
23  Ele, porém, não lhe respondeu palavra. E os seus discípulos, aproximando-se, rogaram-lhe: Despede-a, pois vem clamando atrás de nós.
24  Mas Jesus respondeu: Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel.
25  Ela, porém, veio e o adorou, dizendo: Senhor, socorre-me!
26  Então, ele, respondendo, disse: Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos.
27  Ela, contudo, replicou: Sim, Senhor, porém os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos.
28  Então, lhe disse Jesus: Ó mulher, grande é a tua fé! Faça-se contigo como queres. E, desde aquele momento, sua filha ficou sã.


20-Visões dos profetas são doenças mentais

126. Arte e força da falsa interpretação. — Todas as visões, terrores, esgotamentos e êxtases do santo são estados patológicos conhecidos, que ele, a partir de arraigados erros religiosos e psicológicos, apenas interpreta de modo totalmente diverso, isto é, não como doença. — Assim o demônio de Sócrates talvez seja também uma doença do ouvido, que ele apenas explica conforme seu pensamento moral dominante, de maneira diversa de como se faria hoje. Não acontece de outro modo com as loucuras e os delírios dos profetas e sacerdotes oraculares; foi sempre o grau de saber, fantasia, empenho, moralidade na cabeça e no coração dos intérpretes que tanto fez a partir dessas coisas. Entre as maiores realizações daqueles que chamamos de gênios e santos se inclui a de conquistar intérpretes que os compreendem mal para o bem da humanidade.   Humano, Demasiadamente Humano
Resposta: 
Nietzsche teria que provar que Deus não existe, mas não o fez. Portanto, se Deus existe ele  pode dar visões a pessoas que ele escolhe. Todos sabemos que existem delírios e êxtases de origem diversas não só por patologias ou por substâncias, mas dizer que não passa de estados patológicos é cometer a falácia do reducionismo ou da generalização. Assim como atribuiu a Jesus "problema mental", aqui atribui aos profetas.


21- Mais distorções sobre o evangelho

Se alguma coisa há que eu compreenda acerca deste grande simbolista é o facto de ele ter tomado como realidades, como «verdades», apenas realidades interiores – de ter considerado o resto, tudo o que é natural, temporal, espacial, histórico, apenas como signos, como oportunidade de parábolas. O conceito de «Filho do homem» não é uma pessoa concreta que pertence à história, algo de individual, de único, mas um facto «eterno», um símbolo psicológico liberto do conceito do tempo. O mesmo se diga mais uma vez, e no mais elevado sentido, do Deus deste simbolista típico, do «Reino de Deus», do «Reino dos Céus», da «filiação divina».


Nada poderia ser mais acristão que as cruas noções eclesiásticas de um Deus como pessoa, de um “reino de Deus” vindouro, de um “reino dos céus” no além e de um “filho de Deus” como segunda pessoa da Trindade. Isso tudo – perdoem-me a expressão – é como soco no olho (e que olho!) do Evangelho: um desrespeito aos símbolos elevado a um cinismo histórico-mundial... Todavia é suficientemente óbvio o significado dos símbolos “Pai” e “Filho” – não para todos, é claro –: a palavra “Filho” expressa a entrada em um sentimento de transformação de todas as coisas (beatitude); Pai” expressa esse próprio sentimento – a sensação da eternidade e perfeição.

– Envergonho-me de lembrar o que a Igreja fez com esse simbolismo: ela não colocou uma história de Anfitrião(1) no limiar da “fé” cristã? E um dogma da “imaculada conceição” ainda por cima?... – Com isso conseguiu apenas macular a concepção...       

   O “reino dos céus” é um estado de espírito – não algo que virá “além do mundo” ou “após a morte”. Toda a idéia de morte natural está ausente nos Evangelhos: a morte não é uma ponte, não é uma passagem; está ausente porque pertence a um mundo bastante diferente, um mundo apenas aparente, apenas útil enquanto símbolo. A “hora da morte” não é uma idéia cristã – “horas”, tempo, a vida física e suas crises são inexistentes para o mestre da “boa-nova”... O “reino de Deus” não é uma coisa pela qual os homens aguardam: não teve um ontem nem terá um amanhã, não virá em um “milênio” – é uma experiência do coração, está em toda parte e não está em parte alguma..O Anticristo XXXIV


Este «alegre mensageiro» morreu como viveu, como ensinara – não para «redimir os homens», mas para mostrar como se deve viver. A prática foi o que ele deixou à Humanidade: a sua conduta perante
os juízes, perante os verdugos, perante os acusadores e perante toda a espécie de calúnia e ultraje – o seu comportamento na cruz. Não resiste, não defende o seu direito, não dá passo algum que afaste dele

o fim; mais ainda, provoca-o... E suplica, sofre, ama com aqueles, por aqueles que lhe fazem mal... As palavras proferidas ao ladrão na cruz encerram todo o Evangelho. – «– Este era em verdade um homem divino, um Filho de Deus» – diz o ladrão. «– Se sentes isso – responde o Redentor, então estás no paraíso, és também um filho de Deus...» Não se defender, não se encolerizar, não responsabilizar.., mas também não resistir ao mal – amá-lo...  O Anticristo 35


Resposta:

Nietzsche pinça partes dos evangelhos segundo o critério pessoal de um Jesus com idiotia infantil, assexual e com enfermidade nervosa, tirado da novela de Dostoievsky como vimos acima.

Ele criou interpretações subjetivas do texto desprezando não só os Evangelhos mas o Antigo Testamento:

Filho do Homem se refere ao Messias e o Messias é Filho (Deus)

Dn 7:13  Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do Homem, e dirigiu-se ao Ancião de Dias, e o fizeram chegar até ele.

14  Foi-lhe dado domínio, e glória, e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído.

Mc 14:61  Ele, porém, guardou silêncio e nada respondeu. Tornou a interrogá-lo o sumo sacerdote e lhe disse: És tu o Cristo, o Filho do Deus Bendito?

62  Jesus respondeu: Eu sou, e vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo com as nuvens do céu.

63  Então, o sumo sacerdote rasgou as suas vestes e disse: Que mais necessidade temos de testemunhas?

64  Ouvistes a blasfêmia; que vos parece? E todos o julgaram réu de morte.


O termo Pai e Filho vem do Antigo Testamento- o Messias era Deus

Isaías 9:6  Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz;

Miquéias 5:2  E tu, Belém-Efrata, pequena demais para figurar como grupo de milhares de Judá, de ti me sairá o que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade.

Jo 10:2  Disse-lhes Jesus: Tenho-vos mostrado muitas obras boas da parte do Pai; por qual delas me apedrejais?

33  Responderam-lhe os judeus: Não é por obra boa que te apedrejamos, e sim por causa da blasfêmia, pois, sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo.

34  Replicou-lhes Jesus: Não está escrito na vossa lei: Eu disse: sois deuses?

35  Se ele chamou deuses àqueles a quem foi dirigida a palavra de Deus, e a Escritura não pode falhar,

36  então, daquele a quem o Pai santificou e enviou ao mundo, dizeis: Tu blasfemas; porque declarei: sou Filho de Deus?

Marcos 12:35 ¶ Jesus, ensinando no templo, perguntou: Como dizem os escribas que o Cristo é filho de Davi?

36  O próprio Davi falou, pelo Espírito Santo: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés.

37  O mesmo Davi chama-lhe Senhor; como, pois, é ele seu filho? E a grande multidão o ouvia com prazer.

Jo 1:1 No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
14  E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai.
18  Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou.

O reino de Jesus tinha um aspecto presente e futuro como apontam os estudiosos dos Evangelhos:

João 18:36  Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus ministros se empenhariam por mim, para que não fosse eu entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui

Lc 19:12  Então, disse: Certo homem nobre partiu para uma terra distante, com o fim de tomar posse de um reino e voltar.

13  Chamou dez servos seus, confiou-lhes dez minas e disse-lhes: Negociai até que eu volte.

Lc 22:29  Assim como meu Pai me confiou um reino, eu vo-lo confio,
30  para que comais e bebais à minha mesa no meu reino; e vos assentareis em tronos para julgar as doze tribos de Israel

Lucas 22:16  Pois vos digo que nunca mais a comerei, até que ela se cumpra no reino de Deus.

Jesus não disse que o paraíso era presente mas futuro, pós morte.
Lucas 23:43  Jesus lhe respondeu: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso


22-Negações das verdades dos Evangelhos- ressurreição, segunda vinda - Paulo

Mesmo na mais modesta pretensão de equidade, deve hoje saber-se que um teólogo, um sacerdote, um
Papa, e cada frase que pronuncia, não só se engana, mas mente – que já não lhe é dado mentir por «inocência», por «ignorância». Também o sacerdote sabe, como qualquer pessoa, que já não há «Deus», nem «pecado», nem «Redentor» - que a «vontade livre», a «ordem moral do mundo» são mentiras: a seriedade, a profunda auto-superação do espírito já não permite a ninguém ser a tal respeito ignorante... 

... Sabemos, a nossa consciência sabe hoje o que em geral valem as intenções sinistras dos sacerdotes e da Igreja, para que serviram, com as quais se obteve este estado de autoviolação da humanidade, a náusea que o seu espectáculo pode suscitar – os conceitos de «Além», de «Juízo Final», de «imortalidade da alma», de «alma» são instrumentos de tortura, são sistemas de atrocidades, graças aos quais o sacerdote se tornou senhor, permaneceu senhor... O Anticristo 38
E desde então surgiu um problema absurdo: «como podia Deus admitir isso?» A razão perturbada da pequena comunidade encontrou para tal questão uma resposta assustadoramente absurda: Deus entregou o seu Filho como sacrifício para remissão dos pecados. Como de súbito se acabou o Evangelho! O sacrifício expiatório, e claro está, na sua forma mais repulsiva, mais bárbara, o sacrifício do inocente pelo pecado dos culpadosQue paganismo horroroso

E, no entanto, Jesus suprime o conceito de «culpa», negou o abismo entre Deus e o homem, viveu a unidade de Deus enquanto homem como a sua «Boa Nova»... E não como privilégio! Doravante introduz-se gradualmente no tipo de Salvador a doutrina do juízo e da segunda vinda, a doutrina da morte como morte sacrificial,doutrina da ressurreição, com a qual se escamoteou toda a noção de «beatitude», a plena e única realidade do Evangelho em favor de um estado após a morte!... Paulo logicou esta concepção – obscena concepção – com a impudência rabínica que em tudo distingue: «se Cristo não ressuscitou, então é vã a nossa fé». E, de súbito, o Evangelho tornou-se a mais desprezível de todas as promessas irrealizáveis, a doutrina insolente da imortalidade pessoal... O próprio Paulo ensinava-a como recompensa!... O Anticristo 41
Em Paulo, personifica-se o tipo antagónico ao do «alegre mensageiro», o génio no ódio, na visão do ódio, na implacável lógica do ódio. Quantas coisas este disangelista sacrificou ao ódio! Acima de tudo, o Redentor: cravou-o na sua cruz. A vida, o exemplo, a doutrina, a morte, o sentido e o direito de todo o Evangelho – já nada existia, quando este falso moedeiro se apoderou por ódio de tudo o que só a ele poderia ser útil. Não a realidade, não a verdade histórica!... E, mais uma vez ainda, o instinto sacerdotal do judeu perpetuou o mesmo ingente crime contra a História: suprimiu simplesmente o ontem, o anteontem, do Cristianismo, inventou para si uma história do Cristianismo primitivo. Mais anda: falsificou novamente a história de Israel para ela aparecer como a pré-história da sua acção: todos os profetas falaram do seu «Salvador»...


 A Igreja, mais tarde, falsificou mesmo a história da humanidade para dela fazer a pré-história do Cristianismo... O tipo do Salvador, a doutrina, a prática, o sentido da morte, e até o que vem a seguir à morte – nada ficou sequer semelhante à realidade. Paulo deslocou simplesmente o centro da gravidade de toda a existência para a retaguarda dessa existência – para a mentira de Jesus «ressuscitado». No fundo, não podia servir- -se em geral da vida do Redentor – tinha necessidade da morte na cruz e ainda de algo mais... Aceitar a sinceridade de um Paulo, que tinha a sua pátria na sede principal do Iluminismo estóico, quando a partir de uma alucinação apontava a prova, a sobrevivência do Salvador, ou também apenas a partir do seu relato de que tivera tal alucinação, seria uma verdadeira niaiserie, por parte de um psicólogo: Paulo queria o fim, logo, queria também os meios... Aquilo em que ele próprio não acreditava era objecto de fé para os idiotas, entre os quais ele lançara a sua doutrina. A sua necessidade era o poder; com Paulo, o sacerdote quis mais uma vez o poder – e só podia utilizar conceitos, doutrinas, símbolos, por meio dos quais se tiranizam as multidões e se formam rebanhos. O que é que, mais tarde, Maomé foi apenas buscar ao Cristianismo? A invenção de Paulo, o seu meio de tirania sacerdotal, para o arrebanhamento: a fé na imortalidade – isto é, a doutrina do «juízo»... O Anticirsto 42
Resposta:
Nietzsche parte da pressuposto, sem provas, que Deus não existe.

Depois faz uma leitura seletiva usando dos Evangelhos sob a hipótese do Romance  O Idiota de Dostoievsky, afirma que os ensinos de Jesus foram deturpados pelos discípulos e em especial Paulo dizendo que as doutrinas dos Evangelhos são mentiras.

Nietzsche esquece que a conversão de Paulo se dá bem depois da morte de Jesus e que já havia varios anos da ressurreição de Cristo.

Teria Paulo inventado a ressurreição muitos anos depois? Não seria improvável? Porque o Novo Testamento apela para testemunho de mulheres, mostra a incredulidade da maioria dos apóstolos? 
E os outros escritores do Novo Testamento/? João, Mateus, Marcos. Tiago, Pedro, etc, anteriores a Paulo?

O que Paulo ganhou com esta invenção?
Açoites, prisões, bofetadas, perseguições, etc. e a propria morte.  É razoável esta hipótese de Nietzsche?

A ressurreição do Messias já estava prevista no AT
Is 53:9-11 fala de um homem sem pecado dando sua vida como oferta pelo pecado, levando o pecado e depois de morto, isto é, ressuscitado verá toda a sua obra. Os exílios sofridos por Israel (tribos do Norte) e Judá (Sul) foram resultado dos seus pecados contra a palavra de Javé (Os 8.13-14; Is 1.21-31;
Is 53:9  Designaram-lhe a sepultura com os perversos, mas com o rico esteve na sua morte, posto que nunca fez injustiça, nem dolo algum se achou em sua boca.
10 ¶ Todavia, ao SENHOR agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do SENHOR prosperará nas suas mãos.
11  Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniqüidades deles levará sobre si.

Marcos 14:28  Mas, depois da minha ressurreição, irei adiante de vós para a Galiléia.
Mateus 16:21  Desde esse tempo, começou Jesus Cristo a mostrar a seus discípulos que lhe era necessário seguir para Jerusalém e sofrer muitas coisas dos anciãos, dos principais sacerdotes e dos escribas, ser morto e ressuscitado no terceiro dia.
Mateus 17:23  e estes o matarão; mas, ao terceiro dia, ressuscitará. Então, os discípulos se entristeceram grandemente.
Mateus 20:19  E o entregarão aos gentios para ser escarnecido, açoitado e crucificado; mas, ao terceiro dia, ressurgirá.
Mateus 27:64  Ordena, pois, que o sepulcro seja guardado com segurança até ao terceiro dia, para não suceder que, vindo os discípulos, o roubem e depois digam ao povo: Ressuscitou dos mortos; e será o último embuste pior que o primeiro.
Lucas 9:22  dizendo: É necessário que o Filho do Homem sofra muitas coisas, seja rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e pelos escribas; seja morto e, no terceiro dia, ressuscite.

Lucas 18:33  e, depois de o açoitarem, tirar-lhe-ão a vida; mas, ao terceiro dia, ressuscitará.
Lucas 24:7  quando disse: Importa que o Filho do Homem seja entregue nas mãos de pecadores, e seja crucificado, e ressuscite no terceiro dia.

Lucas 24:46  e lhes disse: Assim está escrito que o Cristo havia de padecer e ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia


O juízo final e ressurreição dos justos eram crenças dos judeus e ensinadas por Cristo

Dn 12:2 Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e horror eterno.

Lucas 10:14  Contudo, no Juízo, haverá menos rigor para Tiro e Sidom do que para vós outras.
Lucas 11:31  A rainha do Sul se levantará, no Juízo, com os homens desta geração e os condenará; porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. E eis aqui está quem é maior do que Salomão.
Lucas 11:32  Ninivitas se levantarão, no Juízo, com esta geração e a condenarão; porque se arrependeram com a pregação de Jonas. E eis aqui está quem é maior do que Jonas

Jo 5:28  Não vos maravilheis disto, porque vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão:
29  os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo.



23-Só Jesus foi cristão?

Volto atrás, e vou contar a autêntica história do Cristianismo. Já a palavra «Cristianismo» é um equívoco – no fundo, existiu apenas um único cristão, e esse morreu na cruz. O «Evangelho» morreu na cruz. O que desde esse instante se chamou «Evangelho» era já o contrário
do que Cristo vivera: uma «má nova», um dysangelium. É falso até ao contra-senso ver numa «fé», por exemplo a fé na salvação por Cristo, a insígnia do cristão: unicamente a prática cristã, uma vida como a viveu aquele que morreu na cruz, tem algo de cristão...Hoje, uma tal vida é ainda possível e até necessária para certos homens: o Cristianismo autêntico, originário, será possível em todas as épocas...O Anticristo 39

Resposta:
Como já dito o filósofo tem uma concepção de Jesus como o Idiota de Dostoievsky, onde conceitos de paraíso futuro, pecado, arrependimento, redenção, etc. são invenções posteriores


24-Acusações de mentiras
Os Evangelhos, como testemunho da corrupção já irresistível no seio das primeiras comunidades, são inestimáveis. O que Paulo, mais tarde, levou a cabo com o cinismo lógico de um rabino foi, não obstante, apenas um processo de decadência, que começara com a morte do Redentor. Tais Evangelhos não se podem ler com suficiente precaução: têm as suas dificuldades por detrás de cada palavra. Confesso, e ninguém me levará a mal, que são por isso mesmo para um psicólogo um prazer de primeira ordem – como o contrário de toda a perversidade ingénua, como refinamento par excéllence, como o virtuosismo na perversidade psicológica. 

Os Evangelhos aguentam-se por si. A Bíblia em geral não suporta comparação alguma. Estamos entre Judeus: primeiro ponto de vista, para aqui não se perder inteiramente o fio. A autodissimulação em «sagrado», aqui justamente transformada em génio, nunca aliás conseguida aproximadamente entre os livros e os homens, tal falsificação de palavras e de gestos enquanto arte não é o acaso de qualquer dom individual, de uma qualquer natureza excepcional. Aqui, requer-se a raça. No Cristianismo, enquanto arte de mentir santamente, chega à derradeira mestria todo o judaísmo, uma aprendizagem e técnica judaica de muitos e muitos séculos, e das mais sérias. O cristão, esta ultima ratio da mentira, é uma vez mais o judeu – três vezes ele próprio... A vontade de por princípio empregar apenas conceitos, símbolos, atitudes, que se comprovam a partir da práxis do sacerdote, a recusa de qualquer outra práxis, de qualquer outra espécie de perspectiva de valor e de utilidade – isso não é apenas tradição, é herança: só enquanto herança é que age como natureza. A humanidade inteira, até as melhores cabeças das melhores épocas (exceptuando uma só, que talvez fosse simplesmente um monstro) deixou-se enganar. O Anticristo 44
Resposta:
Como vimos até agora quem falsifica o evangelho é Nietzsche.


25-Citações dos evangelhos seguidas de intepretações equivocadas

XLV– Ofereço alguns exemplos do tipo de coisa que essa gente insignificante tinha dentro de suas cabeças – do que colocaram na boca do Mestre: a cândida crença de “belas almas”.

   “E tantos quantos vos não receberem, nem vos ouvirem, saindo dali, sacudi o pó que estiver debaixo dos vossos pés, em testemunho contra eles. Em verdade vos digo que haverá mais tolerância no dia do juízo para Sodoma e Gomorra, do que para os daquela cidade” (Marcos, 6:11). – Quão evangélico!  

“E qualquer que escandalizar um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que lhe pusessem ao pescoço uma mó de atafona, e que fosse lançado no mar” (Marcos, 9:42). – Quão evangélico!
Resposta:
Um ser justo não pode deixar de fazer justiça, O maior tormento dos ímpios é a própria consciência deles, pois verão que fizeram a escolha errada
Lc 13:28  Ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes, no reino de Deus, Abraão, Isaque, Jacó e todos os profetas, mas vós, lançados fora.
29  Muitos virão do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul e tomarão lugares à mesa no reino de Deus.

 “E, se o teu olho te escandalizar, lança-o fora; melhor é para ti entrares no reino de Deus com um só olho do que, tendo dois olhos, seres lançado no fogo do inferno, onde o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga” (Marcos, 9:47-48). – Não é exatamente do olho que se trata...  
Resposta:
Não mesmo, se trata de uma comparação figurada, comparações que existem em muitos idiomas.
Jesus disse que tudo começa no interior do homem:
Marcos 7:21  Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios,


“Dizia-lhes também: Em verdade vos digo que, dos que aqui estão, alguns há que não provarão a morte sem que vejam chegado o reino de Deus com poder” (Marcos 9:1). – Bem mentido, leão!...(1) 
Resposta:
Isso se cumpriu pouco tempo depois, as linhas seguintes explicam:
Mc 9:1 ¶ Dizia-lhes ainda: Em verdade vos afirmo que, dos que aqui se encontram, alguns há que, de maneira nenhuma, passarão pela morte até que vejam ter chegado com poder o reino de Deus.
Seis dias depois, tomou Jesus consigo a Pedro, Tiago e João e levou-os sós, à parte, a um alto monte. Foi transfigurado diante deles;
3  as suas vestes tornaram-se resplandecentes e sobremodo brancas, como nenhum lavandeiro na terra as poderia alvejar.
4  Apareceu-lhes Elias com Moisés, e estavam falando com Jesus.
5  Então, Pedro, tomando a palavra, disse: Mestre, bom é estarmos aqui e que façamos três tendas: uma será tua, outra, para Moisés, e outra, para Elias.
6  Pois não sabia o que dizer, por estarem eles aterrados.
7  A seguir, veio uma nuvem que os envolveu; e dela uma voz dizia: Este é o meu Filho amado; a ele ouvi.
8  E, de relance, olhando ao redor, a ninguém mais viram com eles, senão Jesus.
9  Ao descerem do monte, ordenou-lhes Jesus que não divulgassem as coisas que tinham visto, até o dia em que o Filho do Homem ressuscitasse dentre os mortos.
10  Eles guardaram a recomendação, perguntando uns aos outros que seria o ressuscitar dentre os mortos.
11  E interrogaram-no, dizendo: Por que dizem os escribas ser necessário que Elias venha primeiro?
12  Então, ele lhes disse: Elias, vindo primeiro, restaurará todas as coisas; como, pois, está escrito sobre o Filho do Homem que sofrerá muito e será aviltado?
13  Eu, porém, vos digo que Elias já veio, e fizeram com ele tudo o que quiseram, como a seu respeito está escrito.
14 ¶ Quando eles se aproximaram dos discípulos, viram numerosa multidão ao redor e que os escribas discutiam com eles.
15  E logo toda a multidão, ao ver Jesus, tomada de surpresa, correu para ele e o saudava.
16  Então, ele interpelou os escribas: Que é que discutíeis com eles?

Lc 9:27  Verdadeiramente, vos digo: alguns há dos que aqui se encontram que, de maneira nenhuma, passarão pela morte até que vejam o reino de Deus.
28 ¶ Cerca de oito dias depois de proferidas estas palavras, tomando consigo a Pedro, João e Tiago, subiu ao monte com o propósito de orar.
29  E aconteceu que, enquanto ele orava, a aparência do seu rosto se transfigurou e suas vestes resplandeceram de brancura.
30  Eis que dois varões falavam com ele: Moisés e Elias,
31  os quais apareceram em glória e falavam da sua partida, que ele estava para cumprir em Jerusalém.
32  Pedro e seus companheiros achavam-se premidos de sono; mas, conservando-se acordados, viram a sua glória e os dois varões que com ele estavam.
33  Ao se retirarem estes de Jesus, disse-lhe Pedro: Mestre, bom é estarmos aqui; então, façamos três tendas: uma será tua, outra, de Moisés, e outra, de Elias, não sabendo, porém, o que dizia.
34  Enquanto assim falava, veio uma nuvem e os envolveu; e encheram-se de medo ao entrarem na nuvem.
35  E dela veio uma voz, dizendo: Este é o meu Filho, o meu eleito; a ele ouvi.
36  Depois daquela voz, achou-se Jesus sozinho. Eles calaram-se e, naqueles dias, a ninguém contaram coisa alguma do que tinham visto
Obviamente a contagem de 6 a 8 depende de qual dia iniciamos e terminamos a contagem, por exemplo: 

segunda , terça, quarta, quinta, sexta ,sábado, domingo, segunda- oito dias
segunda , terça, quarta, quinta, sexta ,sábado, domingo, segunda- sete dias
segunda, terça, quarta, quinta, sexta ,sábado, domingo, segunda- seis dias

 “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me. Porque...” (Nota de um psicólogo: a moral cristã é refutada pelos seus porquês: suas razões a contrariam – isso a faz cristã) 
Mc 8;35  Quem quiser, pois, salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por causa de mim e do evangelho salvá-la-á.
36  Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?
37  Que daria um homem em troca de sua alma?

Resposta:
Os império Romano perseguiu os cristãos por causa do culto ao imperador, o qual eles negavam em prestar (vide Carta de Plínio a Trajano. Será que Nietzsche prestaria culto ao imperador?
Negar a si significa negar os pecados como mentira, adultério, assassinato, estupro, etc. Jesus nunca ensinou uma vida de negação do corpo, da vida e da terra. Na verdade ensinou a evitar aquilo que prejudica a nós e aos outros. Dizer que o ensino de Cristo nega a vida , o corpo e a terrra é distorção dos ensinos de Cristo.

(Marcos, 8:34).   “Não julgueis, para que não sejais julgados ...com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós” (Mateus 7:1-2). – Que noção de justiça, que juiz “justo”!... 
Resposta:
 Mt 7:1 Não julgueis, para que não sejais julgados.
2  Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também.
3  Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio?
4  Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu?
Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão.
Jesus condena aqui a hipocrisia das pessoas que julgam os outros sem atentar para seus próprios erros. Será que Nietzsche concorda com a hipocrisia? Não. 
Jesus não condenou o julgamento justo, pelo contrário como vimos anteriormente


 “Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim?” (Mateus 5:46-47). – Princípio do “amor cristão”: no fim das contas quer ser bem pago... 
Resposta:
O texto não diz que o propósito da ação benevolente é a recompensa diante de Deus, na verdade o propósito da ação é ajudar o necessitado, Jesus apenas ressaltou que além disso a pessoa será recompensada por Deus quando age com a motivação correta
Mt 5:46  Porque, se amardes os que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem os publicanos também o mesmo?
47  E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os gentios também o mesmo?
48  Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste.
Mt 6:1 Guardai-vos de exercer a vossa justiça diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles; doutra sorte, não tereis galardão junto de vosso Pai celeste.
2  Quando, pois, deres esmola, não toques trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa.
3  Tu, porém, ao dares a esmola, ignore a tua mão esquerda o que faz a tua mão direita;
4  para que a tua esmola fique em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará

 “Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas” (Mateus 6:15). – Muito comprometedor para o assim chamado “pai”.
Resposta:
Nietzsche esqueceu de ler a parábola que mostra que Deus perdoa quando há verdadeiro arrependimento, independentemente do erro ou grau de erro. A seguite parábola mostra a ingratidão e injustiça da pessoa que foi perdoada, mas não quer perdoar:

Mt 18:23  Por isso, o reino dos céus é semelhante a um rei que resolveu ajustar contas com os seus servos.
24  E, passando a fazê-lo, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos.
25  Não tendo ele, porém, com que pagar, ordenou o senhor que fosse vendido ele, a mulher, os filhos e tudo quanto possuía e que a dívida fosse paga.
26  Então, o servo, prostrando-se reverente, rogou: Sê paciente comigo, e tudo te pagarei.
27  E o senhor daquele servo, compadecendo-se, mandou-o embora e perdoou-lhe a dívida.
28  Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos que lhe devia cem denários; e, agarrando-o, o sufocava, dizendo: Paga-me o que me deves.
29  Então, o seu conservo, caindo-lhe aos pés, lhe implorava: Sê paciente comigo, e te pagarei.
30  Ele, entretanto, não quis; antes, indo-se, o lançou na prisão, até que saldasse a dívida.
31  Vendo os seus companheiros o que se havia passado, entristeceram-se muito e foram relatar ao seu senhor tudo que acontecera.
32  Então, o seu senhor, chamando-o, lhe disse: Servo malvado, perdoei-te aquela dívida toda porque me suplicaste;
33  não devias tu, igualmente, compadecer-te do teu conservo, como também eu me compadeci de ti?
34  E, indignando-se, o seu senhor o entregou aos verdugos, até que lhe pagasse toda a dívida.
35  Assim também meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão

  “Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mateus 6:33). – Todas estas coisas: isto é, alimento, vestuário, todas necessidades da vida. Um erro, para ser eufêmico... Um pouco antes esse Deus apareceu como um alfaiate, pelo menos em certos casos.  
Resposta:
Nietzsche parece acreditar que a passagem diria que nossas necessidades são supridas sem trabalho, mas é um erro como já demonstrei em 4.2

“Folgai nesse dia, exultai; porque eis que é grande o vosso galardão no céu, pois assim faziam os seus pais aos profetas” (Lucas 6:23). – Canalha indecente! Já se compara aos profetas... 
Resposta:
Os profetas foram perseguidos por causa da mensagem de justiça, da mesma forma que Jesus e seus seguidores.
Lc 6:22  Bem-aventurados sois quando os homens vos odiarem e quando vos expulsarem da sua companhia, vos injuriarem e rejeitarem o vosso nome como indigno, por causa do Filho do Homem.
23  Regozijai-vos naquele dia e exultai, porque grande é o vosso galardão no céu; pois dessa forma procederam seus pais com os profetas.
 “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém violar o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo” (I Paulo aos coríntios, 3:16-17). – Para coisas assim não há desprezo suficiente...  “Não sabeis vós que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deve ser julgado por vós, sois porventura indignos de julgar as coisas mínimas?” (I Paulo aos coríntios, 6:2). – Infelizmente, não é apenas o discurso de um lunático... Esse espantoso impostor assim prossegue: “Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos? Quanto mais as coisas pertencentes a esta vida?”...
  
Resposta:
Nietzsche não percebeu que Paulo estava escrevendo , dentre outras coisas de pecados sexuais como adultério, incesto e prostituição. Ele exige o julgamento de tais pessoas:
1 Co 5:1 ¶ Geralmente, se ouve que há entre vós imoralidade e imoralidade tal, como nem mesmo entre os gentios, isto é, haver quem se atreva a possuir a mulher de seu próprio pai.
2  E, contudo, andais vós ensoberbecidos e não chegastes a lamentar, para que fosse tirado do vosso meio quem tamanho ultraje praticou?

9 ¶Já em carta vos escrevi que não vos associásseis com os impuros (que se prostituem)
10  refiro-me, com isto, não propriamente aos impuros deste mundo, ou aos avarentos, ou roubadores, ou idólatras; pois, neste caso, teríeis de sair do mundo.
11  Mas, agora, vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal, nem ainda comais.
12  Pois com que direito haveria eu de julgar os de fora? Não julgais vós os de dentro?
13  Os de fora, porém, Deus os julgará. Expulsai, pois, de entre vós o malfeitor.
1 ¶ Aventura-se algum de vós, tendo questão contra outro, a submetê-lo a juízo perante os injustos e não perante os santos?
2  Ou não sabeis que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deverá ser julgado por vós, sois, acaso, indignos de julgar as coisas mínimas?
3  Não sabeis que havemos de julgar os próprios anjos? Quanto mais as coisas desta vida!
4  Entretanto, vós, quando tendes a julgar negócios terrenos, constituís um tribunal daqueles que não têm nenhuma aceitação na igreja.
5  Para vergonha vo-lo digo. Não há, porventura, nem ao menos um sábio entre vós, que possa julgar no meio da irmandade?
6  Mas irá um irmão a juízo contra outro irmão, e isto perante incrédulos!

1 Co 6:15  Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo? E eu, porventura, tomaria os membros de Cristo e os faria membros de meretriz? Absolutamente, não.
16  Ou não sabeis que o homem que se une à prostituta forma um só corpo com ela? Porque, como se diz, serão os dois uma só carne.


“Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo? Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação... Não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados. Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; e Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que nada são, para aniquilar as que são; para que nenhuma carne se glorie perante ele” (I Paulo aos coríntios, 1:20 e adiante(2)). – Para compreender esta passagem, um exemplo de primeira linha da psicologia da moral de chandala, deve-se ler a primeira parte de minha “Genealogia da Moral”: nela, pela primeira vez, foi evidenciado o antagonismo entre a moral nobre e a moral de chandala, nascida do ressentimento e da vingança impotente. Paulo foi o maior dos apóstolos da vingança... 1 – Paráfrase de Demétrio. “Bem rugido, leão!”, ato V, cena I de “Sonho de uma Noite de Verão”, por William Shakespeare. O leão, obviamente, é o símbolo cristão para Marcos. (H. L. Mencken) 2 – 20, 21, 26, 27, 28, 29.
Resposta:
Paulo nunca ensinou a moral do ressentimento ou da vingança. Já vimos que a Genealogia da Moral de Nietzsche não tem sustentação histórica, nem mesmo etmológica ou filológica.
Neste texto e na carta Paulo não faz críticas a sabedoria grega com um todo, pelo contrário, Paulo usa, por exemplo, de elementos comuns da filosofia grega clássica de Platão como da condenação da prática homossexual (livro AS LEIS em Romanos) e da Ética a Nicômaco de Aristóteles na condenação do desequilíbrio. Mas ao mesmo tempo fala da ressurreição, doutrina não aceita pela cultura greco-romana.

De forma alguma Paulo diz que a Filosofia é inútil ou desprezível, mas os teóricos da filosofia nunca foram unânimes em suas considerações.

Ora, nos apetites naturais poucos se enganam, e numa só direção, a do excesso; e comer ou beber tudo que se tenha à mão, até a saciedade, é exceder a medida natural, pois que o apetite natural se limita a preencher o que nos falta. Por isso tais pessoas são chamadas "deuses do estômago", dando a entender que enchem o estômago além da medida. E só pessoas de caráter inteiramente abjeto se tornam assim....

Da justiça particular e do que é justo no sentido correspondente, (A uma espécie é a que se manifesta nas distribuições de honras, de dinheiro ou das outras coisas que são divididas entre aqueles que têm parte na constituição (pois aí é possível receber um quinhão igual ou desigual ao de um outro); e (B) outra espécie é aquela que desempenha um papel corretivo nas transações entre indivíduos. Desta última há duas divisões: dentre as transações, (1) algumas são voluntárias, e (2 outras são involuntárias — voluntárias, por exemplo, as compras e vendas, os empréstimos para consumo, as arras, o empréstimo para uso, os depósitos, as locações (todos estes são chamados voluntários porque a origem das transações é voluntária); ao passo que das involuntárias, (a) algumas são clandestinas, como o furto, o adultério, o envenenamento, o lenocínio, o engodo a fim de escravizar, o falso testemunho, e (b) outras são violentas, como a agressão, o seqüestro, o homicídio, o roubo a mão armada, a mutilação, as invectivas e os insultos. Ética a Nicômaco

"E faça-se a observação em tom sério ou a título de gracejo, seguramente não se deixa de constatar que quando o macho se une à fêmea para procríação o prazer experimentado é considerado devido à natureza, porém contrário à natureza quando o macho se une ao macho ou a fêmea se une à fêmea, sendo que os primeiros responsáveis por tais enormidades foram impelidos pelo domínio que o prazer exercia sobre, eles" Leis. Livro I. Platão


 "Se fôssemos seguir os passos da natureza e promulgar aquela lei que era vigente antes da época de Laio, declarando que é certo nos abster da relação sexual em que substituímos um a mulher por um homem ou um rapaz , aduzindo como evidência a natureza dos animais selvagens e apontando o fato do macho não tocar o macho com esse, propósito , visto que é contra a natureza..."  Leis. Livro VIII. Platão


1 Co 6:9  Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas,
10  nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus.
11  Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus.
12 ¶ Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas.
13  Os alimentos são para o estômago, e o estômago, para os alimentos; mas Deus destruirá tanto estes como aquele. Porém o corpo não é para a impureza, mas, para o Senhor, e o Senhor, para o corpo.
14  Deus ressuscitou o Senhor e também nos ressuscitará a nós pelo seu poder.
15  Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo? E eu, porventura, tomaria os membros de Cristo e os faria membros de meretriz? Absolutamente, não.
16  Ou não sabeis que o homem que se une à prostituta forma um só corpo com ela? Porque, como se diz, serão os dois uma só carne.
17  Mas aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele.
18  Fugi da impureza. Qualquer outro pecado que uma pessoa cometer é fora do corpo; mas aquele que pratica a imoralidade peca contra o próprio corpo.
19  Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos?
20  Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo.
1 ¶ Quanto ao que me escrevestes, é bom que o homem não toque em mulher;
2  mas, por causa da impureza, cada um tenha a sua própria esposa, e cada uma, o seu próprio marido.
3  O marido conceda à esposa o que lhe é devido, e também, semelhantemente, a esposa, ao seu marido.
4  A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim o marido; e também, semelhantemente, o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim a mulher.
5  Não vos priveis um ao outro, salvo talvez por mútuo consentimento, por algum tempo, para vos dedicardes à oração e, novamente, vos ajuntardes, para que Satanás não vos tente por causa da incontinência.

1 Coríntios 15:32  Se, como homem, lutei em Éfeso com feras, que me aproveita isso? Se os mortos não ressuscitam, comamos e bebamos, que amanhã morreremos.

Conclusão: 
Nietzsche faz uma leitura superficial e completamente descontextualizada do texto bíblico.



25-Altruísmo

63. ÓDIO DO PRÓXIMO Supondo que consideremos nosso próximo como ele se considera a si mesmo — o que Schopenhauer chama compaixão e que seria exatamente autocompaixão — seriamos forçados a odiá-lo se, como Pascal, ele próprio se julga odiável. Era precisamente o sentimento geral de Pascal com relação aos homens e também aquele do antigo cristianismo que, sob Nero, foi qualificado de odium generis humanis14, como Tácito relata.  Aurora - Nietzsche

79-Uma proposta.
Se, segundo Pascal e o cristianismo, nosso eu é sempre odioso, como podemos admitir e aceitar que outros o amem — fossem eles Deus ou homens? Seria contrário a toda a decência deixar-se amar, sabendo perfeitamente que só se merece o ódio — para não falar de outros sentimentos de repulsa. “Mas esse é justamente o reino da graça.” — Seu amor ao próximo é então uma graça? Sua piedade é uma graça? Pois bem, se isso lhes é possível, dêem um passo a mais: amem-se a si mesmos por graça — então não terão mais necessidade alguma de seu Deus e todo o drama da queda e da redenção se desenrolará em vocês mesmos até seu fim! .Aurora- Nietzsche

133. “NÃO PENSAR MAIS EM SI” Seria necessário refletir sobre isso seriamente: por que saltamos à água para socorrer alguém que está se afogando, embora não tenhamos por ele qualquer simpatia particular? Por compaixão: só pensamos no próximo — responde o irrefletido. Por que sentimos a dor e o mal-estar daquele que cospe sangue, embora na realidade não lhe queiramos bem? Por compaixão: nesse momento não pensamos mais em nós — responde o mesmo irrefletido. 
A verdade é que na compaixão — quero dizer, no que costumamos chamar erradamente compaixão — não pensamos certamente em nós de modo consciente, mas inconscientemente pensamos e pensamos muito, da mesma maneira que, quando escorregamos, executamos inconscientemente os movimentos contrários que restabelecem o equilíbrio, pondo nisso todo o nosso bom senso. 

O acidente do outro nos toca e faria sentir nossa impotência, talvez nossa covardia, se não o socorrêssemos. Ou então traz consigo mesmo uma diminuição de nossa honra perante os outros ou diante de nós mesmos. Ou ainda vemos nos acidentes e no sofrimento dos outros um aviso do perigo que também nos espia; mesmo que fosse como simples indício da incerteza e da fragilidade humanas que pode produzir em nós um efeito penoso. Rechaçamos esse tipo de miséria e de ofensa e respondemos com um ato de compaixão que pode encerrar uma sutil defesa ou até uma vingança. Podemos imaginar que no fundo é em nós que pensamos, considerando a decisão que tomamos em todos os casos em que podemos evitar o espetáculo daqueles que sofrem, gemem e estão na miséria: decidimos não deixar de evitar, sempre que podemos vir a desempenhar o papel de homens fortes e salvadores, certos da aprovação, sempre que queremos experimentar o inverso de nossa felicidade ou mesmo quando esperamos nos divertir com nosso aborrecimento. Fazemos confusão ao chamar compaixão (Mitleid) ao sofrimento (Leid) que nos causa um tal espetáculo e que pode ser de natureza muito variada, pois em todos os casos é um sofrimento de que está isento aquele que sofre diante de nós: diz-nos respeito a nós tal como o dele diz respeito a ele. Ora, só nos libertamos desse sofrimento pessoal quando nos entregamos a atos de compaixão. Todavia, nunca agimos assim por um só motivo: tão certo é que queremos assim nos libertar de um sofrimento, como é certo também que, pela mesma ação, cedemos a um impulso de prazer — prazer provocado pelo aspecto de uma situação contrária à nossa, à idéia de que podemos ajudar se o quisermos, ao pensamento dos elogios e do reconhecimento que recolheremos no no caso de auxiliarmos; provocado pela própria atividade de ajudar, na medida em que é o ato tenha êxito (e o sucesso causa progressivamente prazer por si mesmo ao executor), mas sobretudo provocado pelo sentimento de que nossa ação põe termo a urna injustiça revoltante (dar livre curso à própria indignação já é suficiente para reconfortar). Tudo isso, incluindo elementos ainda mais sutis, faz parte da “compaixão”: — com que peso a língua se lança, com esta palavra contra um organismo tão complexo! — Que, pelo contrario, a compaixão seja uma só com o sofrimento, cujo aspecto a suscita ou que tenha por esta uma compreensão particularmente sutil e penetrante — são duas afirmações em contradição com a experiência e aquele que glorificou a compaixão sob esses dois aspectos carece de experiência suficiente no domínio da moral. É por isso que levanto dúvidas ao ler as coisas incríveis que Schopenhauer escreve sobre a compaixão: ele que gostaria com isso nos levar a crer na grande novidade de sua descoberta, segundo a qual a compaixão — essa compaixão que observa tão imperfeitamente e que descreve tão mal descrita — seria a fonte de toda ação moral presente e futura — e justamente graças às atribuições que teve de começar a inventar para ela. — O que é que distingue, no final das contas, os homens sem compaixão dos homens compassivos? Antes de tudo — para dar apenas um esboço em grandes linhas — eles não têm a imaginação irritadiça do temor, a sutil faculdade de pressentir o perigo; por isso é que sua vaidade é ferida menos depressa se ocorrer alguma coisa que tivessem podido evitar (a precaução de sua altivez lhes ordena que não se metam inutilmente nos assuntos alheios, e gostam mesmo que cada um a começar por eles se ajude a si próprio e jogue suas próprias cartas). Além disso, estão geralmente mais habituados que os compassivos a suportar a dor e não lhes parece injusto que outros sofram, pois eles mesmos já sofreram.

 Enfim, o aspecto dos corações sensíveis lhes causa pena, como o aspecto da estóica impassibilidade a causa aos homens compassivos; não têm, para os corações sensíveis, senão palavras desdenhosas e temem que seu espírito viril e sua fria bravura estejam em perigo, escondem suas lágrimas diante dos outros e as enxugam, irritados consigo mesmos. Fazem parte de outro tipo de egoístas, diferentes dos compassivos; — mas chamá-los maus num sentido distintivo e bons os homens compassivos, isso não passa de uma moda moral que faz época: precisamente como a moda contrária teve sua época, uma época muito longa! Aurora - Nietzsche

[...] Nosso amor ao próximo, não é ele uma ânsia por nova propriedade? Quando vemos alguém sofrer, aproveitamos com gosto a oportunidade que nos é oferecida para tomar posse desse alguém; é o que faz o homem compassivo, que também chama de “amor” ao desejo de nova posse que é nele avivado Gaia Ciência -  Nietzsche

Resposta:
Nietzsche elenca algumas possibilidades plausíveis pelas quais uma pessoa possa ajudar outras, mas ele restringe todas a essas sentimentos egoístas. O próprio Jesus condenou este tipo de motivação:
Mateus 6:1  Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus.

2  Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.

26- Cristianismo - negação da ciência, do conhecimento (a sabedoria do mundo [filosofia]e da medicina
Nietzsche faz uma leitura de Gênesis centrada na sua visão pessoal e bem equivocada do cristianismo:

Uma religião como o Cristianismo, que não aflora a realidade em ponto algum, que se desvanece logo que a realidade faz sentir o seu direito num ponto qualquer ,terá justamente de ser o inimigo mortal da «sabedoria do mundo», quero dizer, da ciência: aprovará todos  os meios para poder envenenar, difamar,  desacreditar a disciplina do espírito, a pureza e o rigor em matérias de consciência do espírito, a nobre frieza e liberdade do espírito. A «fé» ,enquanto imperativo, é o veto contra a  ciência–in praxi, a mentira a todo o custo...Paulo compreendeu que a mentira –a «fé»–era necessária; a Igreja, mais tarde, compreendeu de novo Paulo. O «Deus» que Paulo inventou, um Deus que «reduza nada» a «sabedoria deste mundo»(em sentido mais estrito, os dois grandes adversários de toda a superstição, a filosofia e a medicina),é na verdade apenas a decisão ousada de Paulo em chamar «Deus» à sua própria vontade, thora [lei] que é algo de arquijudeu. O filólogo vê por detrás dos “livros sagrados”, o médico vê por detrás da degeneração fisiológica do cristão típico. O médico diz “incurável”; o filólogo diz “fraude. O Anticristo cap. 48

 Ter-se-á, em rigor, compreendido a famosa história que se encontra no princípio da Bíblia, a história do temor mortal de Deus perante a ciência?... Não se compreendeu. Esse livro sacerdotal par excéllence começa, como é justo, com a grande dificuldade interior do sacerdote: para ele, há apenas um único grande perigo, logo, para «Deus» há apenas um grande perigo.

O Deus antigo, inteiramente «espírito», inteiramente sumo-sacerdote, plena perfeição, passeia aprazivelmente no seu jardim; contudo, aborrecese. Também os deuses lutam em vão contra o tédio. Que faz ele? Inventa o homem – o homem distrai... Mas eis que também o homem se aborrece. A misericórdia de Deus para com a única indigência, que todos os paraísos em si têm, não conhece limites: criou então ainda outros animais. Primeiro equívoco de Deus: o homem não achou divertidos os animais – dominou sobre eles, nem sequer quis ser «animal ». Deus criou, então, a mulher. E, efectivamente, cessou o tédio, mas também ainda muitas outras coisas! A mulher foi o segundo erro de Deus. «A mulher é, por essência, uma serpente, Eva». Todo o sacerdote sabe isto; «pela mulher vem todo o mal ao mundo» – também isto o sabe todo o sacerdote. «Logo, a ciência também vem dela»... Foi só pela mulher que o homem aprendeu a saborear a árvore do conhecimento. Que aconteceu? Um pânico de morte se apoderou do Deus antigo. O próprio homem tornara-se o seu maior erro, ele criara um rival, a ciência iguala a Deus: se o homem se torna científico, é o fim dos sacerdotes e dos deuses! Moral: a ciência é a interdição em si, só ela é proibida. A ciência é o primeiro pecado, o germe de todos os pecados, o pecado original. Eis a única moral. «Não conhecerás »: o resto segue-se daí. O pânico mortal de Deus não o impediu de ser astuto. Como defender-se da ciência? Eis o seu problema principal, durante muito tempo. Resposta: fora com o homem do paraíso!

A felicidade, o ócio evoca pensamentos – todos os pensamentos são maus pensamentos... O homem não deve pensar: e o «sacerdote em si» inventa a indigência, a morte, o perigo mortal da gravidez, toda a espécie de miséria, a velhice, a fadiga, sobretudo a doença – simples meios na luta contra as ciências! A indigência não permite ao homem pensar... E, apesar de tudo, que coisa tremenda! A obra do conhecimento acumula-se, alcandora-se até ao céu, anuncia o crepúsculo dos deuses – que fazer? O Deus antigo inventa a guerra, separa os povos, faz que os homens entre si se aniquilem (os sacerdotes tiveram sempre necessidade da guerra...). A guerra é, entre outras coisas, um grande desmancha-prazeres da ciência! Incrível! O conhecimento, a emanciparão relativamente ao sacerdote, aumenta apesar das guerras. E uma última decisão ocorre ao Deus antigo: «o homem tornou-se científico, de nada serve, há que afogá-lo!»...


O filólogo vê por detrás dos “livros sagrados”, o médico vê por detrás da degeneração fisiológica do cristão típico.O médico diz “incurável”; o filólogo diz “fraude

Resposta: 

1-Nietzsche  acreditava numa teoria equivocada sobre a fisiologia, medicina e biologia, ele pensava que a vontade de potencia era ligada a cada parte ínfima do corpo humano, como células que lutam entre si e que tinham vontade e consciencia:

Nietzsche já vislumbra um único e mesmo procedimento tanto na vida social e psicológica quanto na fisiológica.conceito de vontade de potência, servindo como elemento explicativo dos fenômenos biológicos, será também tomado como parâmetro para a análise dos fenômenos psicológicos e sociais; é ele que vai constituir o elo de ligação entre as reflexões pertinentes às ciências da natureza e as que concernem às ciências do espírito. ..Das forças cósmicas aos valores humanos. Scarlett Marton. São Paulo:Brasiliense, 1990, p. 29-30


Em Assim falou Zaratustra, o filósofo expressa, por vez primeira em sua obra, a idéia de que vida e vontade de potência se identificam. E acrescenta: “somente onde há vida, há também vontade: mas não vontade de vida, e sim — assim vos ensino —vontade de potência!” (ZA II Da superação de si). Neste momento, caracteriza a vontade de potência como vontade orgânica; ela é própria não unicamente do homem mas de todo ser vivo. Em escritos posteriores vai além e deixa entrever que se exerce nos órgãos, tecidos e células. “A aristocracia no corpo”, anou, “a multiplicidade dos dominantes (luta das células e dos tecidos). A escravidão e a divisão do trabalho: o tipo superior, possível apenas através da coerção de um inferior a uma função” (XII, 2 (76)). Atuando em cada célula, a vontade de potência leva a deflagrar-se o combate entre todas elas — e, de igual modo, entre os tecidos ou os órgãos. p. 30


A luta desencadeia-se de tal forma que não há pausa ou fim possíveis. Com o combate, uma célula passa a obedecer a outra mais forte, um tecido submete-se a outro que predomina, uma parte do  organismo torna-se função de outra que vence — durante algum tempo. A luta propicia que se estabeleçam hierarquias. É assim que o filósofo explica o aparecimento das funções orgânicas. “No animal”, diz ele, “é possível deduzir todos os instintos da vontade de potência; e, do mesmo modo, dessa mesma fonte, todas as funções da vida orgânica”.3 Elas resultam da hierarquia que surge, num dado momento, entre vencedores e vencidos; procedem da vontade de potência que se exerce nos elementos que predominam. E acham-se, elas mesmas, hierarquizadas: diferença entre funções inferiores e superiores: hierarquia dos órgãos e necessidades, representada por personagens que mandam e outros que obedecem” (XI, 25 (411 )). p. 30
organismo torna-se função de outra que vence— durante algum tempo. A luta propicia que se estabeleçam hierarquias. É assim que o filósofo explica o aparecimento das funções orgânicas. “No animal”, diz ele, “é possível deduzir todos os instintos da vontade de potência; e, do mesmo modo, dessa mesma fonte, todas as funções da vida orgânica”.3 Elas resultam da hierarquia que surge, num dado momento, entre vencedores e vencidos; procedem da vontade de potência que se exerce nos elementos que predominam. E acham-se, elas mesmas, hierarquizadas: diferença entre funções inferiores e superiores: hierarquia dos órgãos e necessidades, representada por personagens que mandam e outros que obedecem” (XI, 25 (411 )). p. 30
O corpo humano ou, para sermos precisos, o que se considera enquanto tal, é constituído por numerosos seres vivos microscópicos que lutam entre si, uns vencendo e outros definhando — e assim se mantém temporariamente. O caráter pluralista da filosofia nietzs-chiana já se acha presente aí, no nível das preocupações — digamos — fisiológicas. É por facilidade que se fala num corpo, é por comodidade que se vê o corpo como unidade. É preciso, porém, encarar “o homem como multiplicidade: a fisiologia nada mais faz que indicar um maravilhoso comércio entre essa multiplicidade e o arranjo das partes sob e em um todo. Mas seria falso, disso, inferir necessariamente um Estado com um monarca absoluto (a unidade âo sujeito)”.31

Além do trabalho de Roux, Nietzsche conheceu o tratado de Rolph sobre questões de biologia. Rolph tentou explicar a variação dos organismos por outra via: o ser vivo, alimentando-se, seria levado a absorver mais do que precisava, dada a sua insaciabilidade. Nesse processo, alguns órgãos, os de captação de alimento por exemplo, poderiam entrar em luta com outros e até incorporá-los. Mas o combate não seria motivado pela autodefesa e sim pela voracidade. Isso não impediria que, com o acúmulo de alimento, a evolução ocorresse nos organismos e, com a incorporação crescente do inorgânico pelo orgânico através das plantas, a vida tendesse a aumentar na Terra. Ora, em 1881, de Roux, Nietzsche reteve a noção de que, no próprio organismo, entre órgãos, tecidos e céiulas, existe concorrência vital e, em 1884, de Roíph, a noção de que a concorrência, em vez de prejudicar a vida, aumenta sua quantidade.22   Das forças cósmicas aos valores humanos. Scarlett Marton. São Paulo:Brasiliense, 1990,p. 43 

 A luta tem caráter geral: ocorre em todos os domínios da vida e sobretudo envolve os vários elementos que constituem cada um deles. Deflagrando-se entre células, tecidos ou órgãos, entre pensamentos, sentimentos ou impulsos, implica sempre múltiplos adversários, uma pluralidade de beligerantes. “Por mais longe que alguém possa levar o autoconhecimento, nada é mais incompleto do que a imagem do conjunto de impulsos que constituem seu ser. È com dificuldade que pode chamar pelo nome os mais grosseiros; seu número e força, seu fluxo e refluxo, seus jogos recíprocos e jogos contrários e sobretudo as leis de sua nutrição permanecem totalmente desconhecidos” (A § 119).- Das forças cósmicas aos valores humanos. Scarlett Marton. São Paulo:Brasiliense, 1990,p. 47,48

Traço fundamental da vida, a luta é necessária: simplesmente não pode deixar de existir. Não visa a objetivos nem cumpre finalidades; não admite trégua nem prevê termo. Sempre presente nos seres orgânicos, excrce-.se antes de mais nada contra a morte — neles e também fora deles. “Viver — isso significa: rejeitar para longe de si algo que tende a morrer; viver — isso significa: ser cruel e inexorável com tudo o que em nós é velho e enfraquecido, e não somente em nós” (GC § 26). Com a luta, estabelecem-se hierarquias: a cada momento, determinam-se vencedores e vencidos, senhores e escravos, os que mandam e os que obedecem. A célula, ao tornar-se função de outra mais forte, está a obedecê-la; o pensamento, ao sobrepujar os demais, passa a mandar neles; o impulso, ao queixar-se de outros, recusa a obediência e busca o mando. Em Assim falou Zaratustra, aparece claramente a pergunta: “o que persuade o viveníe, para que obedeça e mande e, mandando, exerça a obediência?” — e logo adiante a resposta: “onde encontrei vida, ali encontrei vontade de potência; e até mesmo na vontade daquele que serve encontrei vontade de ser senhor (ZA II “Da superação de si”)- A idéia de luta, enquanto traço fundamenta] da vida, é agora subsumida no conceito de vontade de potência. Enquanto vontade de potência, a vida é mandar e obedecer; é portanto lutar ...Das forças cósmicas aos valores humanos. Scarlett Marton.  São Paulo:Brasiliense, 1990,p. 47,48

Ora, a vontade de potência está presente nos numerosos seres vivos microscópicos que formam o corpo, na medida em que cada um deles quer prevalecer na relação com os demais. Encontra-se, pois, em todo ser vivo, espalhada no organismo, atuando nos diminutos elementos que o constituem. Assim deixa de ter sentido, em termos fisiológicos, a idéia de um aparelho neurocerebral responsável pelo querer. “O aparelho neurocerebral não foi construído com essa ‘divina’ sutileza na intenção única de produzir o pensamento, o sentimento, a vontade”, assegura o filósofo, “parece-me, bem ao contrário, que justamente não há necessidade alguma de um ‘aparelho’, para produzir o pensar, o sentir e o querer, e que esses fenômenos, e apenas eles, constituem *a própria coisa’“ (XI, 37 (4». Nessa direção, afirma ainda: “pressupõe-se aqui que todo o organismo pensa, todas as formas orgânicas tomam parte no pensar, no sentir, no querer —por conseguinte, o cérebro é apenas um enorme aparelho de centralização”.7 Não só o querer mas também o sentir e o pensar estão disseminados pelo organismo: a relação entre eles é de tal ordem que, no querer, já se acham embutidos o sentir e o pensar, de modo que pensamento, sentimento e vontade aparecem como indissociáveis. p. 32


Contra tais idéias, reitera o filósofo no Anticrísto: “a antiga palavra ‘vontade* serve apenas para definir uma resultante, uma espécie de reação individual, que se segue necessariamente a uma multidão de estímulos em parte contraditórios, em parte concordantes — a vontade não mais ‘se efetiva’, não mais ‘põe em movimento”* (AC § 14). A chamada “teoria psicológica” negligencia o fato de a vontade agir no homem e no ser vivo em geral ou, mais precisamente, nos numerosos seres vivos microscópicos que constituem o organismo. Ora, Nietzsche toma nosso corpo como um edifício de múltiplas almas; referindo-se a almas mortais, posiciona-se contra o indivíduo; desqualifica a hipótese de um sujeito único e aponta seu caráter transitório; por fim, afirma peremptório: “o homem enquanto multiplicidade de ‘vontades de potência’ : cada uma com uma multiplicidade de meios de expressão e de formas”.9 Dessa perspectiva, nada mais errôneo do que supor a existência de um sujeito responsável pelo querer. “Minha tese”, conclui, “é que a vontade, tal como a psicologia até agora a compreendeu, é uma generalização injustificada, que essa vontade absolutamente não existe, que, em vez de apreender a transformação de uma vontade determinada em várias formas, riscou-se seu caráter e eliminou-se seu conteúdo e direção” (XIII, 14 (121)). Procede por redução quem descuida de que a vontade tem diversas direções e, por generalização, quem desconsidera que ela atua nos elementos mais ínfimos do organismo. 34

“Os fisiológos”, afirma, “deveriam refletir antes de colocar o instinto de conservação como ‘instinto cardeal’ de um ser orgânico. Algo vivo quer sobretudo extravasar sua força: a ‘conservação’ é apenas uma conseqüência disso” (XII, 2 (63)).  A vontade de potência não pode deixar de querer mais potência, mas nem mesmo isso constitui um objetivo a atingir, uma meta a alcançar, uma finalidade a realizar; trata-se simplesmente de seu caráter intrínseco. Desta perspectiva, pretender que o ser vivo busque antes de mais nada conservar-se é reintroduzir sub-repticiamente a teleologia no âmbito de que foi banida. “Em suma, aqui, como por toda parte”, adverte o filósofo, “cuidado com princípios teleológicos supérfluos! — tais como o impulso de autoconservação (que se deve à inconseqüência de Espinosa)” (BM § 13). 40-41

Em todo ser vivo, pode-se justamente mostrar, com a maior clareza, que ele faz tudo — não para conservar-se mas para tomar-se mais... (XIII, 14 (121)). 41

...a crítica equivocada a Espinosa: “querer conservar-se a si mesmo é a expressão de uma situação de penúria, de uma restrição do próprio impulso fundamental da vida, que surge da ampliação de potência e, nessa vontade, freqüentemente põe em questão e sacrifica a autoconservação. Toma-se como sintomático o fato de alguns filósofos, por exemplo o tísico Espinosa, terem visto, precisado ver no chamado instinto de autoconservação um princípio decisivo — eram homens em situação de penúria. Que nossas modernas ciências da natureza estejam de tal modo comprometidas com o dogma espinosano (recentemente ainda, e da maneira mais grosseira, no dar-winismo com sua doutrina incompreensivelmente unilateral da ‘luta pela existência’), é provável que se deva à proveniência da maioria dos naturalistas: sob esse aspecto, eles pertencem ao ‘povo’“ (GC § 349). Deixemos de lado as idéias, que apareceram em outros escritos, e as considerações sobre a origem social ou as condições físicas dos pensadores, que não cabe agora examinar. Mesmo assim, este texto apresenta interesse; introduz novo alvo de ataque: a idéia dariniana da luta pela existência. ...Grande foi o equívoco de Darwin: tomou por causa o que não passava de conseqüência. A autoconservação não impele à luta, mas dela decorre.42

Ele mostra, em escritos posteriores a Assim falou Zaratustra, que os pensamentos, sentimentos e impulsos se acham presentes nas células, tecidos e órgãos. Contudo, não se limita a afirmar que os processos psicológicos têm base neurofísiológica; procura, antes, suprimir a distinção entre fisiologia e psicologia. Não é por acaso que usa este termo de modo muito específico, vinculando-o à questão dos valores. Se, do ponto de vista fisiológico, deixa de ter sentido a idéia de um aparelho neurocerebral responsável pelo querer, tampouco faz sentido, em termos filosóficos, considerar a vontade uma faculdade do homem, ao lado de outras como a imaginação, o entendimento ou a razão. Ao ser humano não é facultado exercer ou não a vontade; ela não apresenta caráter intencional algum. Só é pertinente falar em “liberdade da vontade”, quando se chega a encará-la enquanto afeto de mando. “Querer é mandar, mas mandar é um afeto particular (esse afeto é uma repentina explosão de força) — tenso, claro, uma coisa excluindo as outras em vista, convicção íntima da superioridade, certeza de ser obedecido — a ‘liberdade da vontade’ é o ‘sentimento de superioridade de quem manda’ em relação a quem obedece: ‘eu sou livre, é preciso que ele obedeça’7’ (XI, 25 (436». A vontade é livre, não porque pode escolher, mas porque implica um sentimento de superioridade . p. 32-33

 Atribuindo origem biológica à consciência, Nietzsche acaba por inscrevê-la no quadro das considerações fisiológicas. Com os biólogos da época, Roux e Rolph, concebe o organismo como um aglomerado de ínfimos seres vivos; a partir daí, entende que todos eles possuem consciências elementares e conclui que estas, articuladas de alguma forma, constituem a consciência do organismo. Ao contrário do que defendem a religião cristã e a chamada metafísica dogmática, sustenta que consciência e corpo não se opõem, mas acham-se intimamente ligados. Com isso, pretende operar nova inversão. Tendo em vista que, na linguagem filosófica, tradicional  mente se entende “alma” como sinônimo de “consciência”, quer então dar-se o direito de atribuir ao teimo um novo sentido: ele passa a designar apenas os seres vivos microscópicos que formam o organismo. Das forças cósmicas aos valores humanos. Scarlett Marton. São Paulo:Brasiliense, 1990, p. 173-174

2- Esse apego a fisiologia da época leva Nietzsche a encarar as pessoas como doentes como já vimos, os cristãos, Jesus, Espinosa, Rossseau , Schopenhauer e Wagner:

"20. Às vezes, o recurso precipitado à fisiologia faz de Nietzsche um crítico por demais irreverente: ele identifica Pascal como hipocondríaco, refere-se a Espinosa como tísico, suspeita que Rousseau e Schopenhauer eram doentes do coração e considera Wagner uma anomalia fisiológica (cf. respectivamente Cl, Os quatro grandes erros, § 6, GC § 349, A § 538 e CW § 7). Mas talvez seja justamente essa irreverência que o tome atraente para tantos 

Das forças cósmicas aos valores humanos. Scarlett Marton São Paulo:Brasiliense, 1990, p. 94 

 

27- O sofrimento purifica o pecado?

Por ensinar que o sofrimento purifica do pecado e e que a prática  doa ascetismo conduz o cristão à redenção no além-mundo, o cristianismo teria poder de conservar uma forma de vida décadente. Em outras palavras, o cristianismo dá um sentido a quem não suporta mais viver o sofrimento,  da vidad terrana,  pois mostra que justamente vivendo essa dor que o sofredor alcançará outra vida repleta  de recompensas. p. 165

Resposta: 

Nem um texto da bíblia diz que o sofrimento  salva o homem, como já vimos, os textos bíblicos mostram que o sofrimento faz parte da vida e Deus aqui e agora pode nos ajuda a superar cada um deles



Sl 34:17 Clamam os justos, e o SENHOR os escuta e os livra de todas as suas tribulações.
18 Perto está o SENHOR dos que têm o coração quebrantado e salva os de espírito oprimido.
19 Muitas são as aflições do justo, mas o SENHOR de todas o livra.